Marcos de Vasconcellos
Descobri, um dia desses, em uma discussão entre investidores, o "paradoxo da cerca", segundo o qual a existência de uma proteção evidente estimularia comportamentos perigosos. O tema vem a calhar, com as novidades no caso do banco Master.
A ideia é: quando colocamos uma cerca em uma curva sabidamente perigosa, motoristas passam a dirigir com menos cautela no trecho. No caso do Master, a possibilidade de ser socorrido pelo FGC (Fundo Garantidor de Crédito) teria incentivado práticas predatórias de captação de investidores.
O raciocínio é interessante mas, antes de me aprofundar, quero deixar claro que discordo de sua aplicação para discutir a extinção das proteções aos investidores deixados à deriva. A questão, a meu ver, é sobre identificar o mau uso do FGC por instituições.
Antes de sua debacle, o banco Master ficou conhecido no mercado pela oferta agressiva de títulos de renda fixa, principalmente os CDBs (Certificados de Depósito Bancário), com prêmios muito acima do que costuma ser pago.
Os CDBs são basicamente empréstimos que os investidores fazem para bancos. Como sempre, quem precisa de mais dinheiro, oferece prêmios melhores. Por isso, CDBs de bancos maiores costumam pagar menos para seus titulares do que os de bancos médios e pequenos. Como o risco de emprestar dinheiro para uma instituição grande e consolidada é menor, logo, o retorno esperado também será.
A existência do FGC, entretanto, muda, ou mascara esse jogo. O fundo serve para garantir liquidez para investidores quando as instituições vão para o brejo. E cobre investimentos em alguns ativos, entre os quais, os CDBs, no valor limite de até R$ 250 mil, investidos pela mesma pessoa ou empresa, em cada instituição.
Com a "cerca" do FGC, os investidores são levados a crer que investir em um CDB de um banco recém-criado teria a mesma segurança que títulos semelhantes emitidos pelo Itaú, Banco do Brasil ou BTG, já que todos estariam cobertos pela mesma garantia.
Discursos assim (também chamados de "pitch de vendas") se espalham como rastilho de pólvora pelo mercado. Eles foram a base para distribuir aos montes os títulos do Master, com prêmios irreais, levando o banco a ampliar sua base de clientes em uma velocidade incrível. Ou seja: em vez de servir para proteger investidores, o FGC serviu como base da estratégia de expansão do banco.
Encurtando a história: O banco tomou uma surra da realidade e, não havendo possibilidade de honrar suas dívidas, passou a buscar compradores. O BRB (Banco de Brasília) havia costurado um acordo para comprar o que restou, mas, na última semana, o Banco Central vetou a jogada. Apontou que os riscos assumidos na compra poderiam levar a quebradeira para o BRB, em vez de ajudar os clientes do Master.
Agora, os investidores atraídos pelas ofertas "generosas" dos títulos do Master estão mais perto de serem obrigados a acionar o FGC para reaver o seu dinheiro. O volume a ser movimentado, entretanto, é tão grande que talvez o fundo tenha que pedir novas contribuições das instituições financeiras que o mantêm.
Se bancos e corretoras forem instados a aumentar sua contribuição para o FGC, você deve imaginar de onde, no fim das contas, vai sair o dinheiro.
Em outras palavras, investidores como você e eu poderão pagar pela jogada agressiva do marketing de um banco em busca de clientes.
Jornalista, assessor de investimentos e fundador do Monitor do Mercado