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Exposições

- Publicada em 22 de Setembro de 2022 às 19:33

Mostra fotográfica Lanceiros Negros é inaugurada em Porto Alegre

Autores e retratados na exposição afirmam que projeto tem importância por contar fatos pouco abordados na história brasileira e gaúcha

Autores e retratados na exposição afirmam que projeto tem importância por contar fatos pouco abordados na história brasileira e gaúcha


Maria Eduarda Welter/JC
Maria Eduarda Welter
Um dia após a comemoração da Revolução Farroupilha, foi inaugurada no saguão da Procuradoria Regional da República da 4ª Região, em Porto Alegre, uma mostra fotográfica que lembra um grupo que muitas vezes é apagado quando se conta a história do Rio Grande do Sul: os Lanceiros Negros. Com autoria de Marcio Pimenta e intervenção gráfica de Paula Taitelbaum, a exposição traz retratos de personalidades gaúchas negras para lembrar a força e a coragem dos Lanceiros.
Um dia após a comemoração da Revolução Farroupilha, foi inaugurada no saguão da Procuradoria Regional da República da 4ª Região, em Porto Alegre, uma mostra fotográfica que lembra um grupo que muitas vezes é apagado quando se conta a história do Rio Grande do Sul: os Lanceiros Negros. Com autoria de Marcio Pimenta e intervenção gráfica de Paula Taitelbaum, a exposição traz retratos de personalidades gaúchas negras para lembrar a força e a coragem dos Lanceiros.
"Uma coisa que foi muito difícil nesse projeto é que não existia referência visual sobre os Lanceiros Negros. Eu fazia pesquisas e pesquisas e não encontrava. Até que eu vi alguns desenhos e via sempre o uso dessa faixa vermelha, que cada um de vocês carregou com muita honra", disse Marcio Pimenta na abertura da mostra. O pano vermelho, símbolo da República, está presente nos 19 retratos das personalidades gaúchas.
As fotos retratam personalidades conhecidas e pessoas comuns, que tiveram liberdade em frente às lentes para posarem da maneira que queriam. Marcio conta que o projeto levou aproximadamente seis meses para ser finalizado. "A ideia surgiu mais ou menos um ano atrás, ainda durante a pandemia, quando eu estava estudando a história do Rio Grande do Sul e me deparei com a história dos Lanceiros Negros, e fui buscar mais informações sobre isso. Até que eu vi que era muito difícil e entendi porque era difícil: não queriam que isso fosse contado", conta o fotógrafo.
A partir de uma lista com mais de cem nomes, Marcio escolheu as pessoas que acreditou estarem acessíveis e com vontade de participar da produção. As imagens foram tema de publicação da National Geographic em junho deste ano, juntamente com texto escrito pelo jornalista Juremir Machado da Silva. Para a exposição atual, Paula Taitelbaum realizou intervenções gráficas nas fotos. 
"Eu tentei fazer uma interferência que não modificasse de forma alguma a foto original e trouxesse algum significado, das lanças, das pontas, o vermelho do sangue, o branco da paz; que fosse quase uma moldura e pequenas intervenções que buscassem a ancestralidade dessas pessoas", explica Paula.
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Jornalista e assessora de diversidade da Secretaria da Cultura do RS, Clarissa Lima. Foto: Maria Eduarda Welter/JC
Uma das retratadas nas imagens, a jornalista e assessora de diversidade da Secretaria da Cultura do RS, Clarissa Lima, comenta sobre a importância do projeto no atual momento histórico. "Esse projeto veio em um momento muito importante, no qual estamos comemorando os 200 anos da Independência do Brasil, no mês dos Festejos Farroupilhas, para mostrar uma história que quase nunca foi contada, ou foi contada de uma maneira muito discreta. Que é o trabalho dos povos negros que botaram suas vidas em risco, derramaram muito sangue, para lutar também pela independência do Rio Grande do Sul", comenta Clarissa.
Outro fotografado foi o treinador Roger Machado, que aparece na imagem com o lenço vermelho amarrado no braço e uma bola nos pés. "É com muito orgulho que eu aceitei o convite do Marcio, para fazer e participar dessa sessão de fotos que fala sobre um período importante da história do Rio Grande do Sul. A gente poder estar neste momento contribuindo para ajudar a refletir sobre esse período. É a gente entender a nossa história, olhar para trás para poder continuar construindo um futuro onde todos nós possamos fazer parte desses momentos", relata Roger.
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Treinador Roger Machado. Foto: Maria Eduarda Welter/JC
Quanto à importância da exposição como resgate da memória, Marcio Pimenta diz que espera que ela esteja nas páginas de história do Rio Grande do Sul, para retratar um grupo do qual pouco se fala e, ainda mais, pouco se vê. "Faço questão que elas sejam muito usadas na educação, pública principalmente, nesse sentido ela é livre de direito, qualquer escola que queira usar essas fotografias fique à vontade. Quero dar a oportunidade de visualizarem os Lanceiros Negros", finaliza o fotógrafo.
O Procurador-Chefe da PGR da 4ª Região, Antônio Carlos Welter, destacou que a exposição das fotos de Pimenta marca a reabertura do saguão da PGR como ambiente de convívio e divulgação da cultura e da arte. "A história precisa resgatar o que ocorreu naquele dia para que possamos refletir melhor sobre os acontecimentos", afirma Welter. O projeto contou com o apoio institucional Ministério Público Federal – Procuradoria Regional da Republica da 4ª Região e da Secretaria de Estado da Cultura do Rio Grande do Sul. A mostra fica em exibição até o dia 19 de dezembro.

Quem foram os Lanceiros Negros e o que aconteceu no Massacre de Porongos?

A maior e mais longa guerra civil da história do país, também conhecida como Guerra dos Farrapos, aconteceu entre 1835 e 1845, durante o governo imperial do Brasil. Para combater as forças do império, os líderes revolucionários recrutaram negros escravos para que lutassem com a promessa da tão sonhada liberdade ao fim do conflito.
Esse grupo teve destaque durante a guerra, sendo temido pelas tropas imperiais e tendo papel central na negociação da paz. Porém, a liberdade prometida aos negros não era aceita pelo Império. Na madrugada de 14 de novembro de 1844, em Porongos - atual município de Pinheiro Machado - lanceiros e infantes negros a serviço dos farroupilhas foram dizimados por tropas imperiais. 
Mais de cem homens negros foram mortos na emboscada que ficou conhecida como Massacre de Porongos. Os cerca de 70 negros que não escaparam para quilombos ou para o Uruguai foram enviados à corte, no Rio de Janeiro, onde seguiram escravos. A maioria das evidências históricas indica que a chacina ocorreu por traição do general David Canabarro, último chefe militar dos rebelados sul-rio-grandenses, cuja república foi proclamada em 1836.
Diante da visível derrota, Canabarro teria feito um conchavo com os imperiais, indicando a Luís Alves de Lima e Silva, o Duque de Caxias, data e local para um ataque ao acampamento dos negros. O general ainda teria relativizado a proximidade de tropas inimigas e desarmado os lanceiros na véspera do ataque. O farroupilha teria alegado na ocasião, de acordo com historiadores, que a munição velha seria substituída por nova. Assim, os lanceiros se defenderam enquanto foi possível e infantes pelearam de mãos nuas.
 
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