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Opinião Econômica

Publicada em 26 de Agosto de 2025 às 19:12

Trump briga com o Fed e a inflação demorará, mas virá

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Agências
Bernardo Guimarães, doutor em economia por Yale, foi professor da London School of Economics (2004-2010) e é professor titular da FGV EESP
Bernardo Guimarães, doutor em economia por Yale, foi professor da London School of Economics (2004-2010) e é professor titular da FGV EESP

Em 2023, era Lula quem colocava pressão sobre o Banco Central por juros mais baixos. O economista Henrique Santos identificou os exatos minutos em 18 falas de Lula que tiveram impacto na mídia e mostrou que preços no mercado financeiro reagiam imediatamente: a Bolsa caía e o dólar subia.
Há bastante incerteza quanto ao tamanho desse efeito, mas uma estimativa é que os 18 eventos somados teriam aumentado o valor do dólar em cerca de 5%. Esse efeito teria sido compensado por quedas causadas por atos e palavras, do governo ou do Banco Central, na direção contrária.
Exemplificando a forte reação dos mercados à suspeita de pressão política, em maio de 2024, uma decisão do Copom teve os cinco diretores do BC indicados por Bolsonaro votando por uma redução de 0,25 p.p. na Selic e os quatro diretores indicados por Lula votando por uma redução de 0,5 p.p..
Participantes do mercado financeiro interpretaram como um sinal de que, com o presidente do Banco Central indicado por Lula, a política monetária em breve seria mais frouxa.
Com juros a 15% ao ano, é forçoso concluir que a interpretação estava errada. O Copom tem sete membros indicados por Lula (dois por Bolsonaro) e não tem sido nada leniente com a inflação.
Agora é Trump quem coloca pressão sobre o banco central norte-americano (o Fed), mas, diferentemente de Lula, ele vai muito além das palavras. Nesta semana, ele anunciou a demissão de Lisa Cook, uma diretora do Fed, com uma justificativa que obviamente não teria sido usada se ela estivesse votando pela redução nas taxas de juros.
Esse não é um fato isolado. Há poucas semanas, quando os números sobre o emprego não o agradaram, Trump demitiu a chefe do equivalente ao IBGE nos EUA.
Há motivos de sobra para acreditar que ele continuará colocando pressão na política de juros, e a chance de o próximo presidente do Fed agir submisso a Trump é, no mínimo, considerável.
Entretanto, a reação dos mercados financeiros não tem sido muito forte. A expectativa de inflação embutida nas taxas de juros dos títulos públicos anda por volta de 2,5% ao ano para os próximos anos. O dólar se desvalorizou bastante desde o início do ano, mas os índices da Bolsa estão até mais altos que em janeiro -ainda que ao menos em parte isso esteja refletindo expectativas de juros menores.
Já há conversa sobre quedas nos juros na próxima reunião do Fed. De fato, o mercado de trabalho está mais fraco e há preocupações com o desemprego. Porém, a inflação está acima da meta de 2%, e as tarifas, combinadas com a desvalorização do dólar, devem colocar pressão nos preços. O problema não é falta de demanda. Não há razão para reduzir juros.
Minha opinião é que os preços de mercado estão excessivamente otimistas com a economia americana. Vou arriscar previsões; podem me cobrar no final do ano que vem.
A inflação por lá não aumentou como alguns tinham previsto e ainda vai demorar para aumentar substancialmente, mas no segundo semestre de 2026 estará mais alta e incomodando. Vários setores da economia estarão com queda na atividade. Trump culpará Biden, as trapaças dos estrangeiros e dos inimigos do rei e dirá que são tudo pequenas coisas e tudo deve passar.
Os problemas, porém, persistirão.

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