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Coluna

- Publicada em 24 de Fevereiro de 2012 às 00:00

Como superar diferenças geracionais


Jornal do Comércio
É provável que certo preconceito com o fato de uma peça de teatro surgir a partir da adaptação de um filme (norte-americano), por maior que tenha sido seu sucesso, explique o fato de que O clube dos cinco não tenha conseguido nenhuma data para fazer uma temporada na cidade, seja no ano passado, seja no primeiro semestre deste 2012. Seja como for, o texto adaptado e dirigido por Bob Bahlis tem, desde logo, um atrativo e um forte motivo para chamar a atenção: ele atende a uma absoluta necessidade e, ao mesmo tempo, a uma total inexistência de textos dramáticos dirigidos a adolescentes. Aliás, em todo o mundo, a gente encontra uma dramaturgia para crianças e uma dramaturgia dita adulta, mas onde ficam os adolescentes? São escassos estes textos. Na literatura também ocorreu isso, mas ao menos no Brasil, nas duas últimas décadas, os autores começaram a suprir eficiente e qualitativamente esta lacuna. Quem sabe chega a vez da dramaturgia?
É provável que certo preconceito com o fato de uma peça de teatro surgir a partir da adaptação de um filme (norte-americano), por maior que tenha sido seu sucesso, explique o fato de que O clube dos cinco não tenha conseguido nenhuma data para fazer uma temporada na cidade, seja no ano passado, seja no primeiro semestre deste 2012. Seja como for, o texto adaptado e dirigido por Bob Bahlis tem, desde logo, um atrativo e um forte motivo para chamar a atenção: ele atende a uma absoluta necessidade e, ao mesmo tempo, a uma total inexistência de textos dramáticos dirigidos a adolescentes. Aliás, em todo o mundo, a gente encontra uma dramaturgia para crianças e uma dramaturgia dita adulta, mas onde ficam os adolescentes? São escassos estes textos. Na literatura também ocorreu isso, mas ao menos no Brasil, nas duas últimas décadas, os autores começaram a suprir eficiente e qualitativamente esta lacuna. Quem sabe chega a vez da dramaturgia?
Pois O clube dos cinco consegue fazer isso. É um espetáculo jovem, em todos os sentidos. No tema e no elenco, formado por Beto Mônaco, Catharina Cecato Conte, Gabriel Telles, Mariana Del Pino, Pingo Alabarce e Thiago Tavares. Com uma cenografia simples: cinco classes colocadas no espaço vazio do palco, o que permite apresentar-se a peça em qualquer lugar, vamos acompanhar cinco estudantes-problema que estão de castigo, em pleno sábado, numa sala de aula. O exasperado professor os execra e desqualifica, desconhecendo, na verdade, completamente, quem sejam, de fato, aqueles jovens e os problemas que eles enfrentam.
O cinema norte-americano gosta deste tipo de filme com jovens-problema em salas de aula. Talvez um dos filmes conhecidos seja Ao mestre, com carinho, se não me engano, da década de 1970. Mas há muitos outros trabalhos que tomam o mesmo foco, quer no cinema, quer no teatro. Aliás, a temporada de 2012 no Theatro São Pedro vai trabalhar com uma peça semelhante no seu tema.
O que aqui chama a atenção é que o texto, embora comece com certo maniqueísmo, evolui gradualmente para um posicionamento crítico, de sorte que, ao final, os cinco jovens acabam por cumprir a tarefa do mestre: saber porque eles se encontram ali. Mas eles alcançam algo mais profundo: descobrem a si mesmos e descobrem que eles podem formar um grupo e se ajudar mutuamente, fortalecendo-se.
Acertadamente, Bahlis optou pelo tom da comédia ligeira, sem deixar de levar à reflexão. O acerto do texto e da direção de Bob Bahlis é que ele se coloca num nível de compreensibilidade e de comunicabilidade que exclui qualquer lição de moral: os jovens são como são, com todos os seus defeitos, que debitam na conta dos pais.
Mas nem por isso deixam, cada um a seu modo, de evidenciar qualidades e potencialidades que, se bem exploradas, podem levá-los a superar seus problemas: a estranha, o atleta, o marginal etc., cada tipo transforma-se gradualmente em uma personagem cheia de contradições mas também absolutamente tomada pela vida. Assim, o espectador acompanha o diálogo, ligeiro, leve, mas certeiro, num tom bem brasileiro e até sul-rio-grandense, que não obstante é também universal e, por isso mesmo, interessante e comunicativo.
Não há figuras a destacar: o roteiro permite, numa espécie de rodízio constante, que cada intérprete/personagem tenha seu momento de destaque, conduzindo parte da trama até o resultado final. Neste sentido, trata-se de um espetáculo eminentemente grupal, como o é o teatro por natureza, mas aqui, enfatizando-se o sentido do coletivo na própria perspectiva da trama desenvolvida. O resultado é um trabalho sem maiores pretensões, mas eficiente, que prende a atenção do espectador e agrada, que com ele se identifica. Bob Bahlis, uma vez mais, mostra sua competência de ser aparentemente simples, o que significa dominar a técnica teatral com propriedade.      
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