Aprovada na Câmara por 353 votos a 134, a PEC da Blindagem chega ao Senado cercada de resistência. Diferentemente da euforia dos deputados, os senadores já indicam maioria sólida contra o projeto que resgata privilégios extintos em 2001 e torna mais difícil a prisão e a abertura de processos criminais contra parlamentares.
Parecer pela rejeição
O presidente da Comissão de Constituição e Justiça do Senado, Otto Alencar (PSD-BA), pretende pautar a PEC da Blindagem já amanhã. O relator, Alessandro Vieira (MDB-SE), anunciou parecer pela rejeição, e classificou a proposta como um desrespeito à opinião pública. Dos 27 integrantes da comissão, 17 já declararam voto contrário, suficiente para barrar o avanço antes mesmo do plenário.
Voto dos gaúchos
Entre os senadores do Rio Grande do Sul, há divisão: Paulo Paim (PT, à esq. na foto) declarou-se contra, reafirmando a defesa da transparência; Hamilton Mourão (Republicanos, à dir. na foto) mantém silêncio sem indicar posição; já Luis Carlos Heinze (PP, ao centro na foto) apoia a PEC, embora reconheça excessos como o voto secreto e a extensão de imunidades a líderes partidários.
Deputados recuam
A pressão popular já fez os deputados recuarem e até pedirem desculpas por terem votado a favor. No Senado, a lógica é ainda mais dura: por disputarem eleições majoritárias, os senadores sabem que aprovar a PEC seria desgaste imediato com o eleitorado. Não à toa, nomes de partidos que apoiaram em peso na Câmara — como PL, União Brasil e PSD — já se manifestam contrários na outra casa.
Manto de autoproteção
A PEC é um símbolo do afastamento do Parlamento em relação à sociedade. Em vez de corrigir supostos "excessos" do Judiciário, cria um manto de autoproteção inaceitável. O Senado tem a chance de mostrar responsabilidade histórica: sepultar de vez uma proposta que institucionaliza a impunidade e rompe o elo de confiança com a democracia.
Caiado: 'divórcio com o povo'
O governador de Goiás, ex-senador Ronaldo Caiado (União Brasil), alerta que, "se a PEC da Blindagem for aprovada, representa o divórcio do Congresso Nacional com o povo brasileiro, e terá consequências nefastas para a política nacional".
Proteção do alcance da Justiça
"É um convite para o crime organizado entrar no Congresso pela porta da frente, disputando o voto nas urnas, para proteger os chefes das facções do alcance da justiça. Espero que o Senado corrija o erro da Câmara e rejeite a proposta", afirmou Ronaldo Caiado.