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Coluna

- Publicada em 13 de Junho de 2014 às 00:00

Recordando Lupi através de sua música


Jornal do Comércio
Nos últimos anos, a partir dos centros São Paulo e Rio de Janeiro, os espetáculos musicais voltaram a ser produzidos no Brasil, na maioria das vezes sob moldes ou até orientação direta de produtores da Broadway. Mais que isso, normalmente são produções idealizadas na Broadway e que aqui se repetem, dentro, evidentemente, de nossas condições financeiras, mas, em geral, com boa qualificação. A primeira quebra de parâmetro, assim, neste Lupi, o musical, é que ele tem um modelo local, sem a grandiloquência dos grandes conjuntos orquestrais, mas com a intimidade dos conjuntos que costumavam tocar em clubes noturnos, à época em que viveu o personagem-título, Lupicínio Rodrigues.

Nos últimos anos, a partir dos centros São Paulo e Rio de Janeiro, os espetáculos musicais voltaram a ser produzidos no Brasil, na maioria das vezes sob moldes ou até orientação direta de produtores da Broadway. Mais que isso, normalmente são produções idealizadas na Broadway e que aqui se repetem, dentro, evidentemente, de nossas condições financeiras, mas, em geral, com boa qualificação. A primeira quebra de parâmetro, assim, neste Lupi, o musical, é que ele tem um modelo local, sem a grandiloquência dos grandes conjuntos orquestrais, mas com a intimidade dos conjuntos que costumavam tocar em clubes noturnos, à época em que viveu o personagem-título, Lupicínio Rodrigues.

A montagem escrita e dirigida por Artur José Pinto tem um objetivo bem claro: homenagear o grande compositor e eventual intérprete. Neste sentido, o espetáculo abandona qualquer perspectiva polêmica, e até mesmo o aspecto de sua boemia, em evidente detrimento de sua vida familiar, reduzida à referência de que, durante a semana, Lupi era boêmio mas que, ao final da semana, ficava em casa. Há uma cena, apenas, em que a esposa reclama e evidencia seu ciúme (mais do que natural) e, no mais, o que interessa ao dramaturgo, de fato, é certa mitificação do artista, o que, convenhamos, não é nenhum pecado mortal.

Artur José Pinto, enquanto dramaturgo, deve ter penado para escrever um texto que, justamente, precisava louvar sem falsificar, mas não podia expor-se totalmente quanto à realidade, sob pena de ser criticado pelos admiradores do compositor. Saiu-se bem, ele, e conseguiu dar vida a seu próprio texto, dinamizando-o, ao assinar igualmente a direção do espetáculo. Neste quesito, seu grande mérito foi reunir uma equipe técnica capaz, com a coreografia e a cenografia de Raul Voges e os figurinos de Fabrizio Rodrigues, um conjunto de músicos excelente, e a contribuição certamente decisiva de Francis Padilha na preparação vocal do elenco. O resultado é, do ponto de vista musical, se não primoroso, absolutamente qualificado e entusiasmador.

O dramaturgo Artur José Pinto foi inteligente ao idealizar os diferentes espaços cênicos: o do passado, que se distribui por diferentes partes do palco, e o do presente, quando o compositor recorda sua vida, enquanto espera participar de um programa de televisão. Com isso, dividiu a representação de Lupicínio entre dois intérpretes, Juliano Barreto, no tempo presente da narrativa, e Gabriel Pinto, no passado. Há, ainda, o menino Lupi, vivido por Pâmela Amaro, que se sai muito bem e com naturalidade. O surpreendente, em tudo isso, é que todos, absolutamente todos os intérpretes são excelentes cantores, não se sabendo qual destacar: Nani Medeiros é contagiante enquanto Elis Regina, mas Lucas Krug, vivendo Alcides Gonçalves, consegue recriar até mesmo aquela empostação artificial tão característica dos anos 1950, encontrável em boa parte dos grandes intérpretes de então.

O espetáculo, de certo modo, está organizado em torno das composições musicais. Por isso, elas não ilustram passagens da vida de Lupi - muitas vezes, pouco têm a ver com a cena em desenvolvimento -, mas evidenciam a variedade da inspiração do compositor, inclusive, com uma presença muito mais forte do que eu supunha, por exemplo, quanto à influência da música tradicional do Rio Grande. Ouvindo e vendo o espetáculo, o que emociona é a versatilidade e a criatividade de Lupicínio Rodrigues, o que explica o sucesso que alcançou, em determinado momento, em todo o País, a partir dos centros radiofônicos de então, Rio de Janeiro e São Paulo.

Devemos ser agradecidos pela iniciativa admirável, e lamentar, apenas, que a temporada tenha se restringido a apenas duas noites. Trata-se de espetáculo a ser visto e revisto, e deveria se dar tempo para que o boca-a-boca ajudasse na divulgação do trabalho, que quebra parâmetros e mostra, verdadeiramente, a potencialidade da cena de Porto Alegre. Foi um momento extraordinário de nosso teatro, bela e justa homenagem ao grande artista que foi Lupicínio Rodrigues.

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