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Opinião Econômica

Publicada em 21 de Novembro de 2025 às 00:25

Como conter o aquecimento global?

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Agências
Bernardo GuimarãesDoutor em economia por Yale, foi professor da London School of Economics (2004-2010) e é professor titular da FGV EESP
Bernardo Guimarães
Doutor em economia por Yale, foi professor da London School of Economics (2004-2010) e é professor titular da FGV EESP

Quanto custam os danos ao meio ambiente?
Por exemplo, a emissão de dióxido de carbono (CO2) é considerada a principal causa do aquecimento global. Qual o custo social de emitir CO2?
Há muitas estimativas na literatura, e muita variação entre elas. Os mais otimistas colocam o custo de emitir uma tonelada de CO2 perto de € 50. Os mais pessimistas chegam a centenas de euros ou até mais. O valor de € 100 por tonelada emitida de carbono (cerca de R$ 600) é um ponto de partida razoável para essa discussão, entendendo que o custo pode ser um pouco menor ou bem maior.
O que significa esse número?
Estimativas de emissões de CO2 de cada produto variam menos: cerca de 2,3 kg de CO2 por litro de gasolina, um pouco mais para o diesel; algo de 20 kg a 60 kg de CO2 para a carne bovina, mas de 5 kg a 10 kg de CO2 para o frango e menos de 1 kg para feijão; 15 kg a 20 kg de CO2 para o café, mas menos de 1 kg para o chá de camomila; 20 kg a 25 kg de CO2 para o queijo, mas um décimo disso para o tofu.
Usando um custo social de R$ 600 por tonelada, as diferenças de impacto ambiental entre produtos ficam claras. Um litro de gasolina implica um custo climático de cerca de R$ 1,40. Um quilo de carne bovina gera um custo de R$ 12 a R$ 36, enquanto o do frango fica entre R$ 3 e R$ 6, e o feijão, abaixo de R$ 0,60. Um quilo de café gera um custo de R$ 9 a R$ 12, ao passo que o chá de camomila fica abaixo de R$ 0,60. Já o queijo implica um custo de R$ 12 a R$ 15 por quilo, enquanto o tofu custa um décimo disso.
É razoável que produtores e consumidores arquem com esses custos?
Com essa pergunta, a indignação com a falta de ações para conter o aquecimento global transforma-se em inação. Quase consigo escutar os protestos: já pagamos muitos impostos, a questão é mais complexa, há outros meios, é preciso subsidiar tecnologias limpas etc. etc. etc.
Colocar os custos nos produtos que geram emissões de CO2 não é apenas razoável. É justo, pois arca com o custo quem usufrui do benefício, e economicamente eficiente.
Com o custo das emissões colocado nos produtos, teremos mais incentivos para comprar carros que poluem menos, consumiremos mais frango e feijão e menos carne bovina. Quem não quiser trocar compensará a sociedade pelo custo social da emissão. Eu não vou substituir o queijo pelo tofu, mas estou feliz em tomar chá de camomila em vez de café.
Assim, teremos menos emissões no presente e mais incentivos para desenvolver tecnologias e produtos que emitam menos CO2 no futuro.
A carga tributária não precisa aumentar. Esses impostos podem substituir outros. Por outro lado, subsídios ao desenvolvimento de tecnologia limpa aumentam a carga tributária —alguma hora precisaremos de impostos para financiar esses subsídios.
Líderes mundiais estão reunidos na COP30, em Belém. Aparentemente, estão buscando soluções para conter os danos ambientais provocados por ação humana. A dificuldade é que alguém precisa pagar a conta.
Ninguém ganha eleição prometendo menos picanha, mas precisamos onerar a emissão de CO2 para que consumidores e produtores façam suas escolhas considerando o custo ambiental. Afinal, estamos dispostos a arcar com os custos de preservar o meio ambiente?

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