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artes cênicas

- Publicada em 01 de Dezembro de 2022 às 19:50

Antonio Pitanga e a arte que transforma chegam a Porto Alegre na peça Embarque Imediato

Antônio Pitanga está de volta a Porto Alegre neste domingo com a peça Embarque Imediato, junto de seu filho Rocco Pitanga e com a participação em vídeo de Camila Pitanga

Antônio Pitanga está de volta a Porto Alegre neste domingo com a peça Embarque Imediato, junto de seu filho Rocco Pitanga e com a participação em vídeo de Camila Pitanga


Caio Lírio/Divulgação/JC
Andressa Pufal Leonarczik
Aos 83 anos, com mais de seis décadas de carreira, Antônio Pitanga é um dos mais importantes nomes da cultura brasileira. Iniciou sua trajetória nos anos 1960, com o filme Bahia de Todos os Santos, de Trigueirinho Neto, de onde tirou o sobrenome Pitanga, que nomeava seu personagem no longa, mostrando que a arte e a vida do ator andam juntas desde muito tempo e os limites entre elas se tornam quase imperceptíveis. Filmes como O Pagador de Promessas, Barravento e Zuzu Angel também marcam o currículo do ator, que trabalhou com aclamados diretores como Glauber Rocha, Cacá Diegues, Rogério Sganzerla e Ruy Guerra, ícones do movimento do Cinema Novo.
Aos 83 anos, com mais de seis décadas de carreira, Antônio Pitanga é um dos mais importantes nomes da cultura brasileira. Iniciou sua trajetória nos anos 1960, com o filme Bahia de Todos os Santos, de Trigueirinho Neto, de onde tirou o sobrenome Pitanga, que nomeava seu personagem no longa, mostrando que a arte e a vida do ator andam juntas desde muito tempo e os limites entre elas se tornam quase imperceptíveis. Filmes como O Pagador de Promessas, Barravento e Zuzu Angel também marcam o currículo do ator, que trabalhou com aclamados diretores como Glauber Rocha, Cacá Diegues, Rogério Sganzerla e Ruy Guerra, ícones do movimento do Cinema Novo.
Agora, o ator desembarca na capital dos gaúchos para participar do Porto Alegre em Cena. No domingo, às 19h, Pitanga sobe ao palco do Salão de Atos da Pucrs junto de seus filhos Rocco e Camila Pitanga (em vídeo), para encenar a peça Embarque Imediato, com texto de Aldri Anunciação e direção de Márcio Meirelles. O espetáculo, que integra o Porto Alegre Em Cena, promove uma reflexão sobre a questão racial no Brasil, abordando temas que se fazem presentes no País desde a época colonial e que, hoje, estão enraizadas em forma do racismo estrutural. Na trama, um jovem doutorando negro (Rocco Pitanga) se encontra com um senhor africano (Antônio Pitanga), descendente dos Agudás (africanos escravizados no Brasil que retornaram ao país de origem após alforria quase sempre comprada). Os personagens, então, iniciam um debate sobre a diáspora forçada da população negra nos tempos da escravidão.
Celebrar os 80 anos de vida ao lado dos filhos nos palcos é para poucos. Tendo o pai como inspiração, Rocco e Camila seguiram os passos da arte e hoje têm suas carreiras bem consolidadas, sendo "bons profissionais e atores de mão cheia", segundo as palavras do próprio Antônio. "É um grande presente, um dos mais lindos que o Aldri Anunciação me deu nos meus 80 anos, escrever essa peça que promove um encontro com meus filhos e ao mesmo tempo fala sobre ancestralidade, discutindo com a plateia o que foi esse sequestro do negro trazido para o Brasil", acrescenta.
A discussão sobre a ancestralidade, o racismo e o lugar da população negra na nossa sociedade se faz cada vez mais necessária. A violência racista, que segue muito presente no Brasil dos tempos de hoje, precisa ser combatida de todas as formas possíveis. E a arte é uma delas. A cultura é uma ferramenta que humaniza, educa, que traz à tona questões escondidas por um véu branco. Usando a arte para lutar contra o racismo há mais de 60 anos, Pitanga diz que a caminhada continua longa: "a dívida que eu tinha nos anos 1940 é mesma que têm os jovens negros e negras de hoje".
Para que essa dívida não demore mais oito décadas para ser resolvida, o caminho é a educação, através de uma arte emancipadora. É conhecendo a realidade a sua volta que é possível mudá-la. De acordo com Pitanga, a cultura é a vitrine da verdade, colocando diante dos olhos desatentos o que está presente no cotidiano e, assim, permitindo escolher por qual caminho seguir: o da mudança ou o da inércia. "O ser humano emana da dança, da poesia, da música, do teatro, do cinema… A gente é esse baú de memórias: vamos acumulando conhecimento e transformando em quem nós somos."
Vindo de uma infância humilde em Salvador, Antônio dedica muito de sua vida à arte, e acredita que, através dela, pôde conhecer coisas que, talvez, nunca teria conhecido sem uma pequena ajuda. "A arte me transformou num cidadão", diz Pitanga, "Nasci no Pelourinho, venho de uma família pobre, com minha mãe empregada doméstica. Meus horizontes foram abertos através da cultura. Minha alma foi tatuada com conhecimento, com desejo de ser. Isso foi me humanizando de tal maneira que eu me tornei nesse cidadão, com carinho e com vontade."
Ainda que reconhecendo o quanto sua trajetória até aqui foi longa e importante, Pitanga garante que se sente no seu auge. "Não estou velho. Eu olho pro retrovisor e enxergo a minha caminhada, mas também olho pra vocês e digo que meu tempo é hoje. E meu alicerce é essa juventude de pretos e pretas", acentua.
 
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