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Teatro
Antônio Hohlfeldt

Antônio Hohlfeldt

Publicada em 24 de Novembro de 2023 às 00:16

Deixou-nos um grande dramaturgo e diretor

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Não se pode dizer que a morte do ator, dramaturgo e diretor Artur José Pinto, na passagem do último sábado para domingo, tenha pegado àqueles que o acompanharam e admiravam de surpresa. Ainda na sexta feira à noite, no Theatro São Pedro, uma amiga comum me dizia que Artur fora desenganado e que agora era esperar... Felizmente, para ele, evitando sofrimento dispensável, foi rápido. Acordei, domingo, com a manifestação de seus companheiros de tantas realizações, José Victor Castiel, Rogério Beretta, Oscar Simch e Néstor Monastério, anunciando a triste realidade. Artur se fora, mas como eles escreveram, "foi sem ir", e isso é verdade.
Não se pode dizer que a morte do ator, dramaturgo e diretor Artur José Pinto, na passagem do último sábado para domingo, tenha pegado àqueles que o acompanharam e admiravam de surpresa. Ainda na sexta feira à noite, no Theatro São Pedro, uma amiga comum me dizia que Artur fora desenganado e que agora era esperar... Felizmente, para ele, evitando sofrimento dispensável, foi rápido. Acordei, domingo, com a manifestação de seus companheiros de tantas realizações, José Victor Castiel, Rogério Beretta, Oscar Simch e Néstor Monastério, anunciando a triste realidade. Artur se fora, mas como eles escreveram, "foi sem ir", e isso é verdade.
Artur José Pinto era uma unanimidade entre todos que conhecíamos seu trabalho: sempre atento ao contexto, com enorme sensibilidade, foi destes raros dramaturgos capazes de se dar muito bem com a comédia, com uma dramaturgia dita "séria" e até mesmo com o texto para o teatro infantil. Basta relembrarmos alguns títulos seus.
No teatro, os trabalhos mais recentes ainda estão em cartaz, como TOC - Uma comédia obsessiva compulsiva, Homens de perto, em suas sucessivas contribuições, sendo a última ainda de 2018, intitulada Desgovernados, que esteve presente no festival Porto Verão Alegre ou, um pouco antes, a sensível Lupi - o musical, em que fazia um apanhado panorâmico da carreira de Lupicínio Rodrigues, sempre nosso ícone da madrugada de 'dor de corno'.
Como ator, esteve presente em obras como Pura ficção ou Mais que nada, este do diretor Carlos Gerbase, outra referência de sua geração. Mas foi na dramaturgia infantil que eu entendo ter ele dado a sua maior e melhor contribuição, com trabalhos como Cara de anjo ou o impagável Quem conta um conto... inventa... e pronto!, que diz bem de sua inventividade e criatividade, propondo perspectivas diversas para histórias bastante conhecidas, sempre com bom humor e sadias provocações para as reflexões dos espectadores mirins.
Artur José Pinto era uma figura de referência - na verdade, continuará sendo uma figura de referência - para todos nós. E por suas características incomuns, vai fazer falta: a gente precisa torcer para que seu exemplo possa sugerir outros artistas semelhantes., Não por nada, aliás, em 2016 ele teve uma iniciativa incomum: criou uma espécie de curso livre para intérprete, a que denominou Ensaios de Teatro Espontâneo, recuperando alguma prática e conceito europeu mais recente, mas adaptando-o para nosso meio. Dele, Artur José Pinto, pode-se dizer, realmente, que foi um homem de teatro. Não era de grandes badalações, embora participasse dos movimentos de classe teatral; assistia aos espetáculos em geral, mas mantinha-se relativamente à distância, talvez, justamente, para ter este olhar ambíguo de um "por dentro desde de fora", que lhe permitia desenvolver uma dramaturgia que, infelizmente, até o momento, não tivera a oportunidade de ficar registrada em livro, mas que espero possamos corrigir este erro, recuperando e editando alguns de seus textos. Porque, se havia alguns trabalhos mais de ocasião quanto às referências, como no caso de Homens de perto, outros textos seus com certeza podem sobreviver e serem remontados em outras ocasiões, como no caso de TOC - Uma comédia obsessiva compulsiva, por exemplo e que, por isso mesmo, mantém-se em cartaz ao longo de quase uma dezena de anos.
Artur, infelizmente, morreu muito jovem, com apenas 64 anos - pode-se dizer, num momento de maturidade e de amplitude de compreensão das coisas, o que, no caso dele, certamente, redundaria em outros trabalhos significativos. Sei, aliás, que ele estava trabalhando e desenvolvendo diferentes projetos, porque esta era, justamente, uma sua característica: a amplitude de temas que o fascinavam e atraíam, sempre com coerência e um olhar diferenciado e renovador.
Foi-se Artur José Pinto. Insisto: é sumamente importante que seus amigos e companheiros se articulem no sentido de resgatar e organizar seus escritos, buscando perenizá-los - por justiça - na letra de forma. Tarefa, também, para as instituições oficiais, como o IEACEN, em nível de Estado, ou a Secretaria Municipal de Cultura, em nível de Porto Alegre. Sem falar no DAD, é claro, que, creio, foi onde estudou.

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