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Bruna Suptitz

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Publicada em 16 de Abril de 2024 às 19:48

'Sociedade pode compartilhar informações em apoio a povos indígenas'

Junior Hekurari Yanomani, líder indígena da Região do Surucucu, em Roraima

Junior Hekurari Yanomani, líder indígena da Região do Surucucu, em Roraima

/Mariana Czamanski/Divulgação/JC
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Bruna Suptitz
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Conscientizar e compartilhar informações é a forma que a sociedade tem de contribuir com as causas dos povos indígenas no Brasil, aponta o líder Yanomami Junior Hekurari Yanomami, da comunidade Urihi, região do Surucucu, em Roraima. Ele entende que é por meio da pressão nas redes sociais e divulgação da imprensa que o governo se mobiliza para atender as demandas das comunidades tradicionais.
Conscientizar e compartilhar informações é a forma que a sociedade tem de contribuir com as causas dos povos indígenas no Brasil, aponta o líder Yanomami Junior Hekurari Yanomami, da comunidade Urihi, região do Surucucu, em Roraima. Ele entende que é por meio da pressão nas redes sociais e divulgação da imprensa que o governo se mobiliza para atender as demandas das comunidades tradicionais.
Junior Hekurari Yanomami esteve em Porto Alegre em março e participou do Fórum Internacional do Meio Ambiente organizado pela Associação Riograndense de Imprensa. Em entrevista concedida à coluna, o líder Yanomami falou da falta de segurança enfrentada pelas comunidades na Amazônia e sobre a importância da comunicação com a sociedade não-indígena.
Jornal do Comércio - É a sua primeira vez no Rio Grande do Sul, mas você visita outros Estados e Países para divulgar a situação do povo Yanomami, certo?
Junior Hekurari Yanomami - Sim. É a primeira vez em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul. Já andei muito em outros estados e em outras cidades. Os modelos são os mesmos das grandes cidades. São elas que influenciam e por isso é necessário o apoio da sociedade civil. Em Porto Alegre, não se sabe a situação dos povos indígenas que estão do outro lado e que também fazem parte do Brasil. Principalmente os indígenas isolados na Amazônia, dentro da floresta, em Roraima e no Amazonas, que são de diferentes culturas. Em Porto Alegre, existem indígenas Kaingang e Guaranis, que estão sofrendo e lutando para ter uma moradia, uma terra, e isso é diferente. Lá (na Amazônia) temos as terras demarcadas pela Constituição Federal e lutamos para mantermos. No Rio Grande do Sul, a luta é para conseguir o direito. São os mesmos povos, por isso é importante a sociedade lutar junto.
 
JC - Existe uma mobilização para comunicar para o restante da sociedade a importância da preservação Amazônia para o restante do país. Por exemplo, as chuvas são influenciadas por ter a floresta em pé. Como você apresenta o tema?
Junior Hekurari Yanomami - Temos vários exemplos dentro do Brasil. O exemplo que usamos da terra indígena Yanomami é que, se formos contar, uma área de 30 ou 40 campos de futebol do tamanho do Maracanã foi destruída. Estamos enfrentando algo que nunca vimos. Tenho 37 anos de vida e nunca vi esse calor que estamos enfrentando. Estamos no meio das montanhas, onde nascem os rios, e hoje essas áreas estão secas, não tem rios, não tem chuvas. Essa destruição, fumaça e queimação com certeza influenciam para não chover. A questão climática é um problema muito sério. Todos nós temos que cuidar, tanto a sociedade quanto os povos indígenas.
 
