“Ontem, foi a primeira vez que meus primos e primas assistiram à exibição de um filme meu no Brasil. Só tenho isso a dizer.” No final da manhã desta segunda-feira (21), a frase do diretor Felipe Bragança, de Um animal amarelo, título da mostra competitiva de longas brasileiros do 48º Festival de Cinema de Gramado, emocionou a equipe por trás das câmeras durante o debate dos filmes exibidos na noite de domingo (20), conduzido pelo jornalista e crítico de cinema Roger Lerina. A declaração do realizador traduz um dos motivos que impulsionaram a organização do evento durante os meses que antecederam o início do festival.
Apesar de todos os reveses causados pela pandemia que modificou o mundo, a certeza de que o Festival de Cinema de Gramado chegaria a um número muito maior de pessoas espalhadas por diferentes lugares foi ideia presente durante todo o processo. Bragança foi questionado sobre se a exibição do filme na TV, e não no cinema, prejudicaria a experiência do espectador. “Acho que modifica a experiência, não é uma questão de prejudicar. Foi curioso porque já passei filmes em diversos festivais, já tive filmes em cartaz, já estive em festivais muito grandes... E ontem aconteceu uma coisa muito curiosa, que não significa uma conclusão, mas foi uma sensação muito bonita. Eu cresci no Centro do Rio, mas sou de família periférica, minha família é toda da Baixada Fluminense", explicou o diretor e roteirista sobre o fato de os parentes não terem conseguido antes ter visto um filme dele. "E não sei como digiro isso para frente", completou, emocionado.
A atriz Sophie Charlotte, que integra o elenco do longa Um animal amarelo, continuou a ideia. “Eu ia dizer isso, é lindo a família toda assistir. Isso provocou uma conversa na minha família, que é do Pará, de trazer lendas amazônicas, de falar sobre essas pedras preciosas, das riquezas que saem de dentro, das entranhas. Foi muito rico, isso é uma potência. Se fala tanto em super produções ou não, mas poder ver (com ênfase em 'ver') o filme é tão importante, é resistência. O Canal Brasil ter aberto esse portal para passar o filme em 2020 é como uma bandeira fincada dizendo que vai ter cinema, sim. Vai ter cinema e ele vai chegar”, concluiu Sophie.
A produção de Bragança, que foi rodada no Brasil, Portugal e Moçambique, narra a história do cineasta Fernando em busca do passado violento do seu avô. Um tragicômica fábula tropical, como define o diretor. O elenco conta também com Higor Campagnaro, Isabel Zuaa, Herson Capri, Thiago Lacerda, Márcio Vito, Tainá Medina, Catarina Wallenstein, Matamba Joaquim, Lucília Raimundo, Diogo Dória, Adriano Luz, Matheus Macena e Digão Ribeiro.
O debate sobre o longa-metragem mexicano Días de invierno, de Jaiziel Hernández, contou com a presença do diretor, da atriz Leticia Huijara e do ator Miguel Narro. O filme trata de recomeço, de personagens que querem se reinventar e superar o passado. “Depois de despedida do seu trabalho, ela precisa pensar em uma maneira de seguir adiante e é muito interessante a maneira como o filme aborda esse assunto”, comenta Letícia sobre a sua personagem.