Baseada em Macbeth, uma das tragédias mais conhecidas de William Shakespeare, A Peça Escocesa será encenada por dois integrantes da Cia. Teatrofídico nesta sexta-feira (4), às 20h, no Teatro de Arena (avenida Borges de Medeiros, 835 - Centro Histórico). Sob a direção de Eduardo Kraemer, os atores João Petrillo e Thuanie Cigaran irão realizar uma releitura dramática do texto considerado uma "obra amaldiçoada" do dramaturgo inglês. A entrada é franca e, ao final da apresentação, haverá um debate com o público sobre o processo de trabalho do grupo.
Propondo uma outra forma de leitura dramática - a releitura dramática, prática que atualmente está em desuso - , os artistas fazem uma adaptação da obra de Shakespeare através de uma visão estética contemporânea, onde privilegiam somente os dois protagonistas (Macbeth e Lady Macbeth).
Idealizadora do projeto, que foi contemplado em edital do Sindicato dos Bancários, Thuanie explica que a decisão por dispensar o restante dos personagens da obra se deu por motivos distintos: "A alma do texto está no diálogo deles, na ambição e na execução do assassinato de Duncan, rei da Escócia, que culmina no arrependimento de ambos e na morte de Lady Macbeth" , reflete a atriz. Ela emenda que também as questões técnicas forma considerada. "Manter todos os personagens exigiria um elenco muito grande, bem mais difícil trabalhar até por questões de agenda dos artistas."
Para suprir essa lacuna, a direção optou por utilizar projeções de imagens relacionadas ao universo dos personagens. "No mais, mantivemos o texto original, mas com roupagem atual, com a história acontecendo nos dias hoje, sem localização geográfica do país onde passa, até porque este texto é atemporal e universal", resume Thuanie.
Segundo a atriz, nesta releitura, o grupo faz uma alusão, com os diálogos do texto, ao cenário mundial, cujo cotidiano é recheado de guerras, ambição, traição, e fake news. "É a cara do mundo atual, onde, numa ambição incontrolável, todos querem mais poder, e estão dispostos a criar notícias falsas para alcançar seus objetivos. Não buscam a paz, a guerra continua, pois a ambição é maior que tudo", avalia.
Envolta em mistérios e superstições, A Peça Escocesa é considerada uma obra amaldiçoada, e há quem diga que usar seu nome traria mau agouro. Daí o eufemismo do título, já que a trama se passa no país britânico. Thuanie comenta que escolheu este texto porque tem predileção por vilãs. "Adoro interpretar mulheres fortes, e encenar Lady Macbeth era um desejo que eu tinha. Acho uma das mais fantásticas, depois de Medeia." Sobre a escolha por uma releitura dramática, a atriz comenta que se por um lado, "no geral, as leituras dramáticas são cansativas", o que levou o grupo a preferir algo mais dinâmico - e incluir cenário, figurinos, encenação, trilha sonora e luz -, por outro seria necessário mais estrutura, com elenco maior, e, portanto um custo de produção mais alto.
"Em me arrisco a dizer que temos um espetáculo pronto, porém com os atores encenando com o texto na mão em determinados momentos", explica a atriz. "É um espetáculo de teatro lido na maior parte do tempo", emenda. Esse foi um dos grandes desafios dos atores, confessa Thuanie. "Inicialmente, sentimos dificuldade de atuar com os textos na mão: é uma experiência nova e desafiadora." Para que tudo flua, a direção está investindo em um "processo bem dinâmico", pondera a artista.
Após a estreia no Arena, A Peça Escocesa contará ainda com outras duas apresentações, que ocorrem às 21h dos dias 09 e 16 de novembro, no Ocidente Bar, desta vez com venda de ingressos (a venda no site Entreatos).