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Teatro

- Publicada em 21 de Julho de 2022 às 18:02

Peter Brook e sua herança

Antonio Hohlfeldt
Certamente o leitor desta coluna está informado sobre o falecimento do ator e diretor de teatro britânico Peter Brook, ocorrido no último dia 2 de julho. Nascido em 1925, foi no Magdalen College, da Universidade de Oxford, que ele descobriu o teatro, sob forte influência de Bertolt Brecht e de Antonin Artaud. De certo modo, estes dois dramaturgos/pensadores o guiaram ao longo da vida. Mas tudo o mais que viria a transformar Brook na quase lenda viva em que se tornou nasceu de sua própria experiência. Pessoalmente, meu Peter Brook é o diretor do filme de longa metragem chamado Mahabharata, cujo roteiro teve a decisiva participação de Jean-Claude Carrière e de Marie Helène Estienne, além dele mesmo. Originalmente uma série de televisão, a versão final tem 5 horas e 18 minutos de duração e pode ser encontrada, gratuitamente, no YouTube, inclusive com legendas. O Mahabharata é um dos livros épicos fundamentais da cultura hindu.
Certamente o leitor desta coluna está informado sobre o falecimento do ator e diretor de teatro britânico Peter Brook, ocorrido no último dia 2 de julho. Nascido em 1925, foi no Magdalen College, da Universidade de Oxford, que ele descobriu o teatro, sob forte influência de Bertolt Brecht e de Antonin Artaud. De certo modo, estes dois dramaturgos/pensadores o guiaram ao longo da vida. Mas tudo o mais que viria a transformar Brook na quase lenda viva em que se tornou nasceu de sua própria experiência. Pessoalmente, meu Peter Brook é o diretor do filme de longa metragem chamado Mahabharata, cujo roteiro teve a decisiva participação de Jean-Claude Carrière e de Marie Helène Estienne, além dele mesmo. Originalmente uma série de televisão, a versão final tem 5 horas e 18 minutos de duração e pode ser encontrada, gratuitamente, no YouTube, inclusive com legendas. O Mahabharata é um dos livros épicos fundamentais da cultura hindu.
Para homenagear este artista do século XX, produzido a partir do século XIX mas com um olhar voltado para o século XXI e depois, selecionei, a partir de seu primeiro livro, O teatro e seu espaço (Vozes, 1970), algumas de suas passagens. No original, o livro se chama The empty space (ao pé da letra, "o espaço vazio") e resulta de quatro palestras pronunciadas nas universidades de Hull, Keele, Manchester e Scheffield. Organiza-se em quatro capítulos, "o teatro morto", "o teatro sagrado", "o teatro rústico" e "o teatro imediato".
Ponto de partida: "Posso escolher qualquer espaço vazio e considera-lo um palco nu. Um homem atravessa este espaço enquanto outro o observa. Isto é suficiente para criar uma ação cênica" (p. 1)
Validade histórica de um espetáculo: "Em Strattford, onde nos preocupamos em não representar nosso repertório a ponto de exauri-lo como bilheteria, nós discutimos isso de forma bastante empírica - o máximo que uma montagem pode viver, concordarmos, são cinco anos. Não são apenas os penteados, os figurinos e a maquiagem que parecem ultrapassados. Todos os diferentes elementos da montagem - os comportamentos abreviados que passam a representar certas emoções, os gestos e os tons de voz oscilam permanentemente numa incrível bolsa de valores" (p. 9)
Relação entre o diretor do espetáculo e o dramaturgo: "Quando ouço um diretor falando livremente em servir o autor, em deixar uma peça falar por si, desconfio logo, porque esta é a tarefa mais árdua de todas. Se você simplesmente deixar uma peça falar, talvez ela não faça nenhum ruído. Se o que você quer é que a peça seja ouvida, então você tem que arrancar o som dela. Isto exige muitas ações intencionais e o resultado talvez seja de grande simplicidade. Entretanto, começar com o objetivo de 'ser simples' pode ser bem negativo; isto é, uma fuga fácil das difíceis etapas que se sucedem e que, somente elas, conduzem à solução simples" (p. 35).
O que significa uma encenação: "Chamo-o de TEATRO SAGRADO POR ABREVIAÇÃO, mas poderia também chama-lo de o teatro do Invisível-Tornado-Visível: o conceito de que um palco é um lugar onde o invisível pode aparecer quem um grande poder sobre os nossos pensamentos" (p. 39).
Sobre o happening: "Um happening é uma invenção poderosa, destrói num só golpe muitas formas mortas, como a aridez da arquitetura do teatro, a feiura da decoração, das cortinas, os lanterninhas, o guarda-roupas, programas e bar. Um happening pode ser em qualquer lugar, a qualquer hora, de qualquer duração: nada é exigido, nada é tabu. Um happening pode ser espontâneo, pode ser formal, pode ser anarquista e pode gerar energia intoxicante. Atrás do happening está o grito Acorde (...). O fato é que os happenings trouxeram à vida não a mais fácil, mas a mais exigente de todas as formas" (ps. 54-55).
O início: "O primeiro ensaio é sempre, em certa medida, como a ação de um cego guiando outro. No primeiro dia o diretor talvez faça um discurso formal explicando as ideais básicas por trás do trabalho futuro (...) todos funcionam igual: ninguém está em condições de absorver o que é dito" (p. 110).
O indivíduo Peter Brook morreu. O artista Peter Brook, por sua vez, viverá infinitamente. Basta assistir a alguns de seus espetáculos, devidamente documentados no cinema ou em vídeos, ou ler seus livros.
 
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