João Satt, estrategista e CEO do Grupo G5
O Brasil é um país de proporções continentais, rico em diversidade e cultura. Ainda assim, seu mercado consumidor é restrito. Apesar de a população ultrapassar os 200 milhões de habitantes, cerca de 70% vive com até dois salários mínimos. Apenas 16% das famílias têm renda superior a R$ 7 mil, sendo que a classe A representa menos de 4%. Isso torna o público com real poder de compra altamente disputado. A maioria dos empresários brasileiros ainda concentra suas operações no mercado doméstico. Poucos se arriscam além das fronteiras — e, quando o fazem, normalmente é para exportar commodities. Chama a atenção a ausência de visão estratégica e ousadia para disputar espaço nos mercados internacionais com marcas e produtos de maior valor agregado. Expandir para novos mercados não é mais uma alternativa — é uma necessidade. Em meio às instabilidades da economia nacional, a presença internacional tornou-se um fator determinante para o crescimento sustentável.
Atuar na condição de marca desejo/destino no exterior traz vantagens estratégicas - seja para uma vinícola, uma indústria alimentícia, um hospital de ponta ou mesmo uma cidade com ambições turísticas. O que antes faltava eram pontes confiáveis entre o Brasil e a Europa, assim como facilitadores para montar redes de conexões específicas, de acordo com os interesses de cada segmento.
Alguns exemplos práticos:
Uma vinícola nacional precisa que seus rótulos sejam degustados e validados por sommeliers, ganhem prateleiras em redes premium e alcancem os melhores restaurantes da Europa.
Um hospital brasileiro que deseja ser reconhecido como referência em medicina precisa se conectar com centros de excelência em oncologia, cardiologia e transplantes.
Prefeitos e secretários de turismo devem estabelecer laços com operadores europeus que possam promover seus destinos fora do país.
A boa notícia é o surgimento dos think tanks midiáticos, somados a estruturas estratégicas independentes, que oportunizam acesso a agendas até então consideradas impossíveis. O grupo alemão Axel Springer, com 16 mil colaboradores e mais de 40 veículos — incluindo WELT, POLITICO e Business Insider — consolidou-se como um dos mais relevantes think tanks midiáticos do mundo. Seu papel vai muito além da produção de conteúdo: atua na formulação de ações para influenciar tomadores de decisão, organiza mesas-redondas, promove agendas e ativa relações públicas com inteligência e foco. O novo modelo promove a integração, por exemplo, de um centro de excelência em saúde europeu com um hospital brasileiro. Na convergência, todos ganham. O conhecimento europeu em medicina tem a oportunidade de capturar valor; o parceiro brasileiro passa a contar com um diferencial singular, por meio do qual incrementa sua atratividade junto a novos pacientes e, de bônus, recebe um acréscimo de reputação no mercado brasileiro em função da parceria internacional.
O novo mindset transforma sonhos em poderosas realidades. Informação e conexão representam a ponte - que pode impulsionar as empresas brasileiras a atuarem com naturalidade no mercado global.