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reportagem cultural

- Publicada em 29 de Junho de 2018 às 01:00

Encontro de gigantes: a noite que reuniu Lupicínio Rodrigues e Caetano Veloso

Reza a lenda que, em 1972, Caetano e Lupi trocaram uma ideia pessoalmente em plena Cidade Baixa

Reza a lenda que, em 1972, Caetano e Lupi trocaram uma ideia pessoalmente em plena Cidade Baixa


MONTAGEM COM FOTOS DE OSWALDO LUIZ PALERMO/AE/JC E IVO GONÇALVES/PMPA/DIVULGAÇÃO/JC
Entre as centenas de pessoas que, diariamente, passam em frente a um pequeno prédio de três andares na rua José do Patrocínio, na última quadra antes da avenida Venâncio Aires, provavelmente poucas sabem - ou lembram - que, nesse endereço do bairro Cidade Baixa, houve uma casa noturna que acolheu, em certa madrugada, quase 46 anos atrás, o único encontro entre duas das mais icônicas personalidades da música brasileira: Lupicínio Rodrigues e Caetano Veloso. Esse momento mágico na história cultural da cidade (principalmente a que dorme tarde) teria impacto direto nas carreiras de ambos os protagonistas, em maior ou menor grau, sobretudo no que se refere ao mais importante compositor popular nascido no Rio Grande do Sul.
Entre as centenas de pessoas que, diariamente, passam em frente a um pequeno prédio de três andares na rua José do Patrocínio, na última quadra antes da avenida Venâncio Aires, provavelmente poucas sabem - ou lembram - que, nesse endereço do bairro Cidade Baixa, houve uma casa noturna que acolheu, em certa madrugada, quase 46 anos atrás, o único encontro entre duas das mais icônicas personalidades da música brasileira: Lupicínio Rodrigues e Caetano Veloso. Esse momento mágico na história cultural da cidade (principalmente a que dorme tarde) teria impacto direto nas carreiras de ambos os protagonistas, em maior ou menor grau, sobretudo no que se refere ao mais importante compositor popular nascido no Rio Grande do Sul.
Um bar e restaurante que havia alcançado o status de cult menos de dois meses após abrir as suas portas em um dos territórios boêmios da capital gaúcha foi o cenário para uma demonstração daquela que é, provavelmente, a mais rara das formas de se expressar admiração mútua: a tietagem sincera e desencanada entre dois artistas. Madrugada de domingo adentro, sem alarde, assédio, estrelismos, câmeras, blocos de anotações ou pedidos de autógrafos, ali confabularam dois camaradinhas com muito mais afinidades do que poderia sugerir o contraste entre o visual andrógino-hippie de um baiano cabeludo de 30 anos e o terno, a gravata e o bigodinho de um gaúcho careta e com idade suficiente para ser seu pai ou tio-avô.
Mas a cúpula Lupi-Caê esteve, literalmente, por um fio. Telefônico. Em meio a tentativas e desencontros que, hoje, parecem bastante previsíveis para um tempo sem celulares, redes sociais, aplicativos móveis e outras bugigangas tecnológicas, tudo só se viabilizou graças ao engajamento de uma mulher que ainda hoje esbanja simpatia e competência como uma das raras unanimidades positivas da mídia gaúcha. Ela guarda, fresquinhos na memória, detalhes saborosos daquela noitada, e não é para menos: muito além de mera testemunha, atuou no episódio como uma espécie de fada-madrinha, ao acumular os papéis de amiga, cicerone, produtora improvisada, motorista e parceira circunstancial de boemia.
Em um ponto desconhecido da Cidade Baixa, existe uma passagem secreta e cheia de bifurcações. Uma de suas galerias conduz direto à madrugada de domingo, 19 de novembro de 1972. Mais precisamente, para a porta externa de um espaço anexo no andar térreo do número 904 da rua José do Patrocínio, a pouco mais de 100 metros da avenida Venâncio Aires. Quem mete o nariz nesse atalho do espaço-tempo porto-alegrense dá com as fuças, no fim de um longo corredor, na fachada luminosa de uma então recém-inaugurada casa noturna que serve de palco (o trocadilho é inevitável, embora equivocado nesse caso), na data, para o primeiro e último encontro entre dois sujeitos fundamentais para a história da música popular brasileira: Lupicínio Rodrigues e Caetano Veloso.
O problema é que esse túnel mocozeado no bairro mais boêmio da capital gaúcha oferece um risco real: entre os que já cruzaram o portão, nenhum deles pegou o caminho de volta - por livre escolha, desconfia-se, dada a enorme quantidade de atrativos irresistíveis das noites da cidade em tempos passados. Mas, se faltam fontes que tenham retornado de tal incursão fantástica, há, pelo menos, uma personagem que testemunhou o episódio, ao vivo (olha aí outro clichê!), na condição de coadjuvante de luxo: a jornalista Tânia Carvalho - além, é claro, do próprio Caetano, cujos compromissos afastaram a possibilidade de um depoimento atualizado para esta reportagem. Mas a história é verídica e relatada a seguir.

