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Cultura

- Publicada em 16 de Agosto de 2021 às 21:57

Projeto Espaçonave, da Cia.Teatrofídico, será atração semanal do Bar Ocidente

O show musical teatralizado de Valéria Barcellos, dirigido por Renato Del Campão, marca a estreia do evento

O show musical teatralizado de Valéria Barcellos, dirigido por Renato Del Campão, marca a estreia do evento


Silas Lima - Divulgação/JC
Adriana Lampert
Em meio à retomada de eventos presenciais do Bar Ocidente, iniciada em agosto, uma nova atração cultural pensada especialmente para a ocupação da casa noturna alternativa, localizada no bairro Bom Fim, reunirá personalidades do teatro, da música e da performance. Criação da Cia.Teatrofídico, o projeto Espaçonave (cuja primeira edição ocorreu no Largo da Epatur, em 2001, como ponto de encontro do Porto Alegre em Cena) promete novamente ser uma experiência sensorial, que poderá ser prestigiada pelo público todas às sextas-feiras, a partir de 03 de setembro. 
Em meio à retomada de eventos presenciais do Bar Ocidente, iniciada em agosto, uma nova atração cultural pensada especialmente para a ocupação da casa noturna alternativa, localizada no bairro Bom Fim, reunirá personalidades do teatro, da música e da performance. Criação da Cia.Teatrofídico, o projeto Espaçonave (cuja primeira edição ocorreu no Largo da Epatur, em 2001, como ponto de encontro do Porto Alegre em Cena) promete novamente ser uma experiência sensorial, que poderá ser prestigiada pelo público todas às sextas-feiras, a partir de 03 de setembro. 
Idealizado pelos artistas Eduardo Kraemer e Renato Del Campão, o evento irá, em um primeiro momento, reunir ícones da cena LGBTQIA+ de Porto Alegre - tais como o ator Heinz Limaverde (com o espetáculo Gordura Trans), e os cantores Daniel Debiagi (que levará o show Para todo mal: a cura) e Madblush (cuja performance brinca com os estereótipos de feminino e masculino) e a atriz e cantora Valéria Barcellos. Mulher trans, negra e multiartista, esta última dá início aos trabalhos na noite estreia do projeto (03/09, às 21h), com o espetáculo musical Maremoto, sob a direção de Del Campão, e acompanhada de Rafael Erê (violão) e Mestra Alexsandra (percussão).
O trabalho é inspirado no livro O Marinheiro, escrito em 1913 por Fernando Pessoa e reeditado em 1915 como texto teatral. Diferindo da obra dos heterônimos do poeta português, a história gira em torno de um velório de uma mulher anônima, vigiada por outras três, próximo a uma praia não identificada, em um tempo indeterminado e sem maiores informações que as revelem ou a relação entre as personagens. Em cena no Ocidente, Valéria Barcellos irá apresentar um repertório de músicas que falam de mar, saudades, paixão, abandono, entre outros temas que reforçam o imaginário de Pessoa e o lado sombrio do físico e da alma, além de interpretar uma espécie de espectro desta personagem morta.
Neste contexto, ainda serão projetadas imagens retiradas do espetáculo virtual O Marinheiro, da Cia. Teatrofídico, gravado em setembro do ano passado, com adaptação de texto e direção assinadas por Del Campão, e com atuações dele e dos atores Jairo Klein, João Petrillo e Valéria. Transformado em vídeo-arte editado por Silas Lima, o trabalho chama a atenção pelos frames que priorizam apenas partes dos corpos, impossibilitando o expectador de ter certeza do que se apresenta: se o indivíduo filmado é ou não a mulher morta.
O diretor explica que também a encenação de Valéria no Ocidente ocorrerá de "uma maneira desconstruída", que vai ao encontro do que propõe a narrativa do livro de Pessoa. "O texto original passa a ideia de um corpo se desprendendo, que está no exato momento desta transição entre a morte e a redenção, uma espécie de vai não vai", resume.
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Primeiro espetáculo do evento, Maremoto contará com projeções de vídeo-arte, com atuações de Renato Del Campão, Jairo Klein, João Petrillo e Valéria Barcelos. Foto: Silas Lima.  
Del Campão observa que a peça inicialmente era estática, e ocorria em ato único, com as figuras diante do corpo, em uma atmosfera de realismo fantástico. Ao destacar o simbolismo da história dramática de Pessoa que se tornou o pano de fundo de Maremoto, o diretor do espetáculo - que ele define como "show musical teatralizado" - ressalta que o texto agora é apenas referência à encenação, que utiliza-se do onírico para reforçar atemporalidade e nenhum vestígio de identidade. "No projeto original, tínhamos a Valéria cantando umas quatro músicas dentro da peça, mas invertemos esta lógica especialmente para as apresentações no Ocidente, e o texto se tornou secundário."
O diretor pondera ainda que apesar do contexto de pandemia de Covid-19, o objetivo do trabalho não é falar sobre a morte, mas sim do renascimento "como parte da evolução humana, ou como um trampolim para outro lugar." Del Campão pontua que há outros elementos no pano de fundo do espetáculo, que, em um determinado momento apresenta uma fala que lembra o cenário brasileiro contemporâneo: "todo esse país é muito triste". "Infelizmente, neste momento estamos inseridos em um país triste, com o negacionismo diário da pandemia, e com o desmonte do setor cultural, só para citar dois exemplos", afirma Del Campão.
"Isso nos remete à época em que fiz minha primeira performance (Terror no Ocidente, do grupo Balaio de Gatos), no Bar Ocidente em 1980, em plena ditadura militar", continua o artista. "Naquela época, quase não havia salas de teatro em Porto Alegre, e os poucos locais - como o Arena, o Clube de Cultura, e a Terreira da Tribo - eram símbolos de resistência", comenta. "Hoje em dia, a Capital novamente está sem espaços para apresentações, independente do contexto da pandemia, e o Bar Ocidente é um lugar de acolhimento e resistência", valoriza Del Campão.
"Sabemos o contexto histórico é diferente, embora o atual presidente queira forçar o contrário, temos liberdade e vivemos em uma democracia - e é por ela que seguimos lutando", pondera Kraemer.  Responsável pela produção, iluminação e direção geral do Espaçonave, ele afirma que o projeto irá reunir uma diversidade de nomes das artes cênicas até o final do ano. "Eu tô me sentindo começando de novo. Estamos nervosos no bom sentido, preocupados que as pessoas se cuidem, e respeitem todos os protocolos para que não se corra riscos", comenta Kraemer. "Queremos propiciar diversão para o público, e viabilizar trabalho para outros artistas que, como nós, ficaram prejudicados por ter as atividades presenciais suspensas por mais de um ano e meio."
Kramer destaca que Maremoto terá sessões presenciais também nos dias 10 e 17 de setembro, sempre às 21h. Durante o espetáculo, as pessoas devem permanecer sentadas em mesas, que estarão dispostas com dois metros de distância; e no caso de circularem pelo ambiente, deverão usar máscara. As janelas permanecerão abertas e haverá um plástico dividindo o palco da plateia, para que Valéria possa cantar. 
Antes e depois do show, Del Campão também irá entrar em cena, com um dos personagens criados por ele e que foi interpretado no espetáculo Viva a Gorda (que marcou a história do Ocidente no final da década de 1980). "É o colunista e jurado mal-humorado Nato Campão que será mestre de cerimônia das atrações do projeto", revela o ator. O evento tem assistência de produção de Cikuta Castanheiro, e os ingressos podem ser adquiridos no site www.entreatosdivulga.com.br.
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