Alan Elbling,diretor de Eventos do Instituto de Estudos Empresariais (IEE)
Há décadas assistimos, inertes, à lenta e constante perda de relevância da indústria no Brasil. A desindustrialização não é uma percepção, é uma realidade concreta. Em 1985, o setor industrial representava 36% do Produto Interno Bruto (PIB) nacional. Em 2021, esse percentual caiu para cerca de 11%, conforme dados da FGV. Trata-se de uma redução significativa, que evidencia um processo estrutural de enfraquecimento da base produtiva do país.
Com sua ascensão extraordinária, o agronegócio se tornou um pilar do PIB nacional nas últimas décadas. O uso intensivo de tecnologia, o conhecimento técnico acumulado e as condições climáticas favoráveis transformaram o Brasil em uma potência global na produção de alimentos. Hoje, o agro é uma das principais âncoras da economia brasileira.
No entanto, é incorreto atribuir ao crescimento do agronegócio ou à expansão do setor de serviços a responsabilidade pelo declínio da indústria. Os setores econômicos podem e devem crescer de forma complementar. A perda de protagonismo industrial decorre, principalmente, de um conjunto de fatores estruturais e institucionais que compõem o chamado Custo Brasil: ineficiências logísticas, burocracia excessiva, insegurança jurídica, distorções tributárias, baixa qualificação da mão de obra e instabilidade macroeconômica.
O sistema tributário brasileiro é um dos mais complexos do mundo e se transformou em um labirinto que sufoca a atividade produtiva. São mais de 320 mil normas tributárias em vigor, somando-se as esferas federal, estaduais e municipais. Antes de pensar em inovar, desenvolver e exportar, o empreendedor precisa montar uma estrutura robusta de advogados e contadores apenas para garantir conformidade legal. Isso penaliza principalmente as indústrias com cadeias produtivas complexas.
Além disso, o ambiente de negócios ainda enfrenta desafios significativos. Apesar da modernização parcial da legislação trabalhista, que beira o surrealismo. O Brasil ainda concentra, sozinho, 98% dos processos judiciais trabalhistas do mundo, segundo o ministro Luís Roberto Barroso, do STF. Além disso, juros reais elevados desestimulam o investimento produtivo, consequência direta do descontrole fiscal, e uma profunda crise na formação de mão de obra. Os ingressantes em cursos de engenharia caíram de 469 mil, em 2014, para 358 mil, em 2023.
É importante considerar também a baixa inserção da indústria brasileira nas cadeias globais de valor, o investimento insuficiente em pesquisa e desenvolvimento e a volatilidade cambial, que afeta a competitividade das exportações. Segundo o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, essas ineficiências custam ao país cerca de R$ 1,7 trilhão por ano, o equivalente a 20% do PIB.
A indústria brasileira enfrenta um quadro desafiador e requer atenção urgente. Como sociedade, temos uma decisão a tomar: enfrentamos as reformas estruturais necessárias para melhorar o ambiente de negócios, promover a inovação e fortalecer nossa base industrial ou aceitaremos um futuro limitado à exportação de commodities e serviços de baixo valor agregado?