Corrigir texto

Se você encontrou algum erro nesta notícia, por favor preencha o formulário abaixo e clique em enviar. Este formulário destina-se somente à comunicação de erros.

Cultura

- Publicada em 23 de Agosto de 2021 às 19:51

Longa da diretora Iuli Gerbase, 'A nuvem rosa' estreia nesta quinta-feira

Obra é uma poderosa observação sobre homens - e especialmente mulheres - em isolamento

Obra é uma poderosa observação sobre homens - e especialmente mulheres - em isolamento


PRANA FILMES/DIVULGAÇÃO/JC
Igor Natusch
Trabalhos artísticos do passado que, em diferentes aspectos, parecem tratar diretamente de coisas que vivenciamos muitas décadas depois não são exatamente uma novidade. No entanto, a questão que o filme A nuvem rosa traz chega a ser ainda mais profunda: será possível produzir uma observação aguda, incômoda e pertinente sobre acontecimentos que só se dariam anos depois?
Trabalhos artísticos do passado que, em diferentes aspectos, parecem tratar diretamente de coisas que vivenciamos muitas décadas depois não são exatamente uma novidade. No entanto, a questão que o filme A nuvem rosa traz chega a ser ainda mais profunda: será possível produzir uma observação aguda, incômoda e pertinente sobre acontecimentos que só se dariam anos depois?
Porque o longa de Iuli Gerbase, que estreia nas capitais São Paulo, Rio de Janeiro e Porto Alegre nesta quinta-feira (26), não foi concebido para falar sobre a pandemia do novo coronavírus - mas, mesmo assim, acaba sendo uma poderosa alegoria sobre o que se vive (e o que se deixa de viver) entre paredes, nesse distanciamento que se pensava breve e que, em mais de um sentido, parece não ter mais fim.
Ao invés de um vírus mortal, o que prende as pessoas em suas casas é uma nuvem inexplicável e tóxica, capaz de matar no prazo de dez segundos. Giovana (Renata de Lélis) vê-se trancada em seu apartamento com Yago (Eduardo Mendonça), um homem com quem havia passado a noite após se conhecerem em uma festa.
Sem perspectivas de retomar a vida anterior, os dois quase desconhecidos precisam aprender a conviver enquanto as semanas viram meses. O que para Yago vai se transformando em uma realidade agradável e quase idílica, ganha para Giovana contornos cada vez mais sufocantes, forçando-a a uma existência profundamente distante do que ela desejava para si mesma. Tudo sob a presença onipresente de uma nuvem ao mesmo tempo bela e opressiva - que impõe, às mulheres em cena, vidas das quais não há como se esquivar.
O roteiro de A nuvem rosa surgiu entre 2016 e 2017, como trabalho final no mestrado de Iuli Gerbase em Escrita Criativa da Pucrs. Naquele momento, a meta era trabalhar uma história com poucos personagens, a partir das limitações impostas pelo confinamento em um único ambiente. "Foi assim que tive a ideia do casal que recém se conheceu, mas que precisa conviver um tempão no mesmo lugar, sem poder sair. Não queria uma coisa muito realista, uma guerra ou algo assim - e, quando veio a ideia da nuvem rosa, essa coisa surrealista, meio poética, com uma cor associada ao feminino, me pareceu um pretexto perfeito para o que eu queria", relembra Iuli.
Em março do ano passado, quando a Covid-19 se tornou realidade em nosso País, o filme já estava avançado na edição. A única alteração feita em resposta à pandemia foi transformar a nuvem opressiva, que antes estaria apenas sobre o Brasil, em um fenômeno mundial; fora isso, a conexão com a nova realidade era tamanha que simplesmente não havia o que mudar.
"No início, quando achávamos que (a pandemia) ia durar dois ou três meses, eu e o pessoal da equipe até fazíamos piada: 'Estamos preparados, o filme foi o nosso ensaio'. Mas, quando vimos que ia durar mais de um ano, ficamos ansiosos como todo mundo, e as mensagens viraram algo tipo: 'Viu só isso que aconteceu, igual ao nosso filme, que loucura'. Eu fiquei até nervosa, pensando 'Agora não vão mais achar que o filme é criativo, porque tudo está virando realidade'", admite a diretora.
Quanto a isso, Iuli Gerbase não precisa se preocupar. Após uma prestigiosa estreia mundial no festival de Sundance, nos Estados Unidos, A nuvem rosa vem recebendo boas críticas em diferentes partes do mundo - o site Rotten Tomatoes, um dos mais importantes espaços sobre cinema na web, dá 100% de aprovação ao filme, somando diferentes críticas. No Festival Sofia (Bulgária), recebeu o prêmio de Melhor Filme; e no Festival de Munique (Alemanha), Menção Honrosa.
Reconhecimento justo para um longa que, mais do que uma mera história sobre isolamento, segue falando - às vezes com drama, não raro com humor, mas sempre de forma aguda - de um mundo que impõe às mulheres papéis e destinos que são, eles mesmos, prisões. "Fiquei feliz ao ver que, logo depois de Sundance, saíram várias críticas que pegaram esse lado do feminino", anima-se a diretora. "Seja como for, para o bem e para o mal, as pessoas vão se ver muito no filme. Várias pessoas já vieram me dizer que foi bom ver o filme para processar algumas emoções, casais que se identificaram com conflitos que aparecem na tela. O lado não tão bom é que as pessoas podem se focar demais nisso e não pensar tanto em outros significados da nuvem rosa. Mas faz parte, a gente não controla a percepção das pessoas."
Curiosamente, a boa repercussão de A nuvem rosa parece estar impondo, à própria Iuli, um papel que não encaixa perfeitamente com o que ela almeja para si. "Acho engraçado que surgiram algumas matérias falando sobre a 'diretora de ficção científica', ou 'a diretora de thriller', e eu ficava 'Ah, estão falando de mim?'", ri. Seja como for, a diretora já prepara projetos futuros para cinema e televisão - que não se propõem à quase clarividência de A nuvem rosa, mas também devem causar estranhamento a partir de um certo realismo fantástico.
"Nunca me vi como diretora de ficção científica, mas estou envolvida com trabalhos que vão continuar explorando esse elemento", revela. "Uma das referências enquanto eu escrevia A nuvem rosa foi o Melancolia, de Lars Von Trier, e bem, é ficção científica? Até é, porque há a coisa toda dos planetas se aproximando - mas, ao mesmo tempo, é um filme sobre depressão, sobre duas irmãs. Não me vejo mexendo nessas coisas como típico sci-fi ou fantasia, mas como um elemento estranho para bagunçar a vida dos personagens e ver como reagem a isso."
No Cine Farol Santander (Sete de Setembro, 1.028, no Centro de Porto Alegre), o público também poderá participar de uma sessão comentada com a presença da diretora, no sábado (28), às 17h30min, com ingressos a R$ 12,00 pelo Sympla.
O título entra na programação do Telecine em 2 de setembro, com lançamento simultâneo pelo selo Première Telecine no streaming do Telecine e no canal Telecine Premium, com exibição às 20h. A plataforma oferece 30 dias grátis para novos assinantes.
Conteúdo Publicitário
Leia também
Comentários CORRIGIR TEXTO