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João Satt

João Satt

Publicada em 18 de Novembro de 2025 às 19:38

Significado

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João Satt Colunista
Capitulo 3
Capitulo 3
É inegável a contribuição de Domenico De Masi à humanidade. No entanto, sua obra mais instigante — Conversazioni sul futuro — construída a quatro mãos com o jornalista Giulio Gambino, alcança um ponto de maturidade raro. O texto é saboroso, provocativo e repleto de detalhes que iluminam o comportamento humano através de várias gerações.
Alguns dos temas centrais que emergem:
  • O mundo pós-industrial. A sociedade já não se organiza segundo os moldes industriais clássicos, mas a partir da produção de conveniência, símbolos, informação e valores.
  • Trabalho, ócio criativo e liberdade. O “ócio criativo” — a integração entre lazer, estudo e criatividade — não é um luxo, mas uma dimensão necessária e atual.
  • Alienação e tempo de trabalho. Apesar da tecnologia e de tudo o que ela proporciona, persistem velhas questões: alienação, falta de sentido, dificuldade de integrar vida e trabalho. Surge então a reflexão sobre a redução de horas como meta — menos tempo, mais significado.
A mensagem central do livro é cristalina: não basta adaptar-se mecanicamente à economia digital ou aos novos formatos de trabalho. É preciso reinventar o modo de viver, o modo de trabalhar e o modo de se relacionar em uma era em que tempo livre, criatividade e liberdade de escolha tornam-se ativos estratégicos.
A mentoria estratégica bebe diretamente dessas ideias.
Existe para que o CEO tenha ao seu lado alguém capaz e sensível para cocriar estratégias sob uma nova perspectiva.
O cotidiano aprisiona, sufoca, sequestra a atenção com detalhes operacionais. Sobra pouco tempo — pouca lucidez — para avaliar, sem a pressão da agenda, qual será o próximo movimento que servirá de base para inaugurar o novo tempo/futuro da organização.
O mentor estratégico está fora da panela de pressão.
Traz frescor, imparcialidade e amplitude mental — ingredientes que, combinados, se traduzem em contribuições poderosas. A vantagem competitiva nasce sempre da dualidade entre risco e oportunidade; por isso, um olhar externo e qualificado torna-se determinante. A nova competição será baseada em quem constrói e produz significado. Trata-se de um deslocamento profundo: não é mais sobre o que a empresa ou a marca vende, mas sobre como transforma a vida de quem está do outro lado — colaboradores, clientes, consumidores, comunidades.
A construção de significado parte de alguns princípios:
  • Narrativas com alto valor só existem quando o que a empresa se propõe a entregar carrega “originalidade de valor”;
  • Ser original numa sociedade digital, superficial e recheada de factóides tornou-se um desafio gigantesco — e justamente por isso, valiosíssimo;
  • A busca por significado atravessa todos nós: políticos, empresários, profissionais, estudantes ou simplesmente seres desse tempo. O tempo que temos: pede sentido. É nesse contexto que a mentoria estratégica se consolida: ela traduz significado para marcas e organizações. E significado, hoje, talvez seja um dos ativos mais raros — e mais necessários — de uma era frágil, acelerada e faminta por propósito.

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