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Coluna

- Publicada em 27 de Abril de 2012 às 00:00

Início de uma trilogia, comemoração de uma caminhada


Jornal do Comércio
Nas comemorações dos dez anos do Grupo Neelic de teatro, sua idealizadora e principal diretora de espetáculos, Desirée Pessoa, apresenta-se, ela mesma, no palco, no espetáculo chamado Portas do invisível, primeiro de uma trilogia de trabalhos sob a denominação de Trilogia sensível.
Nas comemorações dos dez anos do Grupo Neelic de teatro, sua idealizadora e principal diretora de espetáculos, Desirée Pessoa, apresenta-se, ela mesma, no palco, no espetáculo chamado Portas do invisível, primeiro de uma trilogia de trabalhos sob a denominação de Trilogia sensível.
O trabalho, com cerca de uma hora de duração, traz o Neelic para fora de seu espaço habitual, a Usina do Gasômetro. Aqui, estamos no flexível espaço da Sala Carlos Carvalho, da Casa de Cultura Mário Quintana. O espaço cênico é de Marçal Rodrigues, que assina, com Desirée Pessoa, o roteiro e a direção do espetáculo.
Desirée realiza um trabalho autoral, pois se apresenta em trabalho solo. O formato lembra os antigos e clássicos textos enquadrados, isto é, há uma situação geral que serve de passe-partout para as demais encenações. No caso, o trabalho abre-se com um texto que fala a respeito das diferentes perspectivas da mulher, para depois se desdobrar em múltiplos textos clássicos em que as personagens femininas - fortes, como diz a atriz e diretora - avultam: a Antígona, de Sófocles; a Medeia, de Eurípides; e a Lady Macbeth, de Shakespeare. Imagina-se que outras personagens surgirão nos dois espetáculos seguintes.
No trabalho aqui apresentado, a atriz muda constantemente de personalidade. Assim como assume a perspectiva de Antígona ou de Medeia, interrompe repentinamente seu trabalho, ao toque de chamado de um telefone celular, para marcar sucessivos encontros com interlocutores que se apresentam do outro lado da linha, anônimos. A situação, evidentemente, sugere alguma garota de programa a garantir seu sustento, mas tal situação não evolui, ao longo do espetáculo e, portanto, torna-se mera especulação. Serve, contudo, para que observemos a radical transformação da impostação corporal, da entonação vocal, da própria personalidade, enfim, que temos no palco.
Espetáculo fortemente marcado pelo tempo lento, como se se tratasse de um ritual a que a plateia é convidada a assistir, Portas do invisível é um claro exercício de superação a que a diretora/atriz se submete, como que pretendendo mostrar o quanto ela - diretora - é capaz de realizar, enquanto atriz.
Pela formatação do espaço (neste caso, relativamente semelhante ao da sala em que habitualmente o grupo se apresenta), a interação da atriz com a plateia é permanente e bastante forte, tanto que, em certo momento, ela entrega a alguns dos espectadores uma carta que busca entre as cordas que se acham dependuradas, ocupando todo o espaço cênico, sem, contudo, prejudicar o movimento da atriz, porque se encontram situados acima de sua cabeça. Cada uma dessas cordas, vê-se então, possui o mesmo tipo de envelope e de carta, aparentemente também de igual teor, na qual a realizadora agradece ao espectador por ter vindo assistir ao espetáculo. O texto aproveita para destacar que, nesta nova fase de comemoração, os espetáculos experimentais investirão em trabalhos híbridos, mesclando dança e teatro. Aqui se verifica, então, a qualificação da intérprete. Mais que uma atriz, Desirée Pessoa tem preparo de bailarina, e isso fica evidente no movimento que desenvolve em cena, ao longo de todo o trabalho.
Não se trata, este Portas do invisível, de um espetáculo simples e digestivo. É um trabalho experimental, claramente pensado para um público que vem acompanhando o grupo e que, efetivamente, gosta de teatro. Daí a intimidade buscada entre a intérprete e a plateia, o que resulta num trabalho mais intimista que experimental, capaz de sensibilizar o espectador. A esperar, agora, os próximos espetáculos que nos permitirão, ou não, avaliar no seu conjunto a proposta apresentada.         
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