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Opinião Econômica

Publicada em 04 de Agosto de 2025 às 00:25

Política fiscal frouxa com juros altos é o pior dos mundos

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Agências
A Selic no Brasil, em 15%, continuará alta até a inflação ficar abaixo da meta. Isso é escolha pública, pois temos histórico de terceirizar o combate à inflação para o Banco Central, quando a maior responsabilidade é do Executivo e do Congresso. Falta coordenação entre nossa política fiscal e monetária.
A Selic no Brasil, em 15%, continuará alta até a inflação ficar abaixo da meta. Isso é escolha pública, pois temos histórico de terceirizar o combate à inflação para o Banco Central, quando a maior responsabilidade é do Executivo e do Congresso. Falta coordenação entre nossa política fiscal e monetária.
Essa descoordenação é o resultado de um ciclo político resistente a controle de gastos e banco central disposto a reduzir inflação a qualquer custo. Paul Volcker jogou os juros americanos a 20% no início dos anos 1980, pois o Congresso resistia a acertar as contas públicas.
O governo de Liz Truss caiu em 2022 porque propôs aumentar o déficit no meio de processo inflacionário. Terceirizar o combate à inflação somente para o banco central custa crescimento a longo prazo, seja em país rico, seja em país pobre. Em 2024, o Fed subiu os juros a patamares que não eram vistos desde 2000.
São quatro as combinações de políticas fiscais e monetárias. Três podem ser consideradas coordenadas, pois são úteis em determinadas situações.
Cada política pode ser dividida em expansionista e contracionista. No primeiro caso, o objetivo é fazer o país crescer, enquanto no segundo é controlar a inflação e gerar credibilidade. Austeridade ou juros altos criam credibilidade porque não existe Tesouro público ou banco central no mundo que goste de usar medidas para frear a economia: a reação pública é sempre negativa. Ninguém gosta de maiores impostos ou juros.
A combinação de austeridade fiscal com juros altos é usada quando há crise profunda de credibilidade. Foi esse o alicerce do Plano Real, do Plano Shekel, em Israel, e da tentativa da Argentina de reduzir a inflação, mais recentemente.
Para acabar com a hiperinflação israelense, Shimon Peres liderou um governo que cortou o déficit público de 17% para 9,5% do PIB em poucos meses e jogou os juros nas alturas. Luis Caputo conseguiu algo que parecia impossível, entregando superávit público de 0,3% (e aumento da pobreza) na Argentina, no ano passado. Não existe reforma sem dor.
Política fiscal contracionista com juros baixos é combinação aceitável quando um governo tem problemas de credibilidade, mas a economia está fraca. Ao sinalizar que vai cumprir seu dever de casa, os juros podem cair, criando um ciclo virtuoso.
Esse tem sido o pilar das políticas macroeconômicas da Noruega, de Singapura e da Suíça, os três países mais ricos do mundo. Todos gastam menos do que arrecadam, com superávits de 13,2%, 0,58%, e 0,4% do PIB em 2024, respectivamente, quando há pressão inflacionária. Têm superávits porque são ricos ou são ricos porque são responsáveis?
Gastos públicos em alta com juros baixos podem ser usados em grandes crises. Durante a Covid, todos os países abriram os cofres públicos enquanto os bancos centrais jogaram juros perto de zero. É caso de emergência, mas acontece.
A única combinação sem sentido é política fiscal frouxa com juros altos. Esse é o pior dos mundos, pois os juros aumentam a dívida, retroalimentada pelo descalabro das contas públicas. Teimamos em escolher isso em governos de esquerda, direita, centro, alto e baixo. IOF não acerta contas. Ou criamos credibilidade fiscal de verdade ou os juros continuarão estratosféricos. Para sempre.
 

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