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literatura

- Publicada em 26 de Setembro de 2021 às 19:36

Poeta gaúcho lança livro com Monja Coen baseado na força das palavras

Encontro da simplicidade da religiosa com sinceridade de Allan Dias Castro marca obra 'A monja e o poeta'

Encontro da simplicidade da religiosa com sinceridade de Allan Dias Castro marca obra 'A monja e o poeta'


ANDRÉ GENZO SPINOLA/LEO AVERSA/DIVULGAÇÃO/JC
Mãos em prece. Assim, Monja Coen finaliza seus textos e suas apresentações. Com "Só agradeço", o poeta gaúcho Allan Dias Castro encerrou esta entrevista para falar do lançamento de A monja e o poeta (Sextante, 192 págs., R$ 39,90). Talvez o leitor expresse a mesma gratidão, ao aceitar esta dica de leitura da reportagem.
Mãos em prece. Assim, Monja Coen finaliza seus textos e suas apresentações. Com "Só agradeço", o poeta gaúcho Allan Dias Castro encerrou esta entrevista para falar do lançamento de A monja e o poeta (Sextante, 192 págs., R$ 39,90). Talvez o leitor expresse a mesma gratidão, ao aceitar esta dica de leitura da reportagem.
A editora dos best-sellers colocou no mercado livreiro recentemente este título que tem tudo para ser mais um arrasa-prateleiras. A iniciativa não apenas reúne dois autores de sucesso: a carismática Monja zen-budista brasileira, fundadora da Comunidade Zendo Brasil e sensação das livrarias, e o compositor responsável pelo projeto de poesia falada na internet Voz ao verbo, que, lançado em livro pela Sextante, entrou na lista de mais vendidos de diversos veículos. A receita da publicação ainda traz como tema norteador dos textos sentimentos que ficaram exacerbados durante a pandemia (como mudança, medo, raiva, perdão, resiliência, ego, felicidade).
Nesse período, o pai de Allan - que era fã da Monja - faleceu. "Tenho uma lembrança dele falando em um vídeo, assim que Voz ao verbo chegou às livrarias. Estava filmando para me mostrar que o lançamento já estava disponível em Porto Alegre, e falou assim: 'Olha lá, filho! Teu livro aqui na prateleira, embaixo do da Monja'. Então, além do privilégio de assinar uma obra com a Monja Coen, esse novo título já me deixa feliz só por imaginar a alegria que meu pai estaria em ver essa capa em que estou frente a frente com ela", conta o gaúcho. Ele complementa que assinar junto é algo que exige mais tempo e envolvimento: "Como consequência de ter tido uma troca mais frequente com a Monja Coen, aprendi muito no processo de criação da obra. Nos momentos em que me senti intimidado pela sua experiência de vida, lembrei de não comparar trajetórias e focar no que faço, que é poesia. Assim, consegui manter minha identidade dentro da parceria e mergulhei na oportunidade de contar histórias ao lado de alguém que admiro".
Antes deste lançamento, o poeta já estava fazendo diferença na vida de fãs e leitores, com o sucesso na internet, como best-seller e também como palestrante. Porém, a pandemia - o período das perdas e incertezas - aflorou nos indivíduos buscas espirituais e sentimentais, atrás do bem-estar mental. Allan afirma, já na apresentação da obra, que a publicação tinha a intenção de ser um abraço após o medo, de oferecer calmaria em meio à tempestade, de convidar a um mergulho profundo para se sentir vivo. "Acredito na força das palavras, tanto que inicio o primeiro capítulo afirmando que 'livros salvam vidas'. Mas penso que não há como levar alguém que não esteja disposto a fazer essa travessia, por isso, digo que não há fórmulas ou receitas para a felicidade. Isso seria acreditar que as pessoas reagem da mesma forma aos sentimentos, e não é verdade. Se o leitor já está com o livro na mão é sinal que está buscando algo, e essa procura já é um grande passo. Por isso, o objetivo é nos encontrarmos no caminho."
O autor diz ficar muito feliz em saber que a obra, de fato, está tendo esse efeito de transformação. Ele relata que havia o receio de como a parceria seria recebida, mas que os retornos até agora superaram qualquer expectativa, o que lhe deixa realizado. "O sentimento é de, a cada mensagem e comentário, estar recebendo o abraço que oferecemos através das páginas do livro. Este realmente tem sido meu desejo há algum tempo, mas acabou sendo consequência do intuito de oferecer o que também preciso. Se o livro tivesse sido escrito com o objetivo de fazer algo porque o momento pedia, certamente não teria o mesmo impacto. Durante o processo de criação, posso dizer que o livro me levou da tempestade à calmaria, e é essa trajetória que ofereço. Neste período, perdi meu pai, e, meses depois, me tornei pai, ou seja, vivi na pele as perdas e incertezas. Ter dividido nos textos como atravessei o luto, e outras tantas passagens bem pessoais, foi o que me ajudou a focar em continuidade."
Nascido em Frederico Westphalen e criado em Passo Fundo, Allan foi morar na Capital com 15 anos. "Já nessa fase a paixão pela música me introduziu à escrita. Desde cedo, escrevo letras de música, que foi um dos motivos que me trouxe ao Rio de Janeiro anos depois." Antes, começou faculdade de Direito, deixando o sonho dormindo na gaveta: "Só faltava um carimbo de 'arquivado'. A publicidade foi uma alternativa para aliar a ideia de ter um diploma com satisfação profissional. Durou pouco tempo, pois o foco no autoral e a vontade de dividir o que escrevo foram se intensificando a ponto de não acreditar que esse papo de sonho é um bastão de frustrações que se passa de geração em geração. Quando saí do meu emprego em uma agência de publicidade, resolvi dar vazão total à escrita e fui estudar na Escola de Escritores de Barcelona". De volta ao Brasil, Porto Alegre não era mais uma rotina viável, e o autor foi buscar possibilidades na capital artística do País.
Sobre o título do livro, o poeta esclarece que foi uma sugestão da editora: "A Sextante foi a responsável pela tradução do clássico O monge e o executivo (2004, data de lançamento no Brasil). Quando apresentei a ideia do meu livro com a Monja Coen, foi inevitável a referência. Gostei muito, pois é a maneira com que muitas pessoas se referem a mim na rua: 'Você é o poeta dos vídeos, certo?'. E o mais interessante é que essa era a forma que sempre quis ser reconhecido lá atrás, ainda insatisfeito por estar anulando minha poesia. Então, quem sabe seja mais um ciclo que se inicia após o velho sonho estar, definitivamente, estampado na capa. Só agradeço".