Mesa de bar estrelada na Cidade Baixa

Diferente da tão alardeada quanto improvável conversa de botequim entre Lupi e Noel Rosa (a poucas quadras dali), a prosa entre o coroa gaúcho e o "magrinho" baiano não ficaria restrita às lendas urbanas da boemia local, repetidas de forma quase presencial por elementos de boa fé, mas que nem mesmo eram nascidos ou adultos para estarem na rua João Alfredo no jurássico ano de 1932. Exatas quatro décadas depois, os criadores de Felicidade e Alegria, Alegria teriam muito a conversar, por uma única vez em suas vidas, mas com consequências diretas sobre os passos seguintes de ambas as carreiras. Principalmente para o maior compositor popular nascido no Rio Grande do Sul.
A possibilidade de uma charla Lupi-Caê começou a se desenhar um mês antes (ou ainda mais cedo, conforme essa história se desenrola nas linhas a seguir), em anúncios nos principais jornais da cidade: o filho de Dona Canô viria a Porto Alegre para um "show popular" no Auditório Araújo Vianna, que entrava em seu quinto ano de operações no Parque da Redenção, desde a desativação de sua primeira sede, inaugurada pela prefeitura no terreno à esquerda do Theatro São Pedro no dia 19 de novembro de 1927 - o preciosismo nas datas se justifica, nesse caso, como lembrete de que elas costumam ser um campo fértil para coincidências.
A novidade também era destaque em declarações do diretor-geral do espetáculo, o carioca Guilherme Araújo (1936-2007). Empresário e produtor de Caetano e Gilberto Gil, ele acompanhara boa parte dos quase três anos de exílio forçado da dupla na Inglaterra e, de volta ao Brasil, prometia ao público um Caetano diferente dos tempos de Tropicalismo, agora em um circuito de apresentações a preço acessível de 20 cruzeiros, com meia-entrada para estudantes e forte apelo universitário. "Pode dizer aí, vai ser uma coisa muito nova que os gaúchos vão ver", prometeu Araújo, em uma de suas entrevistas abre-alas, após desembarcar na cidade com quatro dias de antecedência.
Essa não era a primeira vez de Caetano Emanuel Viana Teles Veloso em Porto Alegre. Em 18 de dezembro de 1967, prestes a lançar o seu primeiro álbum solo, ele havia se apresentado no ginásio do Grêmio Náutico União, escoltado pela banda Beat Boys (o quinteto argentino responsável por acompanhá-lo na defesa de Alegria, Alegria, quarto lugar no Festival da TV Record de 1967).
Diante de cerca de 300 pessoas, uma novidade com a assinatura Gilberto Gil/Capinam: "Antes de ir embora, eu queria pedir permissão para cantar em primeira audição nacional uma música inédita, que está em meu primeiro LP, para janeiro. Perdão se eu esquecer a letra, que é muito longa e muito nova. Chama-se Soy loco por ti, America".