JC - Qual a situação atual do território Yanomami ? Que é grande e são diferentes comunidades. Vocês estão protegidos ou estão em situação de insegurança?
Junior Hekurari Yanomami - A terra indígena Yanomani é muito grande, no tamanho de um país como Portugal. São 378 comunidades e culturas diferentes, além de sete etnias com línguas e culturas diferentes, que se dividem no Amazonas e em Roraima. Hoje, na população Yanomami, os que sofrem mais são o povo de Roraima, na fronteira com a Venezuela, que são mais isolados. A terra indigena Yanomami tem um acesso muito difícil, somente por transporte aéreo, de avião ou de helicóptero. As primeiras invasões foram em 1888 e 1889, foram mais de 40 mil garimpeiros. Em 1992, o presidente da república (Fernando Collor de Mello) demarcou a terra indigena Yanomami reconhecendo essa emergência que estava afetando os direitos humanos, devido ao reconhecimento de que os não indígenas estavam violando os nossos direitos. Demarcou por pressão internacional, como sempre fazemos. Temos que buscar outros países e pressionar o Brasil para proteger a população Yanomani. Foi isso que aconteceu. Não foi por vontade, mas por pressão. Desde lá, mais de mil agentes da polícia federal fizeram grandes operações - Operação Selva Livre, onde tiraram mais de 40 mil garimpeiros na década de 1990. Desde o término da operação, em 1997, limpou a terra indígena Yanomami e desde lá não teveinvasão. Se iniciou de novo esse problema em 2018, depois de 20 anos. Iniciou de novo a invasão por influência do próprio presidente Bolsonaro, incentivando invadir a terra indigena Yanomani e as terras indígenas de todo o Brasil, que ele iria legalizar, colocar os garimpeiros. Desde 2018, entraram mais de 25 mil. Em 2019 e 2020 começou a invasão em comunidades mais isoladas.
 
JC - Quais?
Junior Hekurari Yanomami - Tem um grupo que não mantém contato nem com não indígena e nem com a gente. Estávamos preocupados em como vamos proteger. O próprio presidente (Bolsonaro) trancou as portas da Funai e do Ibama para não fiscalizar e não proteger, e só estavam olhando a população sofrer. Não teve nenhum tipo de proteção e operação à terra indigena Yanomani. Por isso, os garimpeiros avançaram muito. Acabaram com os principais rios (fonte de água) e com a floresta que oferecia alimentação, acabaram com tudo. Hoje, o problema está muito grande. O novo governo federal reconheceu esse problema, a emergência, e instalou operação que vai completar o segundo ano, e tiraram mais de 25 mil garimpeiros. Como o governo gritou muito e os garimpeiros também gritaram muito, os garimpeiros se assustaram e, com o susto, muitos garimpeiros voluntariamente saíram da terra indigena Yanomami. Mesmo assim, viram que era só gritaria e retornaram. Hoje, eles não saem, só com a força da polícia. Os garimpeiros são fortemente armados. A própria polícia federal não consegue combater. Durante esse um ano, as forças de segurança e o Ibama foram tirar e prender na terra indígena Yanomani, mais de 200 (garimpeiros). Mas, ninguém está respondendo nenhum crime e não estão presos. Essas pessoas, que foram retiradas “de luxo”, de helicóptero, e levadas para Boa Vista, retornaram para a terra indígena Yanomami. Temos dificuldade porque hoje o garimpeiro e os financiadores percebem que a segurança do Brasil está fraca. Então entram para a terra indigena Yanomami sem medo, eles sabem que as forças armadas não vão fazer nada, não derruba helicóptero deles. Temos esse diálogo com o governo para realmente termos mais segurança. Quem tem mais estrutura para combater esses criminosos é o exército, tem mais homens, tecnologia e helicóptero. Se não, sempre vamos ver e ouvir que o povo Yanomami está morrendo, que foi contaminado, que vão morrer de malária e assassinados pelos invasores que são brasileiros. Estão falando que os garimpeiros são trabalhadores. A força tarefa, a casa do governo que foi instalada em Roraima está enfrentando, mas está longe de resolver, porque foram sete anos de estrago. Primeiro, reestruturando e planejando onde começar para proteger as vidas. A saúde é importante, estão só fazendo emergência, buscando quem está mais grave e levando para unidade de saúde e transferindo para cidade. Estamos também alertando o governo para fazerem planejamento de permanência, com plano de ação. Não queremos apenas que o governo se lamente. O mundo não indigena se resolve apenas com dinheiro. Se não tiver o dinheiro, pessoas, agentes públicos não vão para a terra indígena Yanomami. Para isso precisamos o recurso que seja aplicado na para segurança, saúde, educação, meio ambiente. Hoje, não temos água para beber e água é importante para todos nós. Hoje estamos enfrentando esse problema. Tem rio, mas é água contaminada. Se as crianças beberem, irão morrer.
 
