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Publicada em 06 de Agosto de 2025 às 19:02

Mulher não precisa de canetaço

Victoria De Nadal, Diretora de Relações Institucionais e Fórum da Liberdade

Victoria De Nadal, Diretora de Relações Institucionais e Fórum da Liberdade

IEE/Divulgação/JC
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Victoria Werner De Nadal, diretora de Relações Institucionais e Fórum da LiberdadeEntrou recentemente em vigor a Lei nº 15.177/25, que impõe a obrigatoriedade de ao menos 30% de mulheres nos conselhos de administração de empresas estatais e sociedades de economia mista. Segundo dados da B3, apenas 17% das cadeiras nesses conselhos são hoje ocupadas por mulheres, razão pela qual o novo regramento busca ampliar a presença feminina nesses espaços.
Victoria Werner De Nadal, diretora de Relações Institucionais e Fórum da Liberdade

Entrou recentemente em vigor a Lei nº 15.177/25, que impõe a obrigatoriedade de ao menos 30% de mulheres nos conselhos de administração de empresas estatais e sociedades de economia mista. Segundo dados da B3, apenas 17% das cadeiras nesses conselhos são hoje ocupadas por mulheres, razão pela qual o novo regramento busca ampliar a presença feminina nesses espaços.
A medida, todavia, pode comprometer os próprios objetivos que afirma perseguir. Ao determinar percentuais obrigatórios de participação com base no gênero, corre-se o risco de reduzir a presença feminina a uma exigência formal, e não a um reconhecimento de competência, justamente o que nós, mulheres, não queremos. Nem para homens, nem para mulheres. Se entendemos que há um problema na seleção por favorecimento aos homens, transferir esse enviesamento para a mulher é realmente a solução?
Ademais, em cargos de alta responsabilidade – especialmente em empresas públicas, muitas historicamente marcadas por ineficiência –, é fundamental que as nomeações sejam pautadas por qualificação técnica, que não poderia ser substituída pelo critério de gênero. A meritocracia é fundamental em qualquer ambiente e preconiza que o crescimento pessoal decorra do esforço, da competência e da responsabilidade individual, em detrimento de privilégios arbitrários. A sociedade, que há anos critica nomeações políticas para a composição dos conselhos de administração, agora entende como adequado o estabelecimento de cotas femininas?
A presença simbólica, quando destituída de mérito, pode até ser contraproducente. Veja-se, por exemplo, o caso de Dilma Rousseff, cuja eleição à Presidência da República foi celebrada como uma conquista feminina. Porém, sua gestão desastrosa, marcada por irresponsabilidade fiscal e profunda crise econômica, envergonhou a todos, inclusive a nós, mulheres. O que mais enfraquece o empoderamento feminino: menos mulheres em posições de poder ou mulheres sem a melhor técnica em posições de poder?
Além disso, é necessário refletir: todas as mulheres desejam, em igual proporção aos homens, ocupar essas funções? Cargos em conselhos de administração envolvem alta exposição, pressão intensa, responsabilidades amplas, e muitas vezes implicam renúncias em outras esferas da vida. É legítimo que muitas escolham outros caminhos, o que não significa opressão, mas liberdade. Tratar assimetrias estatísticas como evidências automáticas de injustiça é ignorar a complexidade da realidade e das escolhas individuais.
Portanto, a promoção da igualdade no ambiente de trabalho exige a correção de processos, não um canetaço. O caminho passa por processos seletivos justos, igualdade de oportunidades e valorização do desempenho, independentemente do gênero. A presença feminina nos conselhos, assim, seria consequência de excelência e de seleções justas, e não da cota – isso é o que verdadeiramente nos empoderaria.
Por fim, ao escrever este artigo, espero que aqueles que defendem cotas também apoiem, com igual firmeza, a liberdade de opinião desta mulher que pensa diferente.

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