Corrigir texto

Se você encontrou algum erro nesta notícia, por favor preencha o formulário abaixo e clique em enviar. Este formulário destina-se somente à comunicação de erros.

Visão de Mercado

Visão de Mercado

- Publicada em 26 de Abril de 2023 às 21:27

A pororoca e seus efeitos colaterais

Até recentemente, 70% da venda dos carros novos no Brasil era financiada, e os 30% restantes negociados diretamente entre comprador e vendedor. Ter uma revenda de automóveis populares sempre foi um bom negócio, em função do volume de vendas. Curiosamente, nos últimos meses, essa situação inverteu:
Até recentemente, 70% da venda dos carros novos no Brasil era financiada, e os 30% restantes negociados diretamente entre comprador e vendedor. Ter uma revenda de automóveis populares sempre foi um bom negócio, em função do volume de vendas. Curiosamente, nos últimos meses, essa situação inverteu:
Atualmente, 70% da venda dos carros estão sendo negociadas diretamente entre comprador e vendedor; as marcas populares são as que estão performando pior, não falta vontade dos clientes, e sim financiamento acessível; as marcas de alto luxo, em alguns modelos, chegam a ter fila de espera.
A indústria imobiliária, apesar de ter sido altamente bafejada nos últimos dois anos no segmento de alto padrão, recentemente vem tendo vendas muito aquém do esperado, em especial, nos produtos direcionados à classe média e popular. Já os próprios atacarejos, fenômenos do varejo alimentar, vêm performando menos que o esperado, apesar de apresentarem pequeno crescimento em comparação às mesmas lojas (Same Store Sales). A ausência do dinheiro da classe média e baixa começa a mexer com todo o ecossistema: demissões na indústria, dificuldades de sobrevivência das redes de varejo, redução dos aluguéis comerciais etc. Sem estímulo, a roda da economia não gira.
Dado de realidade: as classes média e média baixa estão receosas de consumir, em função da alta taxa de juros, nível de endividamento das famílias, fantasma das demissões em massa e, principalmente, em função da insegurança política e econômica.
Com um Brasil dividido, pressionado por crises e denúncias, às vésperas de várias CPMIs, as votações estratégicas em relação às reformas econômicas vão sendo empurradas a um tempo futuro indefinido. O que penaliza o meio empresarial, a sociedade e o próprio Governo. Se sobrepondo a esse cenário conjuntural temos o cruzamento com as crises estruturais, tanto no campo tecnológico quanto mercadológico.
A tecnologia tem vida própria, a aceleração da absorção do "novo útil" faz com que centenas de startups tornem obsoletos, da noite para o dia, modelos tradicionais de negócios. O ambiente mercadológico 2023 será reconhecido como o ano das "marcas próprias do varejo", o que levará a indústria a apostar com mais ênfase na desintermediação. As marcas destino, ou seja, as marcas altamente desejadas pelos consumidores, serão as menos abaladas, todas as demais estarão em área de risco. A nova configuração do portfólio do varejo: marcas destino, marcas próprias, marca commodity de entrada (preço baixo).
Novas realidades, novos desafios. A verdade é que a qualidade e custos da maior parte dos produtos asiáticos são incomparáveis com o que é produzido pela indústria nacional. São mais competitivos pelo simples fato de não terem que carregar o famigerado "Custo Brasil". Consequentemente, serão os principais fornecedores das marcas próprias do varejo. Isso sinaliza mais desemprego na indústria nacional.
Os efeitos colaterais da "pororoca" entre a crise conjuntural e estrutural são nefastos e altamente perigosos para o equilíbrio do mercado. Está na hora de tomar consciência que colocar a economia em primeiro plano é a melhor estratégia que a classe política pode adotar pelo bem dos brasileiros.