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Visão Empresarial

Publicada em 17 de Setembro de 2025 às 19:26

Ponto de virada – ou a barbárie

Gustavo Fernandes, diretor de Formação do Instituto de Estudos Empresariais (IEE)

Gustavo Fernandes, diretor de Formação do Instituto de Estudos Empresariais (IEE)

TALLES KUNZLER/DIVULGAÇÃO/JC
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Agências
Gustavo Fernandes, diretor de Formação do Instituto de Estudos Empresariais (IEE)
Gustavo Fernandes, diretor de Formação do Instituto de Estudos Empresariais (IEE)
Ao décimo dia de setembro de 2025, mataram um homem. Esse homem deixou uma mulher, dois filhos e uma família que naquele dia perderam o chão sob os seus pés. Ele não era próximo de mim ou de minha família, mas eu o conhecia por vídeos na internet. Frequentemente tive discordâncias que pertenceram somente a mim, dado que não as expressei. Seu nome era Charlie Kirk.
Charlie se dedicava a debater abertamente em universidades americanas sobre temas delicados, formato que naturalmente me atraiu. Sou um advogado, um liberal e um gremista, simultaneamente. A discussão me move, em especial quando um dos debatedores detém uma retórica invejável, como ele detinha.
Essa discussão aberta, independentemente do tema ou da posição dos debatedores, sempre me pareceu o caminho para a humanização do diferente, para fundamentar as relações de uma sociedade saudável e para mitigar o risco que hoje bate à porta – o risco da barbárie. A virtude cobrou o seu preço, Charlie foi assassinado com um tiro no pescoço durante um desses debates livres, em um campus universitário – um lugar onde qualquer ideia poderia ser exposta e discutida –, e a sua morte foi filmada e reproduzida milhares de vezes no mundo inteiro, uma herança que nenhum pai gostaria de deixar aos filhos.
O resultado desse crime me parece ser um ponto de virada no mundo, coincidentemente a tradução literal da instituição fundada por Kirk, a Turning Point USA. A violência política que levou a vida de um defensor do discurso livre no norte, também se faz presente ao sul do globo. Um mês antes, no décimo primeiro dia de agosto, falecia Miguel Uribe, também deixando uma esposa e um filho que terão sempre a imagem da morte do pai e marido, levado por uma bala em meio a um discurso.
Em ambos os casos, radicais de esquerda realizaram o ato e, posteriormente, tiveram sua conduta amenizada – e até celebrada – por portais ideologicamente alinhados, os quais rotulavam a vítima, e não o algoz, como extremista. Tal contexto se assemelha ao que foi feito durante algumas ditaduras, em que portais auxiliavam na naturalização da violência e celebravam o fim de dissidentes.
O resultado será o mesmo de outrora. A barbárie é neutra ideologicamente, decorre do medo sobre a natureza do outro e está sujeita à terceira lei de Newton. O exercício da força, como resposta ao medo sobre o outro, gerará resposta de igual natureza em sentido contrário, fruto do medo gerado pela conduta anterior. Essa é a consequência da morte da liberdade de expressão, a troca das nuances que o diálogo proporciona pelo absolutismo das certezas e da violência. Precisamos de um ponto de virada, antes que seja tarde demais. 

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