Pessoas desabrigadas pela enchente que atingiu o Rio Grande do Sul em maio ocupam desde o fim do mês passado um imóvel vazio no Centro de Porto Alegre. No local onde funcionou o Arvoredo House Hotel, que está fechado há mais de uma década e o imóvel desocupado, se formou a Ocupação Desabrigados da Enchente, com cerca de 100 pessoas. Uma definição sobre a permanência no local ou deslocamento para outro local de abrigo é aguardada para esta sexta-feira, dia 7 de junho.
A expectativa do grupo é poder permanecer no local até que o poder público indique uma alternativa que não sejam os abrigos, principal motivo apontado por quem mobilizou a entrada no prédio nos últimos dias de maio. No início da semana, a iminência do cumprimento de um pedido de reintegração de posse deixou os ocupantes em alerta, mas não foi efetivada e não deve ser levada adiante agora. Na ocasião, a Defensoria Pública Estadual (DPE) e o deputado Matheus Gomes (PSOL) intervieram em favor do coletivo.
Em reunião de mediação na Câmara Municipal nesta quarta-feira, dia 5, representantes da Arvoredo Empreendimentos Imobiliários teriam demonstrado sensibilidade com o caso. “Teve uma convergência entre os ocupantes do espaço e a parte que solicita a reintegração, de esperar mais tempo. Disseram que não tem a intenção de deixar as pessoas na rua”, disse à Coluna Alexsandro Fernandes, liderança do movimento.
Em diálogo com o movimento desde o início, a DPE tem a intenção de levar o debate para a Comissão de Conflitos Fundiários da Justiça. “O objetivo é reconhecer que, nas ocupações, tem mais que um debate de posse e propriedade”, aponta Alessandra Quines, coordenadora do Centro de Referência em Direitos Humanos da DPE e uma das responsáveis por acompanhar o caso.
Matheus Gomes, que foi chamado no dia da tentativa de reintegração de posse para intermediar a ação, elenca dois pontos que serão buscados a partir da ocupação deste prédio: uma solução mediada e a atenção dos governos para a moradia a partir de imóveis hoje sem uso em áreas urbanas consolidadas. “Ali se abre a possibilidade para construir uma alternativa para a questão da moradia diante do caos que o evento extremo colocou a região metropolitana e todo o Rio Grande do Sul”, sustenta.
O edifício do antigo hotel fica na Rua Coronel Fernando Machado, nº 347, no Centro Histórico. Um laudo técnico elaborado por arquitetos e engenheiros, apresentado na reunião desta quarta-feira, atesta que o prédio está apto para moradia, necessitando de reformas, mas sem problema estrutural. A Coluna não conseguiu contato com a empresa proprietária do imóvel e o espaço segue aberto para a manifestação.