Suzana Vellinho Englert, presidente da Associação Comercial de Porto Alegre
Porto Alegre continua atravessando um dos momentos mais desafiadores de sua história recente. As enchentes devastadoras de 2024 não apenas deixaram um rastro de destruição material, como também expuseram a vulnerabilidade estrutural da cidade diante de uma realidade climática em mutação. À medida em que as águas foram baixando, emergiu um novo e complexo desafio: reconstruir a capital gaúcha sob bases mais resilientes, inclusivas e sustentáveis.
A cada chuva mais intensa, a cidade fica em alerta. Cada um com a sua dor. Pessoas com o temor de perder suas moradias, outras com o trauma de ter perdido o seu negócio para as águas e todos com a ansiedade de que uma nova tragédia aconteça.
O que se percebe é que somos uma cidade vulnerável, que não está conseguindo de maneira efetiva e ágil resolver os problemas, que são de conhecimentos de todos. A gestão pública está trabalhando na recuperação, no entanto, muito ainda precisa ser concretizado.
Esse desafio, porém, não pode — e não deve — ser enfrentado apenas pelo poder público. A reconstrução de Porto Alegre é uma tarefa que exige a ação coordenada de múltiplas lideranças, incluindo um papel estratégico do setor empresarial.
A crise revelou algo que muitos já apontavam: o modelo atual de desenvolvimento urbano, social e econômico da cidade está esgotado. Não se trata apenas de recuperar ruas, praças, prédios, mas de redesenhar o próprio conceito de cidade.
Empresas que investem em soluções sustentáveis, que atuam com responsabilidade social e que se comprometem com a reconstrução dos territórios afetados tornam-se agentes fundamentais de transformação. Seja por meio da geração de empregos, do apoio a startups voltadas à tecnologia urbana, do financiamento de projetos de habitação de interesse social ou da participação em consórcios público-privados para obras de infraestrutura, o setor privado tem muito a oferecer — e também a aprender.
Lideranças empreendedoras, que atuam como norteadoras, precisam entender que o futuro de seus negócios e dos quem elas representam estão diretamente ligados à qualidade de vida nas cidades onde operam. Os dirigentes empresariais precisam ir muito além da gestão interna: devem atuar como pontes entre o setor produtivo, o poder público e a sociedade civil, influenciando a transformação e tornando a cidade um polo de oportunidades e crescimento.
A Associação Comercial de Porto Alegre trabalha através do diálogo, da conciliação de ideias e ações com as iniciativas privada e pública, assim como com entidades de classe, proporcionando abrangência e amplitude para que o empreendedor, independente do seu tamanho, seja beneficiado.
É preciso continuar somando forças. Prefeituras, governo estadual, governo federal, universidades, ONGs, coletivos comunitários e, especialmente, empresas precisam reforçar seus pactos pela cidade. Pactos que superem interesses ideológicos e foquem em soluções de impacto coletivo. Porto Alegre não pode mais ser pensada por partes: ela precisa ser pensada como um sistema vivo, interconectado e em constante adaptação.
Cabe a todos nós, em especial às lideranças que detêm poder de decisão, recursos e influência, transformar essa crise em um ponto de virada.