Um Caetano pós-europeu e cheio de caracóis

Na época, Caetano percorreu bares até encontrar Lupicínio Rodrigues no Chão de Estrelas

Na época, Caetano percorreu bares até encontrar Lupicínio Rodrigues no Chão de Estrelas


FERNANDO YOUNG/DIVULGAÇÃO/JC
Encerrados os capítulos da Tropicália, prisão pelo Exército e período europeu, o "artista exclusivo da Philips" reaparecia diferente. Ainda mais calejado, articulado, cosmopolita, a cuca cheia de novas ideias sob os caracóis de seus cabelos. O layout do irmão de Maria Bethânia, aliás, não passou batido na chegada a Porto Alegre, prevista para dois dias antes do espetáculo, mas que se efetivou somente na véspera. "Ele está muito parecido com a irmã", admirou-se um jornalista ao topar com Caê embalado na combinação exótica de camisa cor-de-rosa com dois pavões bordados na frente, calça jeans azul, meias vermelhas e tamancos brancos.
Mas essa nem foi a única coisa a chamar a atenção de boa parte das 50 e poucas pessoas que o esperavam dentro e fora do Rishon, um hotel da rua Doutor Flores que compensava a falta de luxo com descontos especiais às produtoras de eventos: assim que pisou no saguão, cujo relógio marcava 23h30min, as sobrancelhas de repórteres, fotógrafos, cinegrafistas, fãs e curiosos se retorceram para o casaco de pele de carneiro e a imensa boina de lã - mimo do amigo Milton Nascimento - sobre a cabeleira transbordante, compondo um traje inadequado ao calor de novembro. "Eu soube que o espetáculo acontecerá em um auditório aberto", tentou se explicar o baiano.
Mesmo cansada, a estrela não economizou generosidade. Sentou-se em posição de lótus sobre uma mesa e, como uma espécie de buda esguio, caetaneou impressões do exílio em Londres (julho de 1969 a janeiro de 1972) e outras expressões. Na pauta, também, a recente decisão de abraçar algumas peças do mais relevante compositor do Rio Grande do Sul em suas apresentações: "Quem me levou a isso foi o próprio Lupicínio, que sempre achei sensacional. Eu comecei com Volta e, um dia, resolvi cantar Se acaso você chegasse em São Paulo. Saiu tão bem que incluí nos espetáculos. Cheguei a gravar Volta para o meu próximo disco (o experimental Araçá Azul, lançado meses depois), mas por problemas técnicos a música ficou de fora".
 

Um show com canções de Lupi

A prometida inclusão de criações de Lupi no setlist de Caetano Veloso em Concerto costurou, durante cerca de duas horas, uma apresentação tensa para mais de 2 mil cabeças naquele sábado, 18 dezembro de 1972. O público, impaciente com o atraso de meia hora no começo do show, gritava piadinhas em meio à atuação nervosa de brigadianos incumbidos de limpar a área de fotógrafos não autorizados sobre o palco e dos "sem ingresso" que tentavam entrar a qualquer custo. Até que, às 21h30min, o artista surgiu sob os holofotes de um Araújo Vianna ainda ao ar livre (a cobertura só seria instalada em 1996), acompanhado de Perinho Albuquerque (guitarra), Moacir Albuquerque (contrabaixo), Antônio Perna (piano), Tuzé Abreu (flauta), Tutty Moreno (bateria) e Bira da Silva (percussão), mais a cantora Edith Oliveira.
Calça vermelha, camisa de seda branca e colete preto com o desenho estilizado de um calhambeque em lantejoulas prateadas, um Caetano em voz e violão abriu os trabalhos sentado em um banquinho bossanovístico, com É de manhã, composição sua lançada por Maria Bethânia. "Quando as manifestações do lado de fora ficaram mais violentas, ele parou de cantar Volta, de Lupicínio, que exige muita concentração, e disse que não continuaria o show se os portões não fossem abertos", anotou, na época, o jornalista e crítico Juarez Fonseca, então editor de cultura do jornal Zero Hora. "Só depois que aquelas pessoas entraram é que o 'grilo' baixou um pouco."
Até o final, quando ergueria a mão esquerda em uma pose de Carmen Miranda enfezada, um certo gosto de stress permaneceria no ambiente, com um artista agitado a enfileirar com a sua banda uma série eclética de números como Tu me acostumbraste, Desafinado, Oriente, Partido alto e sambas de roda do Recôncavo Baiano sob o comando de Dona Edith, cantando e fazendo percussão de faca no prato. No meio disso tudo, a lupiciniana Se acaso você chegasse. "É preciso que se entenda que Caetano não estava fazendo uma 'homenagem aos gaúchos', demagógica", ressalvou Fonseca.
 