JC - Tem alguma área no território Yanomami que esteja preservada?
Junior Hekurari Yanomami - Somente as comunidades do Amazonas que não foram invadidas pelos garimpeiros. Todas as comunidades de Roraima, mais ou menos 190 comunidades e 16 mil Yanomami foram afetadas diretamente pelos garimpeiros. Quem sofre mais são mulheres, principalmente, adolescentes e crianças. Várias vezes conversamos com adolescentes para saber como ajudar. Já fui ao Direitos Humanos. Como o poder público, polícia federal, polícia civil pode proteger principalmente as mulheres, que sentem medo. E sofrem muitas ameaças, (do tipo) “Se relatar para o Junior (entrevistado), para a Funai, para o governo, vamos matar você e sua família”. Esse medo que fizeram na cabeça delas. É difícil. Nas comunidades, enfrentamos esse problema grave psicológico. Mas, como resolver? Já cobramos o governo para termos diálogo.
 
JC - Você sofreu ameaças por ter denunciado um crime em uma das comunidades contra uma adolescente. Você ainda sofre ameaças?
Junior Hekurari Yanomami - Sim, todos os dias eu recebo ameaças, principalmente, nas redes sociais. Esse tipo de denúncias, em Roraima, em que os próprios garimpeiros ou familiares cometem crime ou familiares de políticos, chega a 70%. São ameaças que a gente sempre sofre. Essas denúncias de violência, recebemos informações da comunidade. Na terra indígena Yanomami não tem muita comunicação, não tem internet. Então, quando soube que uma adolescente de 12 anos e sua tia foram violentadas e mortas pelos garimpeiros, foi algo que pesou muito para mim. Então, tem que enfrentar essas denúncias. Até agora, nenhuma autoridade esclareceu isso. Acompanhei a comunidade, que eram mais de 60 pessoas, está em 20 morando lá.
 
JC - As pessoas foram mortas?
Junior Hekurari Yanomami - Isso é algo que queremos saber, como a comunidade Aracaçá diminuiu e por quê? Como temos essa pressão, os próprios garimpeiros pegaram essa comunidade e esconderam, pra não falar e não denunciar. Até agora estão nas mãos dos garimpeiros. Não conseguimos ter esse diálogo, se reunir. Nenhuma instituição pública consegue fazer essa diálogo nessa comunidade. A polícia federal não completou a investigação. Tem várias denúncias que fizemos. Há violência contra mulheres, assassinatos nas comunidades, duas crianças morreram. Se não tivessem os garimpeiros nas comunidades, essas crianças estariam vivas hoje. Eu denunciei muito para a polícia federal, que infelizmente não completa investigação, diz que é difícil e não tem como. Nós cobramos que tem que apurar, mas a polícia só quer ver o corpo. Mas, para nós, o corpo não pode ficar dentro da comunidade, tem que ir para a floresta fazer o ritual ou a cremação. É para nós sagrado. Por isso, a dificuldade das autoridades em investigar e responsabilizar os responsáveis. A população Yanomami morreu muito em silêncio porque é difícil ter comunicação nas comunidades.
 
JC - Como tem sido o contato com o governo federal? Consegue conversar com a Ministra Sônia Guajajara ou com outras autoridades que possam ajudar os Yanomamis?
Junior Hekurari Yanomami - Temos um diálogo aberto com a Ministra Sônia e sabemos que o Ministério dos Povos Indígenas não tem recursos, ele busca apoio de outros, principalmente da Casa Civil e Ministério da Justiça para o Estado brasileiro estar presente na terra indígena Yanomami. Nós, lideranças, recebemos muitas ameaças de morte. Eu, quando estou na cidade, sou escoltado. Não temos liberdade, nas ruas de Boa Vista, discurso de ódio nas redes sociais. Dá medo. Como a sociedade enxerga o povo Yanomami? Por que esse tom de dizer coisas ruins para nós? Não fizemos nada para a sociedade roraimense. Estamos lutando para garantir o nosso bem viver. Também temos família e filhos. A sociedade de Roraima, que são famílias de garimpeiros, de políticos, de financiadores, não pensam nisso, só querem fazer maldade contra a população Yanomami, porque não reconhecem o trabalho que a gente faz. Queremos segurança, não só das pessoas que estão representando a voz da população Yanomami, queremos segurança para todos nas comunidades. Queremos retornar ao bem viver, fazer as festas, os rituais, receber visitas das outras comunidades, como fizemos desde sempre, mas isso acabou. Os Pajés não conseguem mais fazer sua pajelança dentro das comunidades devido aos barulhos de motor dos garimpeiros próximo à comunidade. Bem viver foram interrompidos, futuros foram interrompidos. Isso é o que estamos buscando de volta.
 
