Porto Alegre registrou 43 ocorrências de incêndios residenciais em menos de 30 dias, entre 17 de dezembro de 2022 e 13 de janeiro deste ano. Na semana passada, quatro residências foram destruídas pelo fogo no bairro Navegantes. Antes disso, nos dias que antecederam o Natal, a situação foi ainda mais grave, quando duas crianças morreram após a casa em que residiam ser tomada pelas chamas em uma ocupação na Zona Norte da Capital.
O número representa um aumento de 95% no total de ocorrências em comparação com o período que iniciou na mesma data em 2021 e seguiu até 4 de janeiro do ano passado, quando foram registrados 22 incêndios em residências. Também aumentou o número de atendimentos com reforço de mais de um caminhão, de 5 para 18. As informações são do Departamento Municipal de Habitação (Demhab) com base em dados dos Bombeiros.
O cenário, que já preocupava, mobilizou representantes de diversos órgão públicos em uma força-tarefa para tratar quais os meios para conscientizar as comunidades, especialmente com população de baixa renda, onde mais são registrados casos, sobre as medidas de prevenção. O principal alerta é que, em qualquer situação, a primeira atitude a ser tomada deve ser ligar para o Corpo de Bombeiros, no número de emergência 193.
"No final de ano se costuma ter atenção maior com as comunidades, por causa das altas temperaturas e da fiação (elétrica). O que nos chamou atenção esse ano é que houve uma elevação das ocorrências", explica André Machado, diretor-geral do Demhab e titular da Secretaria Municipal de Habitação e Regularização Fundiária, que lidera a iniciativa conjunta. "Não podemos deixar que mais incidentes fatais aconteçam por falta de informação", sustentou em encontro do grupo na sexta-feira, dia 13.
Como exemplo das situações identificadas que levam ao sinistro está o uso de fogo dentro das casas para cozinhar. "Muitas famílias acabam também não tendo dinheiro para comprar gás e cozinham com sobras de madeira, o que é extremamente perigoso. Nosso pedido é que as pessoas evitem cozinhar de maneira informal," ressaltou Machado.
Outra causa que ganha atenção é a sobrecarga na rede elétrica, com casas construídas próximas de subestações e linhas de transmissão, ou que fazem uso de ligação irregular, quando o imóvel não é regularizado. "Na impossibilidade total de alguma modificação da política habitacional, de poder retirar as pessoas das áreas onde tem fiação e rede elétrica inadequada através dos 'gatos', entendemos que seria importante lançar uma grande campanha de conscientização", explica o secretário.
André Machado aponta que o desafio principal será levar a informação até o público mais vulnerável aos casos de incêndio em casa, pois nem sempre acessam redes sociais ou campanhas de comunicação na mídia. Para superar essa dificuldade, o governo irá inicialmente utilizar a estrutura das 17 subprefeituras para dialogar com lideranças comunitárias e com a população.
Na reunião do dia 13, a Major Jaqueline da Silva Ferreira, do 1° Batalhão de Bombeiro Militar, destacou o trabalho em conjunto com a prefeitura. "A integração é a única arma que dá resultado em um trabalho tão importante. Nas ocorrências a gente vê de tudo dentro das casas. Muitas famílias fazem fogueiras, o que acaba sendo uma situação muito triste, mas peço que vocês sempre divulguem que o único caminho é o 193," ressaltou.
Depois do sinistro
Após atendida a ocorrência de incêndio, inicia o processo de atendimento às famílias atingidas. Em Porto Alegre o serviço de assistência é prestado inicialmente pela Defesa Civil, com a distribuição de materiais de emergência, como colchões, cobertores, cesta básica e lonas. Em paralelo, a Fundação de Assistência Social e Cidadania (Fasc), vinculada à prefeitura, atua diretamente com a Defesa Civil e tem como algumas das suas atribuições acompanhar a família na resolutividade das demandas, providenciar acolhimento nos espaços de assistência ou na rede comunitária e encaminhar para o atendimento das demais políticas públicas.
Queimadas em vegetação também registram alta na Capital
Tempo quente e seco facilita a propagação do fogo em plantas
/Sérgio Louruz / SMAMUS / PMPA
No mesmo período em que Porto Alegre registrou aumento no número de incêndios residenciais, as queimadas em vegetação tiveram um salto ainda maior: foram registradas 139% ocorrências a mais na temporada 2022/2023 em comparação com a virada do ano anterior. De 17 de dezembro do ano passado a 13 de janeiro deste ano foram 175 ocorrências; de 17 de dezembro de 2021 a 4 de janeiro de 2022 foram 73.
Presente na reunião de sexta-feira passada, o secretário adjunto de Meio Ambiente, Urbanismo e Sustentabilidade, Maurício Loss, alertou para o maior risco de propagação de incêndio em períodos de pouca chuva. Das causas identificadas para a ocorrência de fogo em vegetação, as mais comuns são vandalismo, fogueiras, queima de lixo, fagulhas ou rompimento de cabos de eletricidade. Descuido com crianças e o uso de velas em rituais religiosos também são registrados.