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Coluna

- Publicada em 26 de Setembro de 2014 às 00:00

Excelente POA em Cena termina em alto astral


Jornal do Comércio
Chegou ao fim a 21ª edição do Porto Alegre em Cena. A última semana iniciou-se com um texto clássico, da literatura, transposto para o teatro graças à iniciativa da atriz Cácia Goulart. Sabe-se, por entrevista, que o projeto redundou de uma experiência pessoal, com a morte da mãe. A recriação do texto de Tolstói, contudo, se rende nas páginas do livro, é de difícil assimilação para a plateia de um teatro, sobretudo com a duração de 100 minutos (transposição quase ipsis litteris do texto original). O espetáculo A morte de Ivan Ilitch, na verdade, ganhou uma releitura amineirada, com algumas expressões orais do interior de Minas Gerais e algumas citações de escritores daquele estado, de Drummond a Guimarães Rosa.

Chegou ao fim a 21ª edição do Porto Alegre em Cena. A última semana iniciou-se com um texto clássico, da literatura, transposto para o teatro graças à iniciativa da atriz Cácia Goulart. Sabe-se, por entrevista, que o projeto redundou de uma experiência pessoal, com a morte da mãe. A recriação do texto de Tolstói, contudo, se rende nas páginas do livro, é de difícil assimilação para a plateia de um teatro, sobretudo com a duração de 100 minutos (transposição quase ipsis litteris do texto original). O espetáculo A morte de Ivan Ilitch, na verdade, ganhou uma releitura amineirada, com algumas expressões orais do interior de Minas Gerais e algumas citações de escritores daquele estado, de Drummond a Guimarães Rosa.

O projeto, em si, é interessante. O resultado, variável: o “amineiramento” soou estranho, sobretudo porque se mantiveram os nomes russos originais. O projeto acabou incompleto, nem uma coisa, nem outra.

Quanto ao espetáculo, o esforço é louvável e respeitável. A opção pela primeira pessoa do narrador, transposto para um monólogo no espetáculo, exigiu um conjunto de soluções difíceis: antes de mais nada, a própria interpretação, da qual a atriz se sai soberbamente, inclusive com as variações de vozes e tonalidades vocais, o que evidencia domínio técnico. De outro lado, o cenário é minimalista: um armário com espelho, que se transforma em esquife; cadeira, alguns objetos mais e o figurino, que vai sendo retirado ou recolocado, conforme o andamento do espetáculo.

O trabalho se inicia lento - como é o texto, porque precisa desenhar o contexto burocrático e formalista da Rússia de passagem do século XIX para o XX - mas à medida em que a morte se presentifica e dela toma consciência o personagem, o ritmo do espetáculo cresce, o interesse emocional também e, ao final, estamos todos presos à atriz e à figura do Ivan Ilitch mencionado no título. As indicações a premiações - atriz e iluminação - são mais do que justificáveis. Foi um belo momento de aprendizado sobre a força e a potencialidade da arte de representar que nos deu esta atriz.

Ao longo da última semana, tivemos ainda a oportuna e bem programada homenagem a Lupicínio Rodrigues, cujo centenário de nascimento ocorreu justamente naquele intervalo, com a apresentação da produção paulista Vingança, o musical. Também foi um momento importante da performance da Companhia Deborah Colker com uma releitura de Belle de jour, evidenciando a ousadia e a criatividade constantes daquela coreógrafa.

A semana culminou com uma grande oportunidade e merecida homenagem ao diretor Ronald Radde, com a inclusão de seu O corcunda de Notre Dame na programação oficial da mostra. Tomara que, com o horário alternativo das 18h, a temporada deslanche e o público descubra o belo trabalho do Teatro Novo.

A maior atração de todo o festival, contudo, era o elenco da Actor’s Gang, sob a direção de Tim Robbins, para a interpretação de Sonho de uma noite de verão, de William Shakespeare, cujos 450 anos de nascimento tem-se comemorado em todo o mundo. O espetáculo tem duração de 160 minutos, com pequeno intervalo. Seu ritmo é alucinante, difícil de acompanhar mesmo para quem domina bem o inglês. O elenco é relativamente reduzido para o sem-número de personagens da peça, aliás, soberbamente conhecida. Mas Robbins valeu-se de um paralelismo simples: os intérpretes que vivem os personagens reais incorporam os personagens imaginários, enquanto outro conjunto personifica o grupo de atores amadores. De modo geral, seguiu-se à risca o texto original, salvo pequena e decididamente extraordinária mudança: a inversão da encenação amadora, que do segundo ato, passou para o final do espetáculo, sendo assim valorizada e dando outra perspectiva e vitalidade para a encenação, merecendo, por isso mesmo, aplausos entusiasmados e demorados.

O festival terminou otimamente. Creio que foi dos mais equilibrados e mais produtivos ao longo de todos esses anos.

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