João Satt, estrategista, CEO Grupo G5
Fevereiro de 2016, Adam Grant apresenta sua obra Originais - Como os inconformistas mudam o mundo. Na primeira página, uma citação de Bernard Shaw define o espírito do livro:
"O homem sensato se adapta ao mundo; o insensato insiste em tentar adaptar o mundo a si. Portanto, todo progresso depende do insensato."
Essa provocação escancara duas rotas possíveis: conformismo ou originalidade. A inquietude e o desconforto alimentam a coragem de nadar contra a corrente, impulsionando a criatividade que une o novo ao útil. Em um mundo saturado pelo excesso e pela mesmice, o estranhamento é justamente o que tem potencial para causar impacto. Quando as convenções perdem força e a desinformação passa a predominar, surge a oportunidade para os inovadores terem voz e espaço. Muitos CEOs querem que suas marcas se tornem destinos de compra. Assim como líderes desejam conduzir movimentos que mobilizem multidões. Mas há um erro recorrente nesse raciocínio: não existe destino, engajamento, sem desejo.
O combustível do novo é a ousadia criativa - a coragem de arriscar, de recusar o básico bem-feito, de desafiar o que já não serve. O futebol ensina: quem não arrisca chutar, nunca faz gols. Empreender é viver em "modo coragem" 99% do tempo. O anseio por sucesso, misturado ao medo de fracassar, trava muitas mentes. Se Jobs e Wozniak tivessem temido o fracasso, a Apple jamais teria nascido. O custo operacional é cruel, sem apostar em novos modelos de negócios que tragam maior conveniência aos clientes, e margens melhores ao negócio é jogo perdido.
O desafio não está em ter boas ideias, e sim em distinguir o falso positivo do falso negativo: saber o que parece promissor, mas não é, e o que parece inviável, mas pode revolucionar. Essa é a habilidade que separa o gênio do seguidor.
Poucos líderes exercem impacto real. A maioria repete fórmulas vencidas. Obcecados pela estabilidade e poder, rejeitam quem traz ideias que desafiam o comum. Lideranças fortes vão além do óbvio: instigam vontades ocultas, desafiam padrões, antecipam o futuro. Da mesma forma, marcas fortes não vendem apenas produtos. Criam vínculos emocionais profundos, constroem confiança e reinventam sua narrativa a cada ponto de contato.
Sem provocar nas pessoas o desejo de pertencer, participar e se envolver, não existe o porquê de qualquer movimento. Não são as marcas (organizações) que fidelizam, e sim quem as escolhe como destino. É nesse ponto que os originais enfrentam maior resistência: não por suas ideias serem fracas, mas por desestabilizarem a cultura dominante. Como alertou Einstein: "Os espíritos elevados sempre enfrentaram oposição violenta das mentes medíocres."
No fim do dia, é essa coragem de decepcionar tradições que transforma líderes e marcas em referências. Porque só quem ousa ser original desperta desejo. E onde há desejo, há movimento. Onde há movimento, há futuro.