JC - Hoje, o que o governo federal deveria fazer para ajudar?
Junior Hekurari Yanomami - Já falamos dos nossos sonhos para o governo federal. Desejamos que coloquem bases de proteção dentro do território Yanomami, o Ibama, a Funai, a Força Nacional de Segurança e educação, que é uma prioridade. Nós sofremos muito. Queremos essa educação diferenciada nas nossas comunidades que hoje não tem.
 
JC - Como a sociedade, sejam pessoas ou instituições, pode apoiar a causa Yanomami e dos povos indígenas?
Junior Hekurari Yanomami - O apoio da sociedade civil é importante. Dentro das cidades tem mais tecnologia, as redes sociais. Quando se fala nas redes sociais, as autoridades brasileiras se mexem. Enquanto não tiver essas influências, as autoridades não irão fazer. O jornalismo é importante, ele alerta. O governo não faz pensando em seu papel, ele faz diante da pressão. Precisamos que isso seja permanente, que a Constituição seja cumprida. Direito de ir e o direito de falar, porque nossas lideranças estão sendo caladas nas nossas próprias comunidades. Os garimpeiros apontam armas e os líderes são impedidos de falar.
 
JC - Você comentou que o ex-presidente Bolsonaro incentivou a chegada de novos garimpeiros e, pelo que ele permitiu que acontecesse com o povo Yanomami, ele foi denunciado internacionalmente. Você tem acompanhado esse caso?
Junior Hekurari Yanomami - Sim, a Corte Interamericana nos mencionou e ouviu os clamar e o choro das mulheres e dos homens. Sei que é ruim sempre buscarmos as comunidades internacionais, mas o próprio Brasil, o STF e a Justiça não fazem (sua parte em defesa dos povos indígenas). Então, precisamos sempre buscar internacionalmente. Para que não aconteça mais isso, precisamos que as pessoas sejam responsabilizadas pela omissão de socorro, pelo abandono. Ele falava na mídia, fizeram várias reuniões com os representantes dos garimpeiros em Brasília, temos fotos disso, com os garimpeiros vestindo a camiseta do Brasil, que também é nossa. Falamos para a Corte Interamericana que sejam responsabilizados pelos crimes cometidos na terra indígena Yanomami.
 
JC - Você falou sobre não ter água em condições de beber, porque está contaminada ou porque alguns rios secaram. Hoje vocês têm acesso à água, alimentos e saúde?
Junior Hekurari Yanomami - O governo ainda não apresentou as propostas para instalar água potável nas comunidades. As pessoas ainda estão bebendo água contaminada e, por isso, temos muitos casos de óbitos, de diarreias, de vermes, porque é através da água que se transmite. Nos polos bases, onde tem profissionais de saúde, instalaram alguns poços artesianos e sistema de água para a equipe tomar juntamente com os pacientes em recuperação. Já falamos, como vamos beber água? Pensam em construir um sistema de água para as comunidades? Tem 300 Yanomamis em cada comunidade.
 
