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Opinião Econômica

Publicada em 17 de Setembro de 2025 às 19:22

Amor em tempos de polarização

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Agências
Lorena Hakak, doutora em economia e professora da FGV. Atua como presidente da GeFam (Sociedade de Economia da Família e do Gênero)
Lorena Hakak, doutora em economia e professora da FGV. Atua como presidente da GeFam (Sociedade de Economia da Família e do Gênero)

A cantora Taylor Swift anunciou, no final de agosto, seu noivado com o jogador de futebol americano Travis Kelce pelas redes sociais. O anúncio gerou grande repercussão entre os jovens. Entretanto, a formação de casais não tem sido nada fácil.
A preferência por similaridade na formação de casais pode ser determinante para muitas pessoas na escolha de um relacionamento. Diversos fatores podem influenciar tanto a decisão de iniciar quanto a de permanecer em uma relação.
A pesquisa Ideal Partner Survey realizada em 2018 em mais de 180 países, analisou quais características são valorizadas na escolha de parceiros por homens e mulheres. O levantamento inclui itens como segurança financeira, escolaridade, aparência física, inteligência, similaridade política e religiosa, entre outros. Grande parte da amostra é composta por pessoas de 18 a 24 anos. Alguns pontos chamam a atenção no caso do Brasil: escolaridade, religião e visão política. Segundo a pesquisa, 82% das mulheres consideram a escolaridade um fator decisivo. Esse resultado é muito parecido com os observados no México e na Colômbia, mas bem superior ao registrado, por exemplo, na Dinamarca e na Inglaterra.
Quando analisamos os dados entre países, em geral, observa-se o chamado positive assortative mating (casamento seletivo positivo) em escolaridade, ou seja, a tendência de casamento seletivo entre pessoas com o mesmo nível educacional. Nesse sentido, os resultados do Brasil não diferem tanto dos de outros países.
Segundo os dados da Pnad Contínua (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua), mulheres de 18 a 45 anos têm, em média, 12 anos de escolaridade, enquanto os homens apresentam 11,3. Ao observarmos os casais por grupos de escolaridade, a proporção de mulheres casadas com nível de instrução superior ao de seus maridos aumentou de 20%, em 1982, para 32% em 2014. Já a proporção de casais com o mesmo nível de escolaridade caiu de 60% para 48%.
No jargão da Economia da Família, costuma-se dizer que as mulheres estão "casando-se para baixo". Essa transformação pode ajudar a explicar por que, no Brasil, a variável escolaridade é especialmente relevante para as mulheres. Infelizmente, a Pnad Contínua não dispõe mais de informações sobre o estado civil, o que impossibilita uma análise mais aprofundada sobre a estrutura das famílias.
A similaridade política foi apontada por 34,3% das mulheres como uma variável importante na busca por um parceiro, enquanto para as americanas esse percentual era de 25,2% e, no México, apenas 8%. A polarização política, que vem se intensificando nos últimos anos, pode ter se tornado mais um obstáculo na formação de casais. Outras pesquisas realizadas nos Estados Unidos mostram que as mulheres tendem a se deslocar mais para o espectro político à esquerda, enquanto os homens se aproximam da direita.
Além da política, a religião também aparece como um fator relevante. Essa característica foi mencionada por 33% das mulheres brasileiras, em comparação com 39% entre as americanas. Desde 1970, observa-se uma mudança expressiva na composição religiosa no Brasil, marcada por um aumento na proporção de pessoas que se identificam como evangélicas em relação às católicas. Segundo o IBGE, em 2022, 56,7% das pessoas se declararam católicas e 27% evangélicas -em relação a 1970, uma redução de quase 33 pontos percentuais no grupo católico e uma ascensão significativa no grupo dos evangélicos.
Segundo a Pnad Contínua, a proporção de domicílios formados por casais entre 18 e 45 anos caiu de 68% para 55% entre 2012 e 2024. A maior heterogeneidade religiosa e a intensificação da polarização política podem ajudar a explicar as dificuldades em encontrar parceiros. Assim, ao se acrescentarem essas variáveis ao conjunto de exigências para a formação de relacionamentos, a busca por parceiros tornou-se ainda mais desafiadora. Nesse contexto, seria interessante que os institutos de pesquisa passassem a coletar informações mais detalhadas sobre a formação de famílias.

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