Bernardo Guimarães, doutor em economia por Yale, foi professor da London School of Economics (2004-2010) e é professor titular da FGV EESP
A taxa de desemprego, divulgada ao final do mês passado, está abaixo de 6% e os jornais já falam de escassez de mão de obra em alguns setores da economia. O PIB cresceu por volta de 3% ao ano em 2022, 2023 e 2024 e deve crescer mais de 2% neste ano. Nossa economia vai bem então?
O PIB mundial tem aumentado cerca de 3% ao ano nesse período, e a economia de países emergentes cresce, em média, mais rapidamente. Assim, na comparação com o resto do mundo, o desempenho do Brasil não impressiona. Entretanto, para os padrões brasileiros das últimas décadas, esses números são bons, já que temos crescido em média bem menos que a média dos emergentes.
Esse assunto sempre atiça os torcedores dos diferentes grupos políticos. Esses números resultam das políticas do governo atual ou das medidas de governos anteriores? Políticas públicas tipicamente têm efeitos que duram muito mais que um mandato e frequentemente demoram para começar a afetar a economia, então nunca é claro quem deve levar as culpas e os méritos.
Antes de entrar nesse assunto, precisamos entender o que significam esses números sobre emprego e produto -e seria saudável guardar as bandeiras dos times políticos na hora de ler as notícias e análises econômicas.
A baixa taxa de desemprego reflete o maior número de empregos e uma taxa de participação no mercado de trabalho menor -a população está envelhecendo. Mesmo considerando isso, os números sobre o emprego são muito bons e devem ser celebrados.
Escassez de mão de obra é o mesmo que abundância de oferta de empregos. É, portanto, em princípio, boa notícia para a economia como um todo. Queremos que as pessoas ganhem mais, e a melhor forma de conseguir isso é com uma demanda maior por trabalho. Quando formos um país desenvolvido, não teremos motoboys para trazer um papel do outro lado da cidade por R$ 12 nem trabalhadores disponíveis a um custo efetivo de R$ 100 por dia.
Claro, para as empresas que querem contratar, isso implicaria maior dificuldade de achar um profissional ou a necessidade de pagar salários maiores. Algumas não conseguirão contratar e acabarão cedendo espaço para outras que conseguem. É parte do processo de desenvolvimento.
Contudo, ainda estamos longe disso. Para um aumento significativo da renda das pessoas, precisaríamos de crescimento econômico robusto ao longo de vários anos. Isso traz uma questão importante: a economia está, de alguma maneira, aquecida demais, vai ter que esfriar nos próximos tempos para compensar?
Se há bastante demanda na economia por políticas fiscais ou monetárias, há mais atividade econômica, mas também há mais inflação. A inflação é, portanto, um bom termômetro para medir esse aquecimento da economia.
Esse termômetro mostra que a economia está de fato mais aquecida do que gostaríamos. A inflação deste ano deve fechar próxima a 5%. Não é a política monetária que está estimulando a economia -os juros estão na estratosfera. Então quem está pondo lenha na fogueira é a política fiscal. Para a inflação cair, precisamos esfriar, e o ajuste deveria vir do lado fiscal. Isso tende a frear o crescimento, mas não há outra saída.
Ainda assim, devemos ficar felizes com a taxa de desemprego de 5,8%.