Corrigir texto

Se você encontrou algum erro nesta notícia, por favor preencha o formulário abaixo e clique em enviar. Este formulário destina-se somente à comunicação de erros.

Ideias Sustentáveis

- Publicada em 18 de Agosto de 2022 às 21:25

Livro incentiva cidades a não gerarem lixo

Desafio das cidades é fazer os resíduos voltarem para as cadeias produtivas, explica Tainá

Desafio das cidades é fazer os resíduos voltarem para as cadeias produtivas, explica Tainá


ANDRESSA PUFAL/JC
Uma cidade verdadeiramente inteligente é uma cidade que não produz lixo. Quem defende isso é Tainá Wanderley, arquiteta e urbanista e autora, junto com o presidente do Instituto Lixo Zero no Brasil, Rodrigo Sabatini, do livro "Cidades Lixo Zero", lançado em março deste ano na Embaixada da Itália em Brasília.
Uma cidade verdadeiramente inteligente é uma cidade que não produz lixo. Quem defende isso é Tainá Wanderley, arquiteta e urbanista e autora, junto com o presidente do Instituto Lixo Zero no Brasil, Rodrigo Sabatini, do livro "Cidades Lixo Zero", lançado em março deste ano na Embaixada da Itália em Brasília.
Para compreender a fala da Tainá, precisamos prestar atenção ao vocabulário: lixo, segundo o dicionário, significa "coisa imprestável"; mas muito do que a gente "joga fora" tem valor e pode ser reaproveitado - neste caso, o nome é resíduo. Portanto, para não gerar lixo, a cidade precisa gerenciar bem os seus resíduos.
Nesta entrevista os autores explicam o conceito e contam como os governos locais, com apoio de outros setores e da população, podem começar a adotar os novos hábitos na relação com os resíduos. Mais informações sobre o livro estão no Instagram @livroclz.
Jornal do Comércio - O que é o conceito Lixo Zero?
Rodrigo Sabatini - A definição oficial é uma meta ética, econômica, eficiente e visionária para fazer as pessoas mudarem de comportamento de maneira a imitar a natureza, onde tudo o que é descartado por um é utilizado por outro, fechando o ciclo. Esse é o conceito clássico. Na prática, lixo zero é você diminuir o seu impacto sendo responsável pelo consumo e pelos resíduos provenientes desse consumo.
JC - O que define uma cidade lixo zero e como se tornar uma?
Tainá Wanderley - Lixo zero é um termo que nasce de uma perspectiva de diferenciação entre o que é lixo e o que é resíduo. Não queremos fazer parecer que não vamos mais ter o resíduo. Nós, como humanos que comemos, nos vestimos, temos atividades de lazer, de produção cultural, profissional… produzimos resíduos o tempo todo. Acordamos e produzimos resíduos. Este não é um modelo que prega coisas ilusórias, não estamos falando que o lixo zero é não ter mais resíduos. Partindo daí, uma cidade lixo zero é uma cidade que não trata mais os resíduos como lixo. Essa é uma resposta bem técnica, mas quando a pessoa se aprofunda mais no conceito e procura entender a diferença entre lixo e resíduo, na hora vai compreender. Então uma cidade lixo zero é aquela onde se consegue gerenciar bem os resíduos do nosso consumo e da nossa produção para que eles não se tornem lixo, para que a gente não misture as frações (materiais diferentes) e consiga fazer esses resíduos voltarem a ser recursos dentro de cadeias produtivas.
JC - Qual é o papel do governo?
Sabatini - A obrigação do poder público é desenhar e comunicar o futuro. Cabe a ele fazer o planejamento, um Plano 2030, por exemplo, e como vamos chegar lá. A partir desse plano estabelecer metas, regras, leis. Ao mesmo tempo, incentivar a população e a iniciativa privada, a academia, o cidadão geral, para que possam todos colaborarem. Uma vez que se tem o plano, o cidadão tem que ser responsável pelo seu consumo e dar encaminhamento correto aos seus resíduos e as empresas têm que buscar diminuir o seu impacto o máximo possível.
JC - Além dos governos, qual deve ser o envolvimento da sociedade, das empresas, das instituições com a implementação deste modelo?
Tainá - O poder público tem função de criar toda a condição necessária para o cidadão exercer o que é correto, a sua cidadania. Precisa criar infraestrutura. Então as reclamações que as pessoas fazem são válidas, tem que reclamar até que mude, até que tenha um caminhão separado em dias separados (para recolher diferentes tipos de resíduos). Mas eu acredito que as ações individuais precisam continuar, independente do poder público. E as grandes empresas precisam urgentemente mudar mundialmente a sua postura. O modelo que apresentamos no livro se insere tanto numa escala individual quanto numa escala empresarial, de instituição, de um órgão, quanto na escala urbana, da cidade, com adequação aos contextos específicos.
JC - O que é o conceito "da parte para o todo" e como isso funciona nas cidades?
Tainá - Por exemplo, quando os condomínios se tornam lixo zero, os restaurantes, as escolas… não tem muito como a cidade não ser. Assim não fica pesado de começar pensando no todo, no sistema urbano maior. Se você faz o piloto e tem o exemplo, como um bairro, já tem a referência para os outros bairros. Então, se você realmente começa com um exemplo e esse exemplo vai se multiplicando, depois o todo já está resolvido. Um passo de cada vez, uma coisa de cada vez.
 

Falando em RESÍDUOS

Um dos princípios da Política Nacional de Resíduos Sólidos, a responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos deve estabelecer atribuições a todas as partes envolvidas na geração do material que, se não voltar para a cadeia produtiva após o consumo, deixa de ser resíduo e se torna lixo. A sociedade toda entra nessa conta - a lei fala em fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes, consumidores e titulares dos serviços públicos de limpeza urbana e de manejo dos resíduos sólidos.

RECICLE!

Quando se trata da reciclagem, a lei federal prevê que os catadores sejam integrados nas ações (com dispensa de licitação para estabelecer contrato) e que o poder público municipal, além de ter coleta seletiva, implante um sistema de compostagem para os restos orgânicos recolhidos na cidade e articule com a iniciativa privada medidas para que os resíduos voltem para a cadeia produtiva - na lógica da logística reversa que já explicamos por aqui.