"Está aí a liberdade da poesia: servir de espelho para quem a lê"

Poeta gaúcho Allan Dias Castro é autor de livro em parceria com Monja Coen

Poeta gaúcho Allan Dias Castro é autor de livro em parceria com Monja Coen


LEO AVERSA/DIVULGAÇÃO/JC
Poeta, escritor e compositor, Allan Dias Castro lançou seu primeiro livro, O Zé-Ninguém (Ibis Libris), em 2014. Em 2019, publicou pela Sextante Voz ao verbo, que entrou na lista de mais vendidos da Veja e do jornal O Globo. O segundo título teve origem no projeto homônimo de poesia falada na internet, cujos vídeos geraram enorme identificação com o público e ultrapassaram a marca de 100 milhões de visualizações nas redes sociais.
Um ano antes de fazer a pós em Escrita Criativa na Espanha, ele havia conhecido o país e saiu de lá pensando em voltar. "Quando descobri esse curso de Escrita Criativa, não pensei muito, só fui. E foi um período transformador. Quando voltei para Porto Alegre já não seria possível retornar à antiga rotina", explica.
Foi quando ele resolveu botar seus textos, letras e sonhos na mochila e ir ao Rio de Janeiro para tentar ampliar as possibilidades. "Em 2010, cheguei no Rio, vendi meu carro, ganhei um respiro para me manter e fiquei na casa de amigos, morando de favor por um bom tempo. Eu tinha apenas um sofá que não era meu, como sempre brinco, mas a sensação de liberdade por finalmente ter tido a coragem de tentar foi motivadora." Aos poucos, Allan foi conseguindo mostrar seu trabalho.
Anos se passaram, teve suas letras musicadas por grandes nomes e foi ganhando confiança para lançar o primeiro livro. "Já na minha estreia literária, pude contar com a sorte de ter a generosidade dos grandes, pois a apresentação foi feita pelo mestre Luis Fernando Verissimo."
Segundo o autor, outro grande pulo na carreira foi ter saído de trás da caneta e começado a interpretar seus textos e poemas em saraus de poesia, e também em vídeos para a internet. "Ser o intérprete do que escrevo é uma liberdade e realização enorme, pois tive que vencer questões pessoais como timidez e medo de me expor. A cada poema, a alegria de escrever o que sinto e falar o que escrevo foi sendo maior que o medo. Assim nasceu meu segundo livro, Voz ao verbo, fruto dos textos que escrevi para declamar nos vídeos. Tanto os vídeos quanto o livro tiveram um alcance inimaginável para aquele 'guri' que largou a faculdade de Direito ainda bem desacreditado", reflete.
O terceiro livro, A monja e o poeta, conforme ele, já chega em um outro momento da sua vida, "onde finalmente posso agradecer por estar vivendo o sonho que não abandonei. Nesse tempo todo, minha família foi minha base e porto seguro, mesmo a distância. Não vejo a hora de voltar para Porto Alegre, onde sempre passo o final do ano, para comemorar muito ao lado dos meus familiares a recepção que esse novo livro está tendo. Transbordaremos juntos. Visitar o Sul é sempre uma sensação de voltar pra casa. Não tem como abandonar, é um eterno até breve".
Confira a seguir o restante da entrevista com o poeta.
JC - Uma palavra muito direcionada por ti à Monja é "simplicidade". No livro, em relação a ti, a palavra que se sobrepõe é "sinceridade". Podes tentar interpretar isso?
Allan Dias Castro - Não foi intencional, mas faz muito sentindo pensando agora. Eu acredito que a beleza é subjetiva, mas a sinceridade é pontual. Posso não gostar de um livro, por exemplo, mas quando um texto é real, vai me tocar de alguma maneira. Por isso, a minha busca não é agradar, é ser verdadeiro. Muitas vezes, a maneira com que o poema será recebido não vai ser nem da mesma forma que imaginei enquanto escrevia, mas está aí a liberdade da poesia: servir de espelho para quem a lê. E quanto mais pessoal for um texto, o que considero parâmetro para grau de sinceridade, maior será a identificação do leitor, por mais contraditório que pareça. É o que chamo de pontos de encontro: quando tiro a armadura de defesa que a gente aprendeu a usar, e mostro que tem um ser humano aqui do outro lado, com medos, sonhos e alegrias, acabo encontrando outros seres humanos através dos sentimentos. O caminho para esse encontro, no meu ponto de vista, é, sim, a sinceridade.
