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Opinião Econômica

- Publicada em 10 de Junho de 2024 às 01:25

Blusinhas são o novo aço

De repente, as tarifas sobre a importação de roupas e bugigangas de até US$ 50 viraram assunto obrigatório do noticiário econômico e das redes sociais. A aprovação do fim da isenção pela Câmara dos Deputados causou uma avalanche de especulações sobre seus efeitos.
De repente, as tarifas sobre a importação de roupas e bugigangas de até US$ 50 viraram assunto obrigatório do noticiário econômico e das redes sociais. A aprovação do fim da isenção pela Câmara dos Deputados causou uma avalanche de especulações sobre seus efeitos.
As empresas mais afetadas se manifestaram. Shein e AliExpress chamaram a taxação de "retrocesso" e calcularam que seus produtos mais baratos pagarão uma alíquota de 44,5% de imposto. Jogo jogado.
Chamou a atenção a Shopee, também chinesa e com público bem semelhante às outras duas, elogiar a medida. A empresa sacou da cartola um número chamativo: A cada 10 compras feita no Brasil em sua plataforma, 9 são de produtos nacionais.
Ironia: blusinhas e bugigangas que acreditávamos serem fabricadas a preços irrisórios na China estão, na verdade, sendo produzidos a preços irrisórios aqui mesmo.
As ações de varejistas nacionais do mundo da moda reagiram inicialmente bem. No dia seguinte à aprovação do projeto pela Câmara (e aqui ressalto que ainda precisa passar pelo Senado), ações da Lojas Renner (LREN3) tiveram alta de 1,29%; e as da C&A, (CEAB3) subiram 5,25%.
O movimento pontual das ações não consegue maquiar o cenário terrível que foi o mês de maio para ambas. No acumulado do mês, os papéis caíram 14% (Renner) e 12% (C&A). O Ibovespa, principal medida da nossa Bolsa, caiu 2,9% no período.
Esse tipo de euforia imediata com o aumento de tarifas sobre concorrentes chineses lembra o caso das siderúrgicas. Completou-se um mês desde que o governo Lula elevou a tarifa para importação do aço chinês para 25%.
A medida foi tomada depois de players do setor colocarem a faca no pescoço do governo (falei sobre isso aqui) ameaçando retirar seu apoio político, muitas vezes traduzido em doações polpudas, às vésperas de eleições municipais.
O imposto veio, mas não me parece que tenha destravado valor das empresas nacionais. Desde 22 de abril, às vésperas do aumento de tarifas, as ações da Usiminas (USIM5) despencaram mais de 22%; as da CSN (CSNA3) caíram mais de 11%; e as da Gerdau (GGBR3) perderam mais de 5% do valor.
A fim de comparação, o Ibovespa caiu pouco mais de 2,5% no período.
Veja bem, não estou aqui discutindo o quanto as novas taxações podem ajudar o governo a fechar as contas, nem se são justas ou injustas para com a indústria nacional. Apenas chamo a atenção para os parcos efeitos sobre o valor das empresas ao sufocar a concorrência com tarifas.
O nosso varejo sofre. E continuará sofrendo enquanto persistirem as taxas de juros astronômicas, usadas como método de controle de uma inflação duradoura. Não há remédio para ele que não seja o aumento do poder de compra das famílias. Espantar concorrentes estrangeiros é mais espuma do que chope.
Quanto à indústria, os efeitos dos juros são a falta de dinheiro para investir em crescimento. O setor está sufocado e vai buscar culpados aqui ou na China. Os resultados estão na mesa, com pistas que não podem ser ignoradas.