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João Satt

João Satt

Publicada em 20 de Maio de 2025 às 18:35

O preço de ser interessante

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Agências
João Satt, estrategista e CEO do G5
João Satt, estrategista e CEO do G5
Uma conversa com gente interessante é sempre fascinante. A inteligência seduz, encanta, toca na alma e acalma a gente. Existem pessoas com universos de conhecimento e saber tão profundos, que bastam alguns poucos minutos, e já é o suficiente para agradecer. Ortega y Gasset, filósofo espanhol, através de sua antológica frase, reforça: "Eu sou eu e minha circunstância, e se não a salvo, não me salvo a mim".
Enriquecemos com o conhecimento do outro, na mesma proporção que emburrecemos com a sua ausência. Ao nos cercarmos de quem não tem curiosidade e tampouco aceita o novo, cometemos uma dupla falta: nos tornamos prisioneiros do primitivismo, ao mesmo tempo que sequestramos qualquer oportunidade de evolução.
A educação é, e faz, a diferença entre os povos. A "sociedade digital" é pródiga na produção do "superficialismo", tornando nossas interações rasas e fugazes.
A interessância migrou, infelizmente, para o que não é importante. O desafio se desloca para: tornar interessante o que é importante. Isso vale nas relações pessoais, profissionais, políticas e, em grau máximo, na transformação de marcas opacas em marcas desejo.
Jacques Lacan, psicanalista do século XX, considerado tanto genial quanto polêmico, define: "o desejo é o que resta da falta, e nunca se satisfaz completamente - ele se desloca de objeto em objeto". O marketing surfa diariamente os conceitos lacanianos, incendiando os "vazios infindáveis" das pessoas por um sentimento de urgência em relação à falta.
Se, por um lado, somos ávidos por consumir, por outro, temos uma enorme dificuldade em aceitar o "novo" e o "incomum".
O cérebro humano é programado para buscar segurança e previsibilidade. Novidades representam incerteza — e, portanto, potencial ameaça. Isso nos leva a preferir ideias, comportamentos e estéticas familiares.
Os grupos sociais estabelecem regras e padrões sobre o que é "aceitável". Quem faz diferente, é rapidamente desconsiderado porque oferece perigo ao status quo.
Por isso, o reconhecimento pode vir apenas décadas depois, quando o mundo evolui o suficiente para compreender sua profundidade.
Isso explica por que tantos gênios foram ignorados em vida: Van Gogh, Rousseau, Cerdà, Franz Kafka, Fernado Pessoa, Sebastian Bach, Schubert e Vivaldi.
O novo é um espelho que, muitas vezes, revela o atraso coletivo, e gênios, ao rompê-lo, acabam pagando o preço da incompreensão. Só quando o mundo está preparado, é que a genialidade deixa de parecer loucura e passa a ser chamada de visão.
Considero um dever social: criticarmos menos, reduzirmos ao máximo os preconceitos, oportunizando espaço e voz a quem rompe os padrões. Perdemos muito em fechar janelas e portas àqueles que têm coragem de pensar e expor algo disruptivo.
Ser interessante carrega um preço muito alto por chegar ao extraordinário antes de todos. Fica um singelo e sincero apelo: não desista, resista. O tempo revelará e resgatará o seu merecido aplauso.
 

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