JC - Vocês ainda precisam de uma resposta sobre como virá a água potável para beber?
Junior Hekurari Yanomami - Estamos buscando, principalmente com o Ministério da Saúde, para instalar novas tecnologias para água. Não tem como bebermos água contaminada, era para tomar a água limpa que a floresta oferecia. Não podemos ser punidos e sofrer tanto assim. Na área da saúde tem várias situações. Estamos enfrentando muitos casos de malária na terra indígena Yanomami. Os invasores fazem muitos buracos onde tem água parada, (vira) criadouro de mosquito. Onde não existia malária, está nascendo. A malária está nos matando também. Crianças recém nascidas e idosos estão com a doença. Uma pessoa pega várias vezes por ano. Hoje o Ministério da Saúde só está fazendo o tratamento, não está tendo prevenção. Para isso precisamos de uma força-tarefa do governo, médicos, técnicos, enfermeiros, principalmente, agentes de endemia especialistas para combater a malária. Estão faltando esses profissionais. O Ministério da Saúde abriu inscrições para 200 pessoas, mas as vagas não foram preenchidas.
 
JC - Você falou sobre a necessidade de educação nas comunidades. Qual seria o papel da escola?
Junior Hekurari Yanomami - Temos culturas diferentes desde criança. Passamos a educação de viver, de respeito, de como viver dentro da floresta. Cada criança saudável pode saber mais de 400 nomes de aves e mais de mil nomes de árvores de cabeça. A educação não indígena completaria esses direitos e saberes de como enfrentar as ameaças. Para futuramente termos advogados Yanomami, enfermeiras Yanomami, para cuidar da própria comunidade. A educação não indígena é importante porque nós, povos indígenas, não sabemos as leis específicas, onde estão escritos nossos direitos e como falar com as autoridades. Precisamos que os jovens estudem para falar a mesma língua jurídica das autoridades.
 
JC - Você teve alguma formação não indígena?
Junior Hekurari Yanomami - Não, não tenho formação superior. Aprendi a escrever para eu poder ler e ter essa comunicação com os não indígenas e as autoridades. Saí da comunidade e fui para cidade com mais de 24 anos. Na comunidade não tem escola e eu tinha curiosidade em escrever e ler a língua portuguesa para poder ter essa comunicação com o mundo não indígena, falar que precisamos desse apoio nas comunidades.
 
JC - A maior parte das pessoas da comunidade não se comunica em português?
Junior Hekurari Yanomami - A minha família não sabe falar português. Meu irmão está aprendendo na convivência com o pessoal da saúde, os médicos, pelo que ouve eles falando. Mas, 99% não fala português.
 
JC - Os profissionais da saúde, da Funai e do Ibama conseguem falar o idioma dos povos indígenas?
Junior Hekurari Yanomami - Essa é uma dificuldade. Os médicos não têm comunicação, mas, às vezes, os médicos que têm paciência conversam devagar, entende, explicam. Outras vezes, os profissionais estudam, o que é importante para a profissão, para melhorar essa comunicação. Se não, como vai se comunicar com o paciente? Ajuda bastante. E também os Yanomami que estão convivendo com os profissionais de saúde. Às vezes, quando não se tem esse entendimento, o pessoal liga pra mim para poder conversar. A comunicação é importante. As coisas que recebemos são da comunidade não indigena, como as vacinas, e isso precisamos explicar.
 
JC - Algum recado para a população que não sabe o que os Yanomami estão passando?
Junior Hekurari Yanomami - Compartilhar as informações corretas sobre o que está se passando nas terras indígenas é muito importante para ajudar o próprio governo a chegar nas terras indígenas. Nós não temos essas ferramentas e tecnologia para pedir socorro, pedir segurança, pedir apoio do governo federal através dessa influência digital e do jornalismo. Sabemos que os governos não fazem (o que é preciso) pensando que essa é a sua obrigação, é exercer a sua função. Por isso é importante dar apoio, procurando informações, para poder chegar nas grandes cidades, nas universidades, nas escolas para conhecer quem somos nós e porque somos indígenas dentro do Brasil.
 
JC - Em que sentido?
Junior Hekurari Yanomami - Poucas pessoas conhecem quem somos. É importante divulgar e fazer campanhas para conscientizar a sociedade que a invasão nas terras indígenas é ruim, derrama sangue e sofrimento. E também para saber que comprando ouro está colaborando para financiar os invasores nas terras indígenas. São três as que sofrem mais: Yanomami, Munduruku e Kaiapó. Não comprar outro é uma forma de manter nosso povo.

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