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Música

- Publicada em 21 de Setembro de 2022 às 18:56

Com 40 anos de estrada, Ira! mostra que a chama do rock não se apaga nunca

Celebrando quatro décadas nas estradas do rock, Ira! faz show neste sábado no Auditório Araújo Vianna

Celebrando quatro décadas nas estradas do rock, Ira! faz show neste sábado no Auditório Araújo Vianna


/ANA KARINA ZARATIN/DIVULGAÇÃO/JC
Igor Natusch
Não é incomum, levando em conta a longa e cansativa estrada para quem faz música autoral no Brasil, que o tempo vá trazendo um certo abrandamento, por assim dizer. Esse não é, certamente, o caso do Ira! - que, após quatro décadas de estrada, parece determinado a mostrar que a chama roqueira arde cada vez mais forte no seu espírito, sem nenhum sinal de que vá se apagar. Parada obrigatória nessa celebração do rock e da vida, Porto Alegre recebe o show Ira! 40 Anos neste sábado, às 21h, no Auditório Araújo Vianna (avenida Osvaldo Aranha, 685). Ingressos, a partir de R$ 60,00, seguem à venda no site Uhuu. 
Não é incomum, levando em conta a longa e cansativa estrada para quem faz música autoral no Brasil, que o tempo vá trazendo um certo abrandamento, por assim dizer. Esse não é, certamente, o caso do Ira! - que, após quatro décadas de estrada, parece determinado a mostrar que a chama roqueira arde cada vez mais forte no seu espírito, sem nenhum sinal de que vá se apagar. Parada obrigatória nessa celebração do rock e da vida, Porto Alegre recebe o show Ira! 40 Anos neste sábado, às 21h, no Auditório Araújo Vianna (avenida Osvaldo Aranha, 685). Ingressos, a partir de R$ 60,00, seguem à venda no site Uhuu. 
Quem comparecer ao show pode esperar uma performance energética, vinda de uma banda que compreende o que há de extraordinário na própria existência. Novamente unidos depois de uma batalha judicial que chegou a encerrar a carreira da banda no final dos anos 2000, Nasi (vocais) e Edgard Scandurra (guitarras) contam com a presença de Johnny Boy (baixo) e Evaristo de Pádua (batera) para revisitar uma série de clássicos - Envelheço na cidade, Tarde vazia, Dias de luta, Vida passageira e Flores em você são apenas alguns exemplos - ao lado de temas do álbum mais recente, Ira (2020) e algumas surpresas.
"Uma coisa que a gente traz lá de trás, do começo da nossa trajetória, e que segue com a gente até hoje é a nossa conexão com o underground, com a música alternativa e o experimentalismo", afirma Scandurra, em entrevista ao Jornal do Comércio. "Acho que isso faz com que a gente vá além de uma banda de pop, por exemplo. Não gosto quando chamam o Ira! de uma banda pop, fico até um pouco chateado. Claro que o pop tem sua riqueza, mas sinto que é uma categoria dentro da qual a gente não encaixa. Mesmo com todo o sucesso que alcançamos, somos uma banda de rock acima de tudo", acentua.
A estrada do rock, de qualquer modo, é um tanto pedregosa e sujeita a instabilidades. A maior de todas a banda viveu a partir de 2007, quando Nasi e Scandurra romperam relações em meio a uma batalha judicial e demonstrações de hostilidade pública. Anos depois, veio a reconciliação - ainda que o evento traumático tenha deixado marcas e aprendizados.
"Uma lição que ficou, para mim, é que as coisas nunca podem ser resolvidas, entre adultos, de cabeça quente, através da agressão e do ódio", pondera Scandurra. "Faltou um pouco de cabeça fria, nem digo para que a banda não acabasse, mas para que não acabasse do jeito que acabou. Hoje, acho que a gente poderia ter parado e tirado umas férias, mas aí teve um certo oportunismo nosso de querer encaixar o sucesso do Acústico (2004) com o próximo disco autoral (Invisível DJ, de 2007). Acho que foi um grande erro. Serve de lição para sempre procurarmos agir como homens adultos, pacíficos e inteligentes, sem colocar a emoção na frente."
Outro percalço a ser superado pelo Ira! foi a pandemia, que surgiu em um momento no qual o grupo se preparava para divulgar seu disco quase-homônimo. "Infelizmente veio a pandemia, não por causa do disco, mas do País e do planeta", diz o guitarrista. "Faltou o contato com o público, faltou turnê, a divulgação com contato físico entre público e artista. Isso fez com que o disco, infelizmente, tivesse uma história mais curta. Incorporamos algumas músicas (no atual show), mas o momento agora é outro, a gente está mais nesse momento de celebrar esses 40 anos de história", acentua.
Uma celebração de quem sabe o que passou e, junto com isso, reconhece onde está e para onde deseja ir. E que ganha contornos ainda mais intensos em um momento no qual a cultura é vista com maus olhos por tanta gente no Brasil. "A gente tem que escutar essa lengalenga de Lei Rouanet, de mamar nas tetas do governo, e é muito triste ouvir isso, porque o caminho de uma banda é degrau por degrau. A gente toca para 10 pessoas, aí  toca para 100, cresce, grava um disco, começa a viajar, cai no esquecimento e tem que crescer de novo. Os músicos mudam, há contratos que não dão certo. Tudo isso é um trabalho muito intenso, e é muita sacanagem ver alguém dizendo 'acabou a mamata, agora vão ter que trabalhar'. Meu amigo, eu trabalho desde os 15 anos de idade, estou com 60 anos, então, é muito chato ouvir isso aí."
Mas quem tem história passa por cima de tudo, como o próprio Scandurra frisa logo em seguida. "A nossa história é muito forte, é muito difícil que seja derrubada por um governo fascista que apareça, ou por uma parcela da sociedade que torça o nariz para alguma letra e queira algo mais chapa branca. Nós e outros artistas temos força para superar essa ignorância, seguimos em frente porque temos história, temos lastro, temos repertório", comemora.
Uma história que tem tudo a ver com Porto Alegre, e que encontra na Capital um espaço sob medida para a celebração. "Porto Alegre é um lugar muito especial para o Ira!, até pela tradição roqueira que essa cidade tem. As rádios de rock daí às vezes tocavam nossas músicas em versão acústica, coisas que a gente gravava dentro da rádio, violão e voz, e emplacava nas rádios. Tocar aí tem sempre uma sensação boa de você estar fazendo história. Não é apenas uma data que você está preenchendo, tocar em Porto Alegre é marcar um momento histórico na cabeça das pessoas e na nossa mente também."
 
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