Se acaso você chegasse...

Saudoso Chão de Estrelas, na José do Patrocínio, palco da boemia

Saudoso Chão de Estrelas, na José do Patrocínio, palco da boemia


/ARQUIVO PESSOAL/DIVULGAÇÃO/JC
Enquanto rolava o show de Caê, o veterano Lupicínio Rodrigues tocava a vida na cidade de seus amigos, bares e musas - não necessariamente nessa ordem. As recomendações médicas para maneirar na boemia pouco haviam alterado a sua rotina. Aposentado ainda jovem do trabalho de bedel na Faculdade de Direito (devido a uma mal explicada tuberculose), restavam as manhãs dedicadas à família e as tardes ocupadas desde 1946 pelas funções de representante da Sbacem (Sociedade Brasileira de Autores, Compositores e Escritores de Música) na Região Sul. Emprego, aliás, que o levava com frequência a São Paulo e Rio de Janeiro, cidades onde aproveitava para se apresentar.
Sim, porque o Centro do País o acolhia muito bem como intérprete, diferente de 99% do pessoal de sua própria terra, que fazia tão pouco caso daquele canto quase falado que o próprio Lupi chegava a pedir desculpas por ocupar microfones de gravadoras, emissoras de rádio e palcos com a sua pequena-grande voz. "Eu só faço isso para mostrar aos verdadeiros cantores como eles devem interpretar as minhas músicas", protegeu-se em uma de suas reticentes entrevistas.
Naquele segundo semestre de 1972, a sua situação artística era de altos e baixos: com discreta repercussão, o compacto da Continental com Judiaria e uma regravação de Esses moços, ambas na versão do autor, passara batido pelo êxito do LP Jamelão Interpreta Lupicínio Rodrigues, um clássico do carioca prestando tributo ao amigo gaúcho. Mas nada que lembrasse os áureos tempos de 1945-1955, a bordo de petardos nacionais como Nervos de aço, Esses moços, Cadeira vazia, Vingança e Castigo.
Para Veloso, a relevância do mestre da dor de cotovelo permanecia intacta em forma e conteúdo. Não por acaso, o seu conhecimento enciclopédico abrangia um punhado de canções lupicinianas na ponta da língua, tamanha admiração pela "poesia extremada, o realismo por vezes demasiadamente cru, o inusitado das composições melódicas e, principalmente, do extraordinário efeito que tudo isso alcançava quando apresentado pela voz surpreendentemente delicada do autor", conforme relembraria décadas depois em seu livro-ensaio Verdade Tropical (1997).
Esse entusiasmo era compartilhado desde a década de 1960 com amigos do quilate do poeta Augusto de Campos e do músico João Gilberto, que chegou a morar em Porto Alegre em 1955. Mas seria uma gaúcha, enfim, a responsável por proporcionar o encontro inédito.

Enfim, o encontro

Casada desde 1963 com o ator Geraldo Del Rey (1930-1993), a jornalista bageense Tânia Carvalho costumava receber com certa frequência diversos artistas na residência do casal em São Paulo. Isso incluía uma turma de baianos que contava com quatro jovens conterrâneos de seu marido: Maria Bethânia, Gal Costa, Gilberto Gil e... Caetano Veloso. De volta a Porto Alegre no início da década seguinte, em março de 1972, coube a ela armar tudo. Abraço, beijo no rosto e logo Tânia estava encarregada de fazer a ponte com Lupicínio. Esquema: após o show, levaria Caê direto do camarim.
Aqueles moços, pobres moços, rodaram muito por quase uma hora. A primeira escala, no restaurante Batelão - aberto em 1968 pelo próprio Lupicínio na Cristóvão Colombo - não deu em nada e o mesmo se repetiu em outros endereços. Alguns porteiros e telefonemas, a dica superbacana: o homem estava no Chão de Estrelas, bar inaugurado dois meses antes pela mesma Adelaide Dias (1934-2009), musa de Lupi em Dona do bar.
A narrativa aponta para um encontro tão especial quanto pouco documentado - os jornais ignoraram o episódio, do qual também não parece haver qualquer fotografia conhecida. Na edição de agosto de 1991 da revista alternativa Bric-a-Brac, de Brasília, relembrou Caê: "Não teve nenhum clima de espanto. Lupicínio foi muito doce, fiquei impressionado com o seu estilo. E ele cantou coisas lindas, sem acompanhamento algum. Foi uma noite fantástica!".

