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Repórter Brasília
Edgar Lisboa

Edgar Lisboa

Publicada em 03 de Setembro de 2025 às 15:52

O peso da história no julgamento de Bolsonaro

Pela primeira vez na história do Brasil, um ex-chefe do Executivo senta no banco dos réus ao lado de generais

Pela primeira vez na história do Brasil, um ex-chefe do Executivo senta no banco dos réus ao lado de generais

/Ricardo Stuckert/PR/JC
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O Supremo Tribunal Federal iniciou o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e de militares de alta patente, acusados de tentativa de golpe de Estado. Pela primeira vez na história do Brasil, um ex-chefe do Executivo senta no banco dos réus ao lado de generais, almirantes e figuras centrais da segurança nacional. Um julgamento que redefine a política brasileira. O fato, já classificado por parlamentares como “histórico”, coloca o País diante de um divisor de águas: a Justiça será capaz de impor limites a quem afrontou a democracia?
O Supremo Tribunal Federal iniciou o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e de militares de alta patente, acusados de tentativa de golpe de Estado. Pela primeira vez na história do Brasil, um ex-chefe do Executivo senta no banco dos réus ao lado de generais, almirantes e figuras centrais da segurança nacional. Um julgamento que redefine a política brasileira. O fato, já classificado por parlamentares como “histórico”, coloca o País diante de um divisor de águas: a Justiça será capaz de impor limites a quem afrontou a democracia?
Justiça e democracia em teste
Para o deputado federal gaúcho Bohn Gass (PT), “a impunidade é a mãe de todos os crimes”. Sua avaliação resume o espírito de parte significativa da sociedade: “não basta registrar os ataques de 8 de janeiro, é necessário puni-los para que não se tornem precedentes perigosos”. Já a deputada federal gaúcha Maria do Rosário (PT) reforçou que a defesa de uma anistia, liderada por setores bolsonaristas e vocalizada pelo governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), representa uma afronta à Constituição. “Não haverá anistia, haverá soberania”, disse, ecoando o sentimento de que a democracia não pode ser moeda de barganha eleitoral.
A oposição fragmentada
Enquanto isso, no campo da oposição, o clima é de incerteza. O julgamento expõe fissuras internas no bolsonarismo. O clã político que orbitava em torno de Bolsonaro agora se divide entre a busca por sobrevivência e a corrida antecipada pela sucessão. Governadores como Tarcísio de Freitas, Ronaldo Caiado (União Brasil) e Romeu Zema (Novo) ensaiam movimentos para ocupar o espaço do ex-presidente, mas enfrentam resistências internas, vaidades e disputas pela herança política. O próprio discurso inflamado de parlamentares como o deputado federal gaúcho Bibo Nunes (PL), que tenta minimizar os atos de 8 de janeiro, dizendo que não houve tanques nem armas, mas “pipoca, algodão-doce e bíblias”. A oposição tem argumentado com força sobre essa narrativa, enquanto a base governista tenta mostrar as ações que revelam a gravidade das acusações.
A mensagem ao mundo
O impacto do julgamento vai além das fronteiras nacionais. Ao colocar um ex-presidente e militares de alta patente no banco dos réus, o Brasil envia um recado inequívoco à comunidade internacional: a democracia não é retórica, mas prática. Num cenário global em que populismos e extremismos testam limites institucionais dos Estados Unidos à Europa, a posição do STF coloca o País como referência no combate a aventuras autoritárias. O contraste com a complacência de outros governos diante de líderes antidemocráticos reforça o valor simbólico do processo.
O futuro em disputa
O desfecho desse julgamento definirá não apenas o destino de Bolsonaro e de seus aliados, mas também o rumo da oposição brasileira. Uma condenação tende a acelerar a disputa por novos nomes no campo da direita, agravando divisões e abrindo espaço para alternativas que tentem equilibrar o pragmatismo econômico e o discurso conservador. Para o governo Lula, a decisão do Supremo, se firme, poderá consolidar a narrativa de que as instituições resistiram e venceram a tentativa de ruptura.
Ato pedagógico da democracia
Mais do que um processo judicial, o julgamento é um ato pedagógico da democracia. O Brasil está mostrando a si mesmo e ao mundo, que o poder não pode ser blindagem para crimes contra o Estado de Direito. O resultado não será apenas jurídico; será histórico, político e moral.
 

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