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Opinião Econômica

- Publicada em 22 de Fevereiro de 2022 às 03:00

Homens brancos de alta renda (não) representam a sociedade?

Economista, Doutor em Teoria Econômica pela Universidade de São Paulo; foi pesquisador visitante na Universidade Columbia e é pesquisador do Insper
Economista, Doutor em Teoria Econômica pela Universidade de São Paulo; foi pesquisador visitante na Universidade Columbia e é pesquisador do Insper
Vamos com calma. O título está um pouco confuso e provocativo, eu sei. Mas meu objetivo aqui é tentar ajudar a desenvolver um debate público construtivo em torno de temas sensíveis. Garanto que o texto será mais equilibrado.
Primeiramente, é importante lembrar que os homens brancos de alta renda representam o grupo dominante. Isso é um fato bem documentado pelas estatísticas. Em todos os espaços com maior status social e poder da sociedade brasileira, eles estão dominando.
Alguns tiveram uma origem desfavorecida e batalharam para avançar na vida. Contudo, a maioria está em suas posições por influência familiar. Desses, muitos aproveitaram suas condições socioeconômicas favoráveis e se tornaram pessoas brilhantes. Outros não tiveram o mesmo empenho. Só chegaram aonde estão porque a loteria do nascimento ajudou.
Apesar disso, muitos estão genuinamente empenhados em transformar o Brasil. Entretanto, o viés de classe, gênero e raça pode afetar, em diversas situações, como eles interpretam os fatos e a qualidade de suas análises, comprometendo, assim, a efetividade de suas ações e o desenho das políticas públicas.
Isso ocorre porque a trajetória de um indivíduo influencia a forma como ele percebe e responde ao mundo. Por mais dedicada que uma pessoa possa ser na tentativa de resolver problemas complexos e ajudar no progresso da humanidade, existe uma parte do aprendizado que só é adquirida a partir das experiências pessoais.
O conhecimento tácito é difícil de ser codificado e transmitido através do ensino; ele precisa ser vivido. Desse modo, um homem branco de alta renda muitas vezes terá dificuldade de entender os dilemas enfrentados por mulheres, negros e por aqueles que enfrentam diariamente os desafios de sobreviver com baixa renda.
Evidentemente isso não quer dizer que eles não possam fazer contribuições significativas para esses grupos. No entanto, o ponto central é que a sua percepção para determinados problemas será amplificada quando conseguirmos construir uma sociedade mais integrada.
Além disso, suas preferên- cias podem destoar dos outros grupos sociais. É difícil de- fender que, na média, os homens brancos de alta renda darão o mesmo peso que as minorias para temas que não os afetem diretamente, como, por exemplo, feminicídio, assédio sexual, demarcação de terras indígenas, escola e saúde públicas de qualidade e violência contra negros e desfavorecidos.
Nesse contexto, a ampliação da diversidade nos espaços de decisão ajudará a lidarmos de forma mais assertiva com os problemas que afligem a população. Um processo de inclusão bem gerido tem o potencial de se tornar um importante indutor de progressos sociais e de prosperidade econômica.
Nesse processo, é fundamental investirmos na forma- ção das pessoas para que elas adquiram maiores competências e possam dar respostas à altura dos desafios que a sociedade brasileira enfrenta. Ao mesmo tempo, precisamos ter cuidado para identificar aqueles talentos que foram formados e não estão encontrando espaço por falta de oportunidades.
* O texto é uma homenagem à música "Manda Chamar", interpretada por Griot, com participação de Roberto Mendes e Tiganá Santana. O vídeo de Griot cantando essa música, em um dos melhores shows realizado no Sesc Pompeia, está disponível no YouTube.
 
Michael França
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