Quem há de dizer...

No momento do encontro, gaúcho tinha 58 anos, quatro décadas de carreira e dois discos solo

No momento do encontro, gaúcho tinha 58 anos, quatro décadas de carreira e dois discos solo


ABR/DIVULGAÇÃO/JC
Essa ocasião não seria única apenas enquanto primeira e última. Frente a frente (ou lado a lado, quem sabe?), as duas principais figuras daquela mesa na Cidade Baixa traziam no lombo percursos paralelos de vida. O gaúcho: 58 anos (quase um velho para os parâmetros da época), quatro décadas de carreira, três filhos, dois discos solo, temporadas no Centro do País, algumas detenções no passado. O novo baiano: 30 anos, ao menos cinco de estrada, quatro LPs individuais, um filho por nascer, dois meses de prisão no Brasil e quase três anos de exílio forçado no exterior. Com show marcado para Florianópolis naquele mesmo domingo, Caetano deixou o recinto tal qual um cinderelo pressionado pelo compromisso, não sem antes levar no bolso um "contrato" assinado em bolacha de chope, na qual se lia apenas uma cláusula - regravar Felicidade.
O sucesso nacional da faixa seria noticiado ao autor pelo filho Lupinho, no hospital Ernesto Dornelles. Sem nervos de aço mas com sangue nas veias, o homem que certa vez confessara a um parceiro já ter cometido diversos "suicídios" por dores de cotovelos federais, não resistiria às complicações do diabetes, morrendo poucos dias depois, em 27 de agosto de 1974, feliz com a demonstração de apreço.
A versão de Caetano de Felicidade também seria editada em compacto pela Philips e incluída pela Rede Globo, em 1980, na trilha da novela das seis Olhai os lírios do campo, junto com as não menos lupicinianas Nunca (Zizi Possi) e Esses moços, pobres moços (Fábio Jr.).

Navegar é preciso, mas fica a saudade daqueles tempos

Pelas décadas seguintes, Caetano Veloso se consolidaria como um dos maiorais do primeiro time da música popular brasileira e gravaria outros 30 e tantos discos, incluindo o mais recente, Ofertório (2018), consequência de uma turnê inédita ao lado dos filhos Zeca, Tom e o primogênito Moreno - ele mesmo, cuja iminente vinda ao mundo, há quase 46 anos, havia sido motivo de preocupação para o pai.
Porto Alegre também voltaria à pauta com novos shows e a balada Menino Deus, inspirada no bairro homônimo (vizinho à Cidade Baixa) e sucesso nacional em 1982 com o grupo pop A Cor do Som. Isso, sem contar uma regravação ao vivo de Prenda minha, clássico do folclore do Rio Grande do Sul incluído no CD homônimo de 1998, com direito a emulação de sotaque gaúcho e arranjo jazzístico fiel à versão do trumpetista norte-americano Miles Davis.
Tânia Carvalho, por sua vez, seguiria a sua trilha de múltiplos talentos, dentro ou fora das emissoras de rádio e TV. Hoje, continua a mesma mulher encantadora que ajudou a tornar a mídia gaúcha mais inteligente, descontraída e nem por isso menos séria.
Já o Chão de Estrelas faria jus ao nome, cumprindo com louros o seu papel de palco iluminado para as palmas febris dos corações, sem que a eterna cabrocha Adelaide Dias pisasse nos astros, nem mesmo distraída. Por ali respingariam seu brilho Túlio Piva, Lourdes Rodrigues, Johnson, Cléa Ramos, Darcy Alves, Zilah Machado, Jessé Silva, Demósthenes Gonzalez, Luiz de Miranda, Paulo Sant'Ana etc até o início da década de 1980, antes de dar lugar a outras boas casas do ramo.
Ah! Quanto ao túnel secreto da Cidade Baixa, uma má notícia: a sua localização acaba de ser descoberta pela prefeitura, que nos próximos dias deve enviar aos proprietários um boleto cobrando aluguel pelo uso do espaço-tempo.