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Teatro

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- Publicada em 01 de Junho de 2023 às 17:41

Sobre aniversários e seus significados

Minha relação com o Jornal do Comércio vem desde meus 15 anos de idade. Meu pai, contador, mantinha um escritório no Centro da cidade: recebia livros de outros escritórios, do interior do Estado, para encaminhá-los à Junta Comercial. E assinávamos o Jornal do Comércio, por causa da legislação contábil, sempre em mudanças constantes. O JC era a publicação mais up to date da época, quando não se tinha internet nem qualquer coisa destes espaços digitalizados de hoje em dia.
Minha relação com o Jornal do Comércio vem desde meus 15 anos de idade. Meu pai, contador, mantinha um escritório no Centro da cidade: recebia livros de outros escritórios, do interior do Estado, para encaminhá-los à Junta Comercial. E assinávamos o Jornal do Comércio, por causa da legislação contábil, sempre em mudanças constantes. O JC era a publicação mais up to date da época, quando não se tinha internet nem qualquer coisa destes espaços digitalizados de hoje em dia.
Jamais imaginei que, um dia, viria a integrar a equipe do JC, ainda que, naquela época, eu já experimentasse a vontade de viver o jornalismo. Meus contatos com a página infantil do Correio do Povo dominical acabaram me levando para aquele periódico. Com a crise da Caldas Junior, vivi a experiência do Diário do Sul e, fechado também aquele espaço, acabei na mesma página do Hélio Nascimento, de quem era leitor desde aquele tempo de adolescente. Já lá se vai mais de uma década de coluna semanal, enfocando as artes cênicas.
Cheguei a conhecer o velho Jenor Jarros, convivi com a simpaticíssima Zaida Jarros e, enfim, eis a terceira geração. As transformações, não sofridas, mas propostas pelo Jornal do Comércio ao longo de 90 anos, evidenciam também as profundas modificações da sociedade e do jornalismo brasileiros. Aquele jornal que estava dirigido essencialmente ao comércio e à indústria tornou-se uma publicação moderna não apenas na linha de diagramação e estética, quanto no compromisso com a informação precisa, sem adjetivações ou simpatias.
Do outro lado, estamos comemorando os 65 anos do antigo Centro de Arte Dramática da Escola de Belas Artes da Ufrgs, hoje em dia Departamento de Arte Dramática. Fundado em 1957, tendo à frente Ruggero Jacobi, um daqueles tantos artistas italianos que, buscando oportunidades de sobreviver de sua arte, depois da derrocada de Itália fascista, vieram parar o Brasil. Muitos deles ajudaram na criação do Teatro Brasileiro de Comédia, outros foram fazer cinema, imagine-se! E um deles foi seduzido por um convite vindo de Porto Alegre.
Havia uma geração extraordinária de atores e atrizes surgindo no Estado, encontrando-se na Capital. Nomes como Walmor Chagas, José Lewgoy, Yetta Moreira, Antonio Abujamra, Paulo José e Lilian Lemmertz, num primeiro momento; depois Fernando Peixoto, Claudio Heemann, Lineu Dias, Alba Rosa, Ítala Nandi, Antonio Carlos Sena, Aparecida Dutra, José Ronaldo Falleiro, Maria de Lourdes Anagnostopoulos, Susana Saldanha, Graça Nunes, Nara Kaiserman, Haydée Porto, Elisabeth Hartmann, Luiz Francisco Fabretti, Carlos Carvalho e tantos mais. Todos acabaram deixando a cidade e o Estado para se radicarem entre Rio de Janeiro e São Paulo. Mas todos começaram no DAD.
O grupo de professores era fantástico: Angelo Ricci, outro italiano exilado; Guilhermino César, Madeleine Ruffiere, Tony Seitz Petzhold, o prórpio Ruggero Jacobi, Gerd Bornheim, lothar Hessel, Fausto Fuser, Marina Fedossejewa, Dionísio Toledo, e mais adiante, Luiz Arthur Nunes, Maria Luiza Martini, Maria Helena Lopes, Lygia Vianna Barbosa, Maria da Glória Bordini…
Aproximei-me do DAD, como então se chamava, logo ao entrar no curso de Letras, em 1965. O golpe de Estado recém ocorrera, mas seus reflexos, inclusive com cassação de professores, só ocorreriam anos depois. Frequentei o DAD nas disciplinas teóricas e históricas, mas jamais passou pela minha cabeça fazer cadeiras de direção ou interpretação: meu foco era a crítica de arte que, efetivamente, depois vim a exercer.
Por volta de 1980, a convite de Sergio Silva e Ivo Bender, tornei-me professor substituto no então já Centro de Arte Dramática, onde lecionei por seis anos. As aulas ocorriam no prédio decadente, mas simpático da Salgado Filho, muito distante daquele de Venâncio Aires em que fui aluno.
Convivi com toda essa gente, parte, hoje, já desaparecida. Outra ainda firme, atuando aqui ou em outras praças. Por tudo isso, o livro de Juliana Volkmer, DAD - História e memória (Libretos, 2023), é uma viagem emocionante alucinante. Imperdível. Mas isso é só o começo: o DAD foi mais, e o DAD continua sendo muito mais, porque aniversários não são datas saudosistas, mas momentos para reafirmar o que já foi vivido e ampliar o compromisso firmado.