"No Brasil, a gente faz gestão de risco, como faz gambiarra", afirmou o professor e físico Osvaldo Moraes, diretor do Clima e Sustentabilidade do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, em entrevista com parlamentares à TV Câmara, ao avaliar o evento extremo de um desastre como as cheias no Rio Grande do Sul.
Capacidade de resposta
Na opinião de Osvaldo Moraes (foto), "nós temos que ter capacidade de resposta. Acho que o Brasil avançou muito; hoje nós temos a previsão do tempo adequada, nós temos previsão hidrológica, nós temos defesa civil bem estruturada". Segundo o professor, "existem dois eixos no sistema de alerta que nós demos pouca atenção: um deles é a comunicação, nós precisamos aprender a comunicar o risco".
Conhecer o rio
Outro ponto que é importantíssimo, alerta o gaúcho de Porto Alegre Osvaldo de Moraes, "é a percepção e conhecimento do rio. As populações que estão expostas precisam compreender e conhecer o rio. Para isso é necessária educação. Se nós não tivermos um sistema de educação para levar as populações como elas devem conhecer o rio, perceber o rio, e se nós não tivermos um sistema efetivo de comunicação, tudo o que nós fizermos de investimento, em tecnologia, vai ser apenas a solução de uma parte do problema".
Planejamento urbano
"Nós não trabalhamos para reduzir a vulnerabilidade. Quando nós não fazemos um planejamento urbano com a ocupação adequada nos espaços urbanos, nós não deixamos a área apropriada para a drenagem, nós simplesmente aumentamos a vulnerabilidade urbana por ações antrópicas, ou seja, é a ameaça antrópica que determina grande parte de legislar."
Desconexão entre quem decide
Para o físico Osvaldo Moraes, "o que acontece é que nós temos uma desconexão entre os tomadores de decisão, entre os legisladores, e a ciência. Muitas vezes a ciência não é ouvida como deveria ser, para fazer a orientação das políticas públicas". Na avaliação do físico: "não existe um culpado; tudo faz parte de uma cultura social, uma cultura como nós crescemos. Isso não é apenas no Brasil, isso eu acho que é geral". Enfim, além de tecnologia, a comunicação deve estar entre as prioridades, para evitar que catástrofes como as que atingem o estado do Rio Grande do Sul acabem arrasando cidades inteiras.
Saque do FGTS
No contexto da tragédia vivida pelos gaúchos, a deputada federal gaúcha Franciane Bayer (Republicanos) propôs uma alteração na lei do saque do FGTS. Em requerimento ao Ministério do Trabalho e Emprego, a parlamentar sugeriu que a União aumente a possibilidade de saque para vítimas de desastres naturais. A última atualização desse valor foi feita em 2012, quando o limite para esses casos passou de R$ 2.600,00 para R$ 6.220,00. É esse último valor que a deputada pede que seja corrigido para a realidade atual, conforme critérios do governo.
Recomeçar a vida
"A ampliação do saque do FGTS em caso de desastres naturais é mais uma medida para auxiliar e amparar quem perdeu tudo com as enchentes e vai precisar recomeçar a sua vida. E já fica como legado, como uma política para tragédias que possam vir a ocorrer em todo o Brasil", acentuou a parlamentar gaúcha.