Claro que o auge da pandemia foi um momento muito pesado para o cenário cultural brasileiro como um todo - e talvez ainda mais difícil para a cena musical independente, que depende do circuito underground de shows e de meios alternativos de divulgação para manter a roda em movimento. Mas momentos de relativo silêncio e recolhimento também podem ser a oportunidade para a reinvenção - o que certamente foi o caso com a banda Garage Fuzz, que volta aos palcos com novo vocalista e um repertório renovado. Seis anos depois da última visita a Porto Alegre, o grupo de hardcore faz show neste domingo (31), a partir das 18h30min, no Ocidente (Av. Osvaldo Aranha, 960).
A apresentação terá abertura das bandas Punkzilla! (RS) e End of Pipe (SC). Ingressos, a partir de R$ 60,00, disponíveis pelo site Bilheto e nas lojas Back in Black (Shopping Total), Aplace (Centro Histórico), Origem Tattoo Studio (São Leopoldo) e Toda Música Instrumentos Musicais (Novo Hamburgo).
Trocas de integrantes podem ser traumáticas, em especial quando se trata de alguém que tem a função de ser a 'linha de frente' de uma banda. Para o baixista Fabricio de Souza, porém, o processo que levou à entrada de Victor Franciscon (ex-Bullet Bane) à frente dos microfones não foi especialmente penoso. "No nosso caso, não foi traumático, foi algo planejado e feito com calma", garante. A saída de Alexandre 'Farofa' Cruz da banda santista, depois de 30 anos como frontman, se deu sem atritos, a partir da decisão do cantor de mudar-se com a família para Israel. A partir daí, e com o endosso do próprio ex-vocalista para que o Garage Fuzz seguisse na ativa, o esforço passou a ser para encontrar alguém capaz de ocupar a frente do palco.
"Durante a quarentena, eu fui pesquisando alguns nomes, e o que me pareceu mais forte foi o dele. Eu percebi que precisávamos, além de um vocalista talentoso, de alguém que também tivesse representatividade na cena HC", relembra Fabrício. "O Victor tem uma história muito legal com as novas gerações do estilo. Quando voltamos a fazer os primeiros ensaios, conversei com o pessoal da banda, todos concordaram com a ideia, chamei ele e deu tudo certo."
Victor participou da composição das faixas do EP Let the Chips Fall (2021), bem recebido por público e crítica, e agora está tendo a chance de se apresentar aos fãs também no ambiente ao vivo - que é, no fim das contas, onde tudo acontece. "Está sendo muito prazeroso voltar aos palcos, poder tocar as músicas novas e se reencontrar com o público, que tem correspondido muito bem às mudanças. Queremos mais!", ri o baixista, animado. Em paralelo à retomada da rotina de shows, a banda trabalha novas músicas e planeja um álbum completo para breve.
Um momento de retomada, de celebração à vida na estrada - e também de deixar para trás, de uma vez por todas, as incertezas e percalços dos dias de quarentena. Mesmo que o Garage Fuzz tenha se mantido ativo no período de recolhimento forçado (lançando, entre outros projetos, a série de vídeos Quarantine Sessions), o retorno às atividades presenciais é comemorado por Fabrício.
"Realmente, a perseverança e a busca por novas maneiras de se trabalhar tem que ser grande (no cenário underground). As tecnologias favorecem, já que fica mais fácil compor e produzir músicas em home studio, além do fato de poder disponibilizar músicas nas plataformas e manter uma loja online vendendo merchandising da banda, tirando dessas duas maneiras alguma fonte de renda. Culturalmente falando, o Brasil realmente entrou num retrocesso, aí precisamos ter o cuidado de saber usar essas novas tecnologias de maneira saudável, ao nosso favor", pondera.
O Garage Fuzz vivenciou uma série de mudanças na cena, e segue sobrevivendo a cada uma delas. Com mais de uma dezena de lançamentos e uma longa lista de apresentações e colaborações com outros artistas, a empolgação para gravar e tocar ao vivo é mais forte do que nunca, garante Fabrício. "Acho que o caminho é nunca perder o foco artístico. A vontade de fazer música tem que vir em primeiro lugar. E, nessa hora, ser uma banda como o Garage Fuzz, que lida com o underground e mercado independente brasileiro há mais de 30 anos, facilita, pois já passamos e vimos quase tudo, em várias situações diferentes, o que nos deixou com uma casca grossa", conclui, com bom humor.