Corrigir texto

Se você encontrou algum erro nesta notícia, por favor preencha o formulário abaixo e clique em enviar. Este formulário destina-se somente à comunicação de erros.

Dança

- Publicada em 15 de Março de 2022 às 17:35

Cia. Deborah Colker apresenta espetáculo 'Cura' no Teatro do Sesi

Trabalho trata de ciência, de fé para aceitar limites, e da superação no enfrentamento da discriminação e do preconceito

Trabalho trata de ciência, de fé para aceitar limites, e da superação no enfrentamento da discriminação e do preconceito


LEO AVERSA/DIVULGAÇÃO/JC
Adriana Lampert
Após anos dedicando seu tempo em busca de uma solução para a doença genética de seu neto (epidermólise bolhosa), Deborah Colker decidiu transformar sua angústia pessoal em arte. Foi assim que nasceu Cura, o novo trabalho da companhia de dança que leva seu nome, e que terá apresentações em Porto Alegre nos dias 18 e 20 de março, no Teatro do Sesi (Assis Brasil, 8.787).
Após anos dedicando seu tempo em busca de uma solução para a doença genética de seu neto (epidermólise bolhosa), Deborah Colker decidiu transformar sua angústia pessoal em arte. Foi assim que nasceu Cura, o novo trabalho da companhia de dança que leva seu nome, e que terá apresentações em Porto Alegre nos dias 18 e 20 de março, no Teatro do Sesi (Assis Brasil, 8.787).
Na Capital gaúcha, as apresentações (que contam com com áudio-descrição para deficientes visuais) ocorrem às 21h30min do dia 18 (sexta) e às 19h do dia 20 (domingo). Os ingressos estão disponíveis na plataforma www.diskingressos.com.br e na bilheteria do Teatro Sesi (somente nos dias do espetáculo, a partir das 14h). Cura tem duração de 1h15min, sem intervalo, e a classificação etária é livre.
Tratando de temas como ciência, fé, e da luta para superar e aceitar limites, além do enfrentamento da discriminação e do preconceito, Cura é um espetáculo que vai muito além do aspecto autobiográfico. Com dramaturgia do rabino Nilton Bonder e trilha original de Carlinhos Brown, reúne um elenco de 14 bailarinos, que também cantam em hebraico e em línguas africanas. "Isso é algo que acontece pela primeira vez nos 29 anos de história da companhia", destaca a coreógrafa.
Deborah conta que bebeu de diversas fontes para trabalhar os corpos da equipe em cena e que cinco personagens inspiram a dramaturgia do espetáculo: "Theo, meu neto de 12 anos, é um deles, claro. Ele me revela que podemos nos tornar indiferentes a certas coisas, e focar no que realmente vale a pena", enfatiza. "Quando há uma urgência na vida, os valores se transformam."
As outras referências são: Obaluaiê, orixá das doenças e da cura, que, ao mesmo tempo que tem potência para transformar as feridas, carrega a raiva por ser discriminado; o cientista britânico Stephen Hawking, que, segundo a coreógrafa, representa "a ponte" entre a fé e a ciência por sua história de vida; Jesus, "que cura o mundo ocidental através do amor"; e o poeta e cantor Leonard Cohen, "que transcende e entende a dádiva da vida e a morte como a própria cura". Não à toa, uma das coreografias do espetáculo é dançada ao som de You want it darker, de Cohen. "O restante da trilha é toda do Carlinhos Brown", pondera a coreógrafa.
Concebido em 2017, antes da pandemia de Covid-19, Cura apresenta todos os recursos imunitários e humanitários: além da ciência e da fé, fala de solidariedade e da ancestralidade. "Existe algo mais ancestral e contemporâneo que a ciência?", observa Deborah. "É através da ciência que nos aproximamos da história, do homem de Neandertal e da sua relação com o homo sapiens. E também é através da ciência que se desvendam mistérios, e que se busca a cura para diversas doenças."
A coreógrafa conta que ainda foi pesquisar conteúdo sobre o tema no que dizem os árabes, os indígenas, os judeus, filosofia sufi, o candomblé, e nos salmos escritos por Davi - que pede a Deus por cura. "A gente vai entendendo que tem um momento em que você vai gritar, expelir este grito, esta luta; mas em outro você silencia. A própria ciência demanda paciência", comenta Deborah, contando que incorporou tudo isso ao espetáculo. Nele, o público pode encontrar referências das três religiões monoteístas e elementos de culturas africanas, indígenas e orientais.
