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Opinião

- Publicada em 29 de Julho de 2022 às 00:35

O Marco Global para a Biodiversidade – uma oportunidade para o Brasil

Vegetação nativa em áreas urbanas auxilia na redução do aquecimento climático

Vegetação nativa em áreas urbanas auxilia na redução do aquecimento climático


MARCO QUINTANA/arquivo/JC
No mês de julho, colunistas de diversos veículos de todo o Brasil foram convidados a cederem seus espaços para a publicação de artigos de opinião de cientistas de diferentes áreas do conhecimento, como parte da campanha #ciêncianaseleições, que celebra o Mês da Ciência.
No mês de julho, colunistas de diversos veículos de todo o Brasil foram convidados a cederem seus espaços para a publicação de artigos de opinião de cientistas de diferentes áreas do conhecimento, como parte da campanha #ciêncianaseleições, que celebra o Mês da Ciência.
Jean Paul Metzger
Professor Titular do Departamento de Ecologia – Instituto de Biociências e Instituto de Estudos Avançados – Universidade de São Paulo (USP)
No próximo mês de dezembro representantes de cerca de 190 nações deverão se reunir em Montreal para definir o Marco Global para a Biodiversidade, um conjunto de compromissos, metas e mecanismos financeiros voltados para a conservação, uso sustentável e repartição justa e equitativa dos benefícios oriundos da biodiversidade. Esse Marco, que é um documento das Nações Unidas, irá definir não apenas o futuro da biodiversidade, mas também a nossa capacidade de viver em harmonia com a natureza. Essa harmonia vai além do uso sustentável dos recursos naturais (o viver da natureza), pois ela busca também promover o viver com a natureza, na natureza, ou mesmo ser parte da natureza, respeitando todas as formas de vida e promovendo a saúde planetária.
 
O Brasil, como país megadiverso, tem muito a ganhar (ou a perder), a depender do que será decidido em Montreal. O compromisso será firmado por um governo em final de mandato, mas será executado pelos próximos governos – trata-se, na realidade, de um compromisso de estado, de longo prazo e com consequências duradouras.
 
Os benefícios da biodiversidade já estão claramente demonstrados. A polinização feita por abelhas nativas contribui na produção da maior parte das espécies cultivadas globalmente, com aumento de até 35% na produtividade. Apenas no Brasil, isso representa R$ 94 bilhões de reais de ganhos comerciais anuais. A vegetação nativa é crucial para a segurança hídrica, auxiliando na manutenção dos aquíferos, evitando erosão e assoreamento de rios, contribuindo para a qualidade da água, e assim economizando pelo menos 62 milhões de reais por ano em tratamento de água, apenas no sistema Cantareira, que abastece a cidade de São Paulo.
 
A vegetação nativa em áreas urbanas é crucial para a redução do aquecimento climático, melhora da qualidade do ar e prevenção de enchentes e escorregamentos. Dados em diversas cidades pelo mundo mostram que morar em bairros mais verdes reduz os índices de mortalidade e internação por doenças cardiovasculares, pulmonares e diabete, dentre outros, sendo assim um elemento crucial de prevenção de diversas doenças.
 
Ademais, restaurar vegetação nativa é o método mais barato de capturar carbono da atmosfera e amenizar os efeitos das mudanças climáticas. A manutenção da biodiversidade é ainda a forma mais efetiva de controlar o aumento das populações de espécies hospedeiras ou vetores de doenças zoonóticas, aquelas originárias de animais, como no caso da dengue, da malária, da febre amarela, da Zika e mesmo da Covid-19, contribuindo assim na redução de riscos de novas pandemias.
 
Estes são apenas alguns exemplos de benefícios providos pela natureza e sua biodiversidade, que mostram que o caminho de viver em harmonia com a natureza, pregado pelas Nações Unidas, é benéfico para todos, isto é, para nós, para as demais espécies, para a estabilidade do clima, para o planeta como um todo.
 
As soluções baseadas na natureza, que são aquelas que se aproveitam destes benefícios, contribuem tanto para o bem-estar humano quando para a conservação da biodiversidade. Elas têm que estar no centro das políticas públicas voltadas para problemas socioambientais. Essas soluções incluem desde pequenas intervenções, como jardins de chuva ou biovaletas, que reduzem os problemas de enchentes em cidades, até a conservação ou restauração de áreas naturais mais extensas, como manguezais ou várzeas, que prestam valiosos serviços de proteção costeira e de regulação de cheias, respectivamente. Essas soluções são efetivas, duradouras e de baixo custo, e no caso do Brasil, que possui um patrimônio natural extenso, essas soluções podem ser facilmente implementadas – basta saber e querer usá-las.
 
Mais do que um fardo, as metas a serem definidas em Montreal, no Marco Global para a Biodiversidade, podem ser oportunidades para mudanças transformadoras, colocando o país nos trilhos para uma transição sustentável. Precisamos apenas de vontade política para implementá-las.
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