JC - Nas palavras, percebemos que a aventura deu muito certo, obrigada. Como estão hoje as outras facetas de artista (músico/compositor)?
Allan - Realmente as palavras têm me trazido muitas alegrias e boas surpresas. O fato é que a visibilidade que esse foco na escrita me gerou acabou refletindo nas outras áreas. A música e as parcerias são algo que me dão muito prazer, pois trazem a possibilidade de levar meus textos até a vida das pessoas de uma outra forma. Sem dúvida, o fato de ter encontrado minha voz compartilhando meus poemas facilitou demais o processo de me sentir à vontade sugerindo palavras para outras vozes. Tenho tido aproximação de artistas que admiro muito, sempre com o intuito de criar parcerias. Certamente até o ano que vem nascerão músicas novas. Também o Reverb, meu projeto de música e poesia em parceria com o músico Tiago Corrêa, deverá voltar aos palcos quando nos sentirmos à vontade para chamar o público e dividir a emoção do presencial.
JC - E no mercado editorial, quais são os próximos projetos? Ser pai da Serena imprimiu algo novo nos teus versos? Ela traz inspiração diferente?
Allan - Então vamos de spoiler: a chegada da minha filha Serena será o tema do meu próximo livro. Ela nasceu em casa, não por escolha, mas por não ter dado tempo de chegar ao hospital. Só essa vivência de ter ajudado no parto e a recebido nos meus braços já daria um livro. A busca por ser um pai presente, sem ter a presença do meu, também terá um capítulo (ou vários) especial nessa jornada. Sua pergunta vai no ponto exato, a inspiração é diferente. Me sinto muito mais aberto à afetividade, como se a chegada da minha filha fosse um portal onde, além de receber um amor inexplicável, me sinto mais à vontade para dividi-lo. A Serena intensificou um processo de anos onde venho tentando desentalar os "eu te amo" da garganta, falar o simples, o que parece muitas vezes desnecessário, mas é tão importante para os relacionamentos mais próximos.
Quando a gente não fala o que sente por achar que vai dizer o óbvio, pode estar perdendo uma chance de dizer exatamente o que o outro precisava ouvir. A percepção da finitude, não como ameaça, mas como uma oportunidade, fica clara com a chegada de uma nova vida. Estar vivo é um privilégio e minha filha me lembra disso a cada sorriso, a cada abraço, todos os dias. Mas, por enquanto, quero comemorar demais o lançamento de A monja e o poeta. Esse livro foi também muito desejado, e é muito bom ver algo que a gente sonhou sair do papel e ganhar vida. É importante seguir olhando pra frente, mas aprendi que pontuar as conquistas é fundamental. Temos muito trabalho, divulgação e, claro, bastante comemoração antes de partirmos para o próximo.
JC - Queria saber se a escolha do nome "Serena" para a neném vem nessa vibe do livro – a calmaria na tempestade, mergulho na vida...?
Allan - Fico muito feliz que você tenha identificado essa vibe no livro. É o que tenho buscado para minha vida, acaba refletindo no trabalho. Eu tenho um poema onde falo assim: "Seu nome, filha, vem de uma das características da sua mãe que eu mais admiro - Serena". A Ana, minha esposa, tem essa vibe naturalmente. Acabou sendo uma homenagem também ao meu pai, que até o fim da vida seguiu firme a caminho da serenidade, como ele falava. Ele não conheceu minha filha, mas soube da escolha do nome, ou seja, foi como se a busca chegasse ao fim através desse recomeço. Já que a vida é um ciclo, fez todo sentido pra gente.