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Ideias Sustentáveis

- Publicada em 25 de Agosto de 2022 às 16:00

Catadores de rua terão anistia das multas em Porto Alegre

Profissionais não terão que pagar dívidas por coleta na rua

Profissionais não terão que pagar dívidas por coleta na rua


Bruna Suptitz/ESPECIAL/JC
As multas recentemente aplicadas a catadores de materiais recicláveis em Porto Alegre serão anistiadas – é o que define projeto de lei aprovado na quarta-feira na Câmara Municipal. Com isso, trabalhadores autônomos multados não precisarão mais pagar os valores cobrados pela prefeitura. A proposta do vereador Airto Ferronato (PSB) teve anuência do governo, o que indica que será sancionada pelo prefeito Sebastião Melo (MDB).
As multas recentemente aplicadas a catadores de materiais recicláveis em Porto Alegre serão anistiadas – é o que define projeto de lei aprovado na quarta-feira na Câmara Municipal. Com isso, trabalhadores autônomos multados não precisarão mais pagar os valores cobrados pela prefeitura. A proposta do vereador Airto Ferronato (PSB) teve anuência do governo, o que indica que será sancionada pelo prefeito Sebastião Melo (MDB).
Desde o início da atual gestão, multas foram aplicadas aos catadores de rua com base no Código Municipal de Limpeza Urbana, lei de 2014 que define a coleta dos resíduos sólidos recicláveis – o lixo seco – como um serviço exclusivo Departamento Municipal de Limpeza Urbana (DMLU).
O cerco autorizado por Melo tinha o objetivo de inibir a busca de materiais na rua. Ir contra essa norma constitui falta gravíssima, com punição que passa dos R$ 7 mil. Nas galerias da Câmara, catadores exibiam papéis das multas durante a discussão do projeto.
As irmãs Stefani e Paula Guedes são catadoras e não chegaram a ser multadas - se fossem, perderiam a renda de vários meses com o parcelamento da dívida. "O resíduo, para os 'não formais', é um giro de renda. Na coleta seletiva, a pessoa vai como está e consegue tirar o pão de cada dia", conta Bibi, como Stefani é chamada. Para ela, a multa é como "tirar o sustento de quem não tem".
Mesmo sem dados oficiais, é perceptível que aumentou a quantidade de pessoas na rua que recorrem à coleta de material para reciclar, especialmente devido à pandemia e à atual crise econômica. Esse foi um dos argumentos sustentado pelo autor da proposta e repetido por vários outros vereadores que se manifestaram na tribuna.
Na justificativa, Ferronato cita que a Câmara aprovou "diversos projetos de leis" concedendo benefícios sobre dois tributos municipais, o IPTU – neste caso para imóveis de maior valor – e o ISS, reduzindo o valor de multas e juros por meio do programa Recupera POA. "Acredito positivo também anistiar pessoas de baixa renda", discursou o vereador.
Líder do governo, o vereador Cláudio Janta (SD) seguiu o argumento: "nós que isentamos impostos de várias áreas, vários setores, não podemos viver com essas pessoas sendo multadas". E completou sustentando que a anistia "não significa que não tenhamos que ter uma regulamentação".
Antes mesmo da sessão que anistiou as multas, a aplicação delas já vinha sendo criticada no meio político. O próprio prefeito dava sinais de que pretende buscar outra solução para o impasse com a categoria. As secretarias de Governança e de Desenvolvimento Social ficaram responsáveis pelo diálogo com os profissionais. A ideia é saber quantas pessoas em Porto Alegre trabalham com a separação e a venda dos materiais recicláveis de forma autônoma, ou seja, sem vínculo com cooperativas. A ideia é formalizar os grupos para que possam firmar parceria com a prefeitura.
Mas o processo não é simples. Há quatro anos Bibi e Paula criaram a SDV Reciclando – sigla para "sabor da vitória", que expressa o sentimento delas e de outras mulheres da Vila dos Herdeiros, na Lomba do Pinheiro, em trabalhar e ter acesso à renda. No entanto, ainda não conseguiram formalizar a cooperativa.

Falando em coleta na rua

Também tramita no Legislativo de Porto Alegre uma proposta da vereadora Bruna Rodrigues (PCdoB) que altera o Código Municipal de Limpeza Urbana para permitir que, além do DMLU, a coleta na rua possa ser feita por pessoas em situação de vulnerabilidade que tenham na reciclagem a sua única fonte de renda. Em emenda, indica que esses trabalhadores sejam encaminhados à cooperativas e associações.

Anistia não deveria ser geral, alega vereadora

Dentre os seis votos contrários à anistia das multas aos catadores, a vereadora Lourdes Sprenger (MDB) foi a única a se manifestar. A parlamentar alertou que seria preciso diferenciar quem recolhe o material na rua para o seu sustento daqueles chamados de “clandestinos” – pessoas que circulam com veículo motorizado recolhendo os sacos de lixo antes do caminhão da coleta seletiva. Da forma como o projeto foi aprovado, a anistia vale também para este grupo.
“Se tem caminhões em situação irregular, então, não podem circular, pois colocam em risco outras pessoas e também os motoristas”, alegou Lourdes. Nos casos em que a equipe da prefeitura não conseguia flagrar a pessoa recolhendo o material na rua – essa é uma das infrações passíveis de multa – a fiscalização focava na condição do veículo, multando o motorista por falta de licenciamento ou por não ter habilitação.
Há denúncias de descarte irregular do material sem valor para a venda – o que é rejeito, orgânico ou o seco que perdeu valor por estar misturado. Quando isso acontece, é a prefeitura que faz a limpeza. “Queremos a inclusão dessas pessoas e defendemos os galpões de reciclagem”, sustentou a vereadora.
Lourdes lembrou ainda que a prefeitura paga pelo serviço de coleta feito pela Cootravipa, que por sua vez encaminha os resíduos para as unidades de triagem. Em 2020 o contrato foi de R$ 7,8 milhões pelo serviço de coleta de resíduos sólidos.
Mas, com menos material na rua, diminui também a quantidade destinada aos galpões. Como consequência, reduz o rendimento dos trabalhadores, que são remunerados pela venda do resíduo já separado. Isso porque o valor repassado pela prefeitura para as cooperativas somente pode ser usado para a manutenção, e em muitos casos não é suficiente nem para pagar as despesas correntes.