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Teatro

Teatro

- Publicada em 11 de Maio de 2023 às 17:49

Um circo que é um livro

Em 1981, o Departamento de Informação e Documentação Artísticas da Secretaria Municipal de Cultura da Prefeitura de São Paulo lançou, na sua coleção Pesquisa, um excelente texto sobre Circo, Espetáculo de periferia, produção coordenada por Maria Thereza Vargas. O livro é um extraordinário documento sobre o cotidiano e as características dos circos paulistas. Nesta última semana, para minha alegria, que reparto com o leitor, foi-me enviado o livro Circo Navegador 25 anos, de autoria de Alexandre Mate, a respeito deste grupo circense do litoral paulista que, como indica a obra, está completando um quarto de século. O volume, mais do que a história e o levantamento detalhado dos espetáculos encenados pelo grupo, traz um extraordinário material teórico e de debate sobre a arte circense, em geral, e sobre os grupos circenses brasileiros, em particular. Trata-se, neste sentido, de uma obra valiosa - há poucos trabalhos a respeito do tema - e de alta qualidade, justamente porque reúne, à questão historiográfica e documental, a prática reflexiva e teórica, ainda mais rara.
Em 1981, o Departamento de Informação e Documentação Artísticas da Secretaria Municipal de Cultura da Prefeitura de São Paulo lançou, na sua coleção Pesquisa, um excelente texto sobre Circo, Espetáculo de periferia, produção coordenada por Maria Thereza Vargas. O livro é um extraordinário documento sobre o cotidiano e as características dos circos paulistas. Nesta última semana, para minha alegria, que reparto com o leitor, foi-me enviado o livro Circo Navegador 25 anos, de autoria de Alexandre Mate, a respeito deste grupo circense do litoral paulista que, como indica a obra, está completando um quarto de século. O volume, mais do que a história e o levantamento detalhado dos espetáculos encenados pelo grupo, traz um extraordinário material teórico e de debate sobre a arte circense, em geral, e sobre os grupos circenses brasileiros, em particular. Trata-se, neste sentido, de uma obra valiosa - há poucos trabalhos a respeito do tema - e de alta qualidade, justamente porque reúne, à questão historiográfica e documental, a prática reflexiva e teórica, ainda mais rara.
O Circo Navegador, como entende o autor do texto, é um "coletivo que se insere no imenso coro formado pelo sujeito histórico que institui/constitui o teatro de grupo brasileiro" (p. 21), criado por Luciano Draetta, mais Alejo Linares (argentino) e Andréia de Almeida, tendo tido a participação, em seus primeiros anos, de Fernando Mastroella, hoje já não mais integrante da troupe.
O grupo se coloca na linha do que denomina de "circo novo", compreendendo a representação dramática mais tradicional, o circo, propriamente dito, a dança e as formas filmadas como cinema, televisão e vídeo. Eu diria que, além disso - e o livro é a exemplificação prática do que defendo - o grupo hoje também trabalha com as redes sociais e a tecnologia digital de ponta, bastando se observar que várias das páginas da obra são complementadas, em suas margens, por QR Codes que contém vídeos com entrevistas ou documentários a respeito do grupo e de suas encenações. Ou seja, o conjunto une a tradição circense, devidamente renovada, com a vanguarda das linguagens mais refinadas e de mais longo alcance da atualidade.
Boa parte da atividade do Circo Navegador foi possibilitada pela aprovação, em 2002, de uma lei municipal que criou o Programa Municipal de Fomento ao Teatro para a Cidade de São Paulo e que, através de editais, apoia as atividades artísticas deste segmento, incluindo o circo.
O Circo Navegador, assim, faz parte de um conjunto de iniciativas de grupos de artes cênicas os mais diversos, cujo número chega a quase quinhentos (!), produzindo e explorando linguagens dramáticas as mais diversas que, ao lado de preocupação estética, junta o compromisso social. Assim tais agrupamentos se identificam enquanto "seres estéticos, individual ou coletivamente, ligados às artes da representação ou artes da cena, [que] nascem por meio de trocas relacionais: seres que existem em completude, por meio de processos de coligação, chamados espetáculos" (p. 30).
No caso específico do Circo Navegador, temos um "trânsito híbrido por diversos procedimentos e sempre articulados, que unem a comicidade e o conceito de corpo expandido, decorrente, sobretudo, das necessidades de manifestação 'elasticizante' das acrobacias circenses e de movimentos de expressividade da palhaçaria articulada à beleza da dança" (p. 32), já que, para Luciano Draetta, "a poesia e a transgressão devem andar juntas para a criação das obras, sobretudo, de palhaçaria" (p. 34).
Draetta é considerado o "pãe" (simbiose entre pai e mãe) do grupo (p. 39), mas na verdade todas as criações do conjunto resultam de um trabalho eminentemente coletivo, mesmo quando, naquele dramático período de pandemia e segregação, o grupo teve de trabalhar à distância.
Em síntese, de 1997, quando estrearam Hoje tem marmelada, a 2003, com Boa noite, os integrantes do Circo Navegador têm vivido uma emocionante aventura criativa, de que todos somos devedores, independente de termos ou não assistido a seus trabalhos. Até porque, agora, com o livro, podemos nos colocar em dia.