Logo no início, é apresentada a história de Obaluaê, adotado por Iemajá, que o alimenta. A dança é embalada pela com música Bandagem, que em determinado momento cita: "Sou mais forte que minha dor".
A Cia. Deborah Colker estreou Cura em 6 de outubro de 2021, na Cidade das Artes, no Rio de Janeiro, e passou por nove cidades, com um total de 48 apresentações, tendo sido assistida por cerca de 50 mil pessoas. Antes disso, fez a pré-estreia online, por streaming ao vivo, em parceria com a Globo Play. "Foi super democrático, pois o sinal foi aberto, então não ficou disponível só para assinante", conta a artista. Ela avalia que foi um início "diferente e desafiador, depois de tanto sofrimento e desespero", por conta da política cultural do Brasil "estilhaçadora" somada ao contexto da pandemia. "Estava pesado, nós fomos adiando até não suportar mais."
A artista destaca que somente com o retorno do público ao presencial está sendo possível sentir o feedback de quem assiste Cura. "Percebo que cada pessoa da plateia conecta sua experiência pessoal, sua dor, sua alegria, seu luto, sua ausência, com o que vê me cena. O espetáculo não tem nada a ver com a Covid-19, mas noto que acaba sendo inevitável (essa alusão)", afirma a coreógrafa. "Aliás, a pandemia me fez ter certeza de que não era apenas da doença física que eu queria falar. A cura que eu quero não se dá com vacina", afirma.
Deborah pondera que há dores mostradas no palco, mas há esperança no final. Ela diz que procurou preservar "a alegria necessária" à vida. Um ingrediente para isso foi adicionado com a vivência que teve durante uma semana em Moçambique (África Oriental), para onde viajou com foco na preparação do espetáculo e conheceu pessoas que "não perdiam a vontade de viver", apesar das muitas dificuldades. "Fui procurar a cura e encontrei a alegria. Lá eles dançam e cantam, e celebram a vida com intensidade, de forma que cada 24h são vividas como se fosse o último dia da existência deles."
Fundador da companhia ao lado de Deborah Colker, o diretor executivo João Elias vê em Cura um passo ainda maior que o dado pela coreógrafa no trabalho anterior, Cão sem plumas (2017), baseado no poema de João Cabral de Melo Neto. "Quando começou a coreografar, Deborah era mais abstrata, formal. Depois, passou a contar histórias e a aprimorar dramaturgias", avalia. 
Companheiro de Deborah em toda a trajetória, o cenógrafo e diretor de arte Gringo Cardia é outro que destaca a importância de Cura para a artista. "Ela era toda ciência. Passou por um crescimento espiritual. Foi conversar com Deus neste espetáculo", afirma. A assinatura de Cardia está nas duas rampas que dão aos movimentos dos bailarinos a sensação de desequilíbrio e nas caixas que, entre várias funções, formam um muro. "O muro passa a imagem de um grande obstáculo, mas ele se divide em vários pedaços. Então, é possível atravessá-lo. É como a gente faz nas nossas vidas", diz o cenógrafo.
No dia em que concedeu entrevista ao Jornal do Comércio, Deborah estava embarcando para a Escócia, onde se encontraria com a equipe de um outro projeto: Ainadamar. "Este trabalho iremos estrear em setembro, na cidade de Glasgow", adianta a artista, que aceitou o desafio de dirigir uma ópera pela primeira vez. Concebida com a Scottish Opera, companhia nacional de ópera da Escócia, Ainadamar (Fonte de Lágrimas em árabe) foi composta pelo argentino Osvaldo Golijov e conta a história do poeta e dramaturgo Federico Garcia Lorca. O título é uma referência à fonte onde ele foi morto, em Granada (Espanha).
Ao falar das expectativas para o futuro, a coreógrafa grifou que, em paralelo, há muita estrada a percorrer com o espetáculo Cura. Depois de Porto Alegre, a montagem deve seguir em turnê por outros estados brasileiros, como a Bahia.
Conteúdo Publicitário
Leia também
Comentários CORRIGIR TEXTO