Corrigir texto

Se você encontrou algum erro nesta notícia, por favor preencha o formulário abaixo e clique em enviar. Este formulário destina-se somente à comunicação de erros.

Patrimônio

- Publicada em 21 de Janeiro de 2022 às 18:53

Casa Lutzenberger é reformada e reabre em março

Morada de três gerações da família Lutzenberger, casarão foi tombado há dez anos pelo Patrimônio Histórico e Cultural de Porto Alegre

Morada de três gerações da família Lutzenberger, casarão foi tombado há dez anos pelo Patrimônio Histórico e Cultural de Porto Alegre


ANDRESSA PUFAL/JC
O imóvel da sede administrativa da empresa Vida Produtos e Serviços em Desenvolvimento Ecológico, fundada pelo ambientalista José Lutzenberger em 1979, está passando por reformas e deve ter as portas reabertas no início de março. Localizado na rua Jacinto Gomes, em Porto Alegre, o casarão que foi moradia de três gerações da família do agrônomo e pioneiro do movimento ecológico está em obras há cerca de um ano.
O imóvel da sede administrativa da empresa Vida Produtos e Serviços em Desenvolvimento Ecológico, fundada pelo ambientalista José Lutzenberger em 1979, está passando por reformas e deve ter as portas reabertas no início de março. Localizado na rua Jacinto Gomes, em Porto Alegre, o casarão que foi moradia de três gerações da família do agrônomo e pioneiro do movimento ecológico está em obras há cerca de um ano.
Segundo o gerente operacional e um dos diretores da empresa Vida, Fernando Bergamin, a conclusão dos trabalhos estava prevista para dezembro, mas por conta de um arrombamento, foi preciso ampliar os serviços, recuperando estragos feitos pelos criminosos. "Os bandidos que entraram na casa quebraram janelas e a porta principal, o que atrasou nosso cronograma de entrega da manutenção do prédio, que já havia sido restaurado há 10 anos", explica. "Tivemos que mandar refazer peças de madeira, pois todas as aberturas, janelas e portas da parte antiga são originais." Segundo Bergamin, a polícia chegou a tempo de prender os responsáveis pela invasão, que estavam com "tudo preparado para levar coisas".
Construído em 1932 pelo arquiteto e artista plástico Joseph Franz Seraph Lutzenberger (também conhecido como José Lutzenberger Pai), o casarão foi tombado pelo Patrimônio Histórico e Cultural de Porto Alegre em 8 de agosto de 2012.
Antes disso, o imóvel – localizado em um terreno que conta com um jardim repleto de árvores, incluindo dois exemplares de Canafístula, espécie nativa, frondosa, e tão alta que chega a cobrir a casa de três andares – foi moradia do ambientalista José Lutzenberger até o ano de sua morte, em 2002.  
Em 90 anos de existência, o casarão só havia passado por uma reforma de restauro, ocorrida em 2011 e 2012, e assinada pelo arquiteto Flávio Kiefer (um dos autores da remodelação interna da Casa de Cultura Mario Quintana). Kiefer conta que deu continuidade ao projeto original do casarão na Jacinto Gomes. "Foi uma coautoria, com um toque contemporâneo, pois para vir a ser a sede de uma empresa, precisava acessibilidade, elevador e um funcionamento diferente, com climatização e outros confortos", explica.
Idealizada pelo ambientalista, a Vida oferece consultoria e serviços de reciclagem. Trata, por exemplo, os resíduos industriais da fábrica de celulose da CMPC, em Guaíba.

Imóvel foi projetado por arquiteto com grandes obras em Porto Alegre

No ano que marca duas décadas de falecimento do ambientalista José Lutzenberger, as filhas do ambientalista, Lara e Lili Lutzenberger, devem voltar ao casarão para seguir com o trabalho na empresa Vida, que, paralelamente tocam também em ações desenvolvidas pela ONG Fundação Gaia, criada ali pelo ecologista em 1987.
"A sede da Vida foi uma das primeiras casas a serem construídas na Jacinto Gomes, que antes se chamava rua Dona Tereza", destaca o diretor da Vida, Fernando Bergamin, que também é engenheiro agrônomo. "Para se ter uma ideia de como esta parte da cidade mudou, na década de 1940, as crianças pulavam as cercas das chácaras que haviam ali por volta, para ir pescar no Arroio Dilúvio, que era muito bonito antes de ser canalizado", comenta Bergamin.
"Manter a casa erguida e bem preservada é manter o espaço da minha infância, que é também o reduto de onde partiu a militância ambiental do meu pai e é o testemunho mais genuíno do legado arquitetônico de meu avô paterno", comenta Lara.
Imigrante alemão, "Lutzenberger Pai" assinou projetos de outras várias casas e prédios icônicos na Capital, a exemplo da sede do Pão dos Pobres, da Igreja São José, e do Palácio do Comércio. Em Porto Alegre, conheceu a futura esposa, com quem casou, e se radicou no País. Foi então que comprou dois terrenos, onde construiu o sobrado da família e manteve o jardim, que na verdade é pode ser chamado de "pequeno bosque" em meio à urbe.
"Quando Lutz faleceu a casa ficou cerca de 10 anos sem morador fixo, porque as filhas tinham suas residências. Foi somente em 2011, que elas resolveram fazer uma reforma geral da casa para servir de sede da Vida", conta o diretor da empresa. "Lara e Lili procuraram então a prefeitura, para solicitar o tombamento e garantir que no restauro fosse mantido o projeto assinado pelo avô".
Com a pandemia, a equipe que trabalha na sede da Vida migrou para o home office. "Aproveitamos que o prédio ficou vaziou para fazer obras de manutenção, porque já tínhamos a necessidade de fazer uma pintura interna na casa. Além disso, a fachada é muito antiga, e estava apresentando sinais de deterioração", explica o diretor da empresa.
Quem está tocando os trabalhos é a Engtech, responsável não só pela recuperação da fachada (que iniciou com uma limpeza feita por jateamento de água, seguida de restauro de trincas e rachaduras), como também pela recuperação de janelas antigas (que foram retiradas, lixadas e pintadas) e restauração das esquadrias do imóvel. "Foi um investimento de cerca de R$ 250 mil", calcula Bergamin.
Segundo Lara, a obra também ficou alguns meses parada por conta das restrições decretadas para conter o avanço do novo coronavírus, que dificultaram o trabalho de fornecedores e empreiteiros. "E agora estamos fazendo esses novos serviços de recuperação e adequações para proteger-nos do vandalismo."
Neste sentido, outra medida foi tomada para melhorar a segurança da casa. "Notamos uma fragilidade na altura do portão principal (que agora aumenta e passa um pouco mais para frente) e nas grades da frente (que estão sendo reforçadas no prédio anexo)", comenta o diretor da empresa. "Esperamos que até o final de fevereiro, esteja tudo pronto para remover os tapumes e reabrir o prédio em março, para voltarmos ao trabalho presencial, se a pandemia permitir."
Pesquisadora da vida de Lutzenberger, a professora de História e idealizadora do Canal Lutz Global no YouTube, Elenita Malta Pereira, observa a importância do tombamento e preservação do imóvel. "A casa guarda uma história importante, não só do modelo de arquitetura (Art déco, pré-moderno), mas também da trajetória do ambientalismo, uma vez que ali foram realizadas muitas reuniões em torno de questões importantes para a luta de Lutz, que foi reconhecido nacional e internacionalmente por isso."