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Teatro
Antônio Hohlfeldt

Antônio Hohlfeldt

Publicada em 31 de Janeiro de 2024 às 19:10

Temporada 2023 (IV): entre as dificuldades e as esperanças

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Antonio Hohlfeldt
Vários foram os espetáculos que marcaram o segundo semestre do ano de 2023 na cidade. Por exemplo, o drama psicológico Misery, de Stephen King, sobre uma jovem que tem fixação por um escritor de sua preferência. Ou uma transposição parcial de dois diferentes trechos da Ilíada, o célebre poema de Homero, realização de Daniel Dantas e Letícia Sabatella, que tivemos uma única noite para conhecer.
Vários foram os espetáculos que marcaram o segundo semestre do ano de 2023 na cidade. Por exemplo, o drama psicológico Misery, de Stephen King, sobre uma jovem que tem fixação por um escritor de sua preferência. Ou uma transposição parcial de dois diferentes trechos da Ilíada, o célebre poema de Homero, realização de Daniel Dantas e Letícia Sabatella, que tivemos uma única noite para conhecer.
Festejou-se o primeiro ano de vida da Companhia de Ópera, e a Câmara Municipal de Porto Alegre realizou sua VII Mostra de Artes Cênicas e de Música, com espetáculos bastante interessantes, como Das cinzas coração; a segunda etapa do festival Porto Alegre em Cena aconteceu com Julius Ceasar - Vidas paralelas, espetáculo da Cia. dos Atores, do Rio de Janeiro, e logo depois, entre outras atrações, trouxe performances como a de Vala - Corpos negros e sobrevidas. A porto-alegrense Angela Dippe, radicada no centro do País há muitos anos, trouxe a comédia Da puberdade à menopausa.
O grande acontecimento, contudo, foi a reestreia de Bailei na curva, de Julio Conte, a completar 40 anos de vida, fazendo uma espécie de nostálgica, embora poética e crítica, rememoração dos difíceis anos de chumbo vividos durante a ditadura, em especial após 1968. A experiência de rever o espetáculo, uma vez mais, foi dinamizada ao assistir à reação das jovens plateias que não haviam vivido aqueles acontecimentos ou, ao contrário, seus professores, que havia sofrido a experiência na própria vida. Numa récita, um espectador acabou sendo levado de ambulância para o hospital, tal a emoção experimentada. Esta é a força da arte, e por isso ela é sempre temida... Ela é iluminadora.
O Teatro da Ospa, em setembro, fez uma única récita da opereta de João Simões Lopes Neto, Os bacharéis, sob a regência de Evandro Matté, em Pelotas; e o Festival Sul em Dança reuniu milhares de pessoas no Teatro do Sesi naquele mesmo mês. A Nós - Cia. de Teatro apresentou, também naquele mês, a performance Nós, celebração do "estar juntos", depois da Covid 19; a atriz Mariana Vellinho fez sua rentrée nos palcos, com uma adaptação de Nelson Rodrigues, denominada Fôlego; Aline Marques mostrou, em dezembro, sua Esculhambada, enquanto Sandra Possani realizou o espetáculo solo A mulher que queria ser Micheliny Verunschk, também em dezembro. Outro espetáculo-solo aconteceu em novembro, com Heloísa Perissé e seu A iluminada, que arrancou gargalhadas da plateia, mas era a sério...
O leitor que tem acompanhado esta série de quatro colunas com o balanço da temporada de 2023 certamente vai concordar que não foi pouca coisa o que vivemos. Tivemos coisas boas, ótimas novidades aconteceram, mas ocorreram perdas tristes e lamentáveis. A vida é assim, ciclos quem se renovam, movimentos constantes de sobe e desce... O que fica evidente é a dinâmica da vida cultural na cidade, ainda mais depois das leis de incentivo e de fomento terem sido definitivamente aprovadas, em Brasília, e as verbas respectivas terem sido distribuídas em todos os estados e, a partir deles, a todos os municípios. Creio que dificilmente os grupos artísticos do País receberam um apoio tão significativo e tão decidido quanto neste ano. Por certo, não ganharam de graça, nem imerecidamente. Ao contrário, este deveria ser o nosso cotidiano, porque o processo cultural propriamente dito precisa ser um continuum que necessita de tempo para mostrar frutos e resultados.
Ao longo dos últimos anos, sobretudo com o advento da Covid, e apesar da evidente má vontade dos governantes federais de então, a mobilização de autoridades e artistas brasileiros garantiu votação e aprovação de legislações que, embora ainda temporárias, deverão, pouco a pouco, comprovarem seus resultados e, por consequência, se tornarem constantes. Afinal, se deputados e senadores podem votar em causa própria suas emendas regionais e eleitorais, por que não admitiriam apoiar os artistas? Comparativamente, os valores são infinitamente menores, mas os resultados, com toda a certeza, infinitamente maiores.
É com esta esperança que enceramos este balanço: 2023 foi ano de retomada, transição e afirmação. Há que lutar pelo recém nato 2024. Vamos juntos nessa?
 

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