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Opinião Econômica

- Publicada em 10 de Abril de 2024 às 19:50

Imigração no debate eleitoral dos EUA

Entre os temas que prometem movimentar o debate eleitoral americano está a posição de republicanos e democratas sobre imigração. Em discurso recente, Trump chamou os imigrantes ilegais nos Estados Unidos de "animais". Para ele, as pessoas que chegam aos EUA de forma ilegal são "prisioneiros, assassinos, traficantes de drogas, pacientes mentais e terroristas".
Entre os temas que prometem movimentar o debate eleitoral americano está a posição de republicanos e democratas sobre imigração. Em discurso recente, Trump chamou os imigrantes ilegais nos Estados Unidos de "animais". Para ele, as pessoas que chegam aos EUA de forma ilegal são "prisioneiros, assassinos, traficantes de drogas, pacientes mentais e terroristas".
Esse posicionamento vai de encontro à visão de Biden, que reformulou diversos aspectos da política migratória americana durante seu governo, a exemplo da expansão do programa de refugiados e do direito de permanência temporária de pessoas ainda inelegíveis a ficar.
Em provável resposta a essas mudanças e ao fim das restrições de mobilidade do pós-Covid, o número de imigrantes escalou para níveis surpreendentemente altos nos últimos anos. As estimativas indicam que imigração acrescentou 2,6 milhões de pessoas à população americana em 2022 e 3,3 milhões em 2023.
Essa quantidade é cerca de três vezes a média de 2010-2019, em 900 mil por ano. Grande parte do aumento veio da categoria que engloba os imigrantes ilegais, já que as categorias dos que adquirem status de residente permanente ou que ingressam nos EUA com visto de estudante ou para trabalho temporário mantiveram-se relativamente estáveis.
Mas, diferentemente do que se vê na retórica político-eleitoral, o verdadeiro debate sobre a política de imigração americana não deveria estar centrado na relação entre crime e imigração, considerando que as evidências em estudos recentes são pouco conclusivas.
Ao contrário, a imigração se apresenta como ótima candidata para explicar a boa performance da economia americana dos últimos anos. Isso porque o aumento da população e da oferta de trabalhadores trazida pelos imigrantes sustenta a expansão do emprego sem maiores pressões sobre salários.
Além disso, os ganhos de renda dos trabalhadores se convertem em consumo e crescimento, em um grande ciclo virtuoso que acrescenta ainda mais dinamismo à economia. Acredita-se que a economia americana hoje seja capaz de absorver, de forma sustentável, o dobro de trabalhadores que poderia absorver sem os imigrantes.
Mudanças no tamanho da população, bem como a sua composição etária, afetam significativamente as perspectivas para a economia e para o orçamento público, através do emprego, da arrecadação de impostos e de gastos associados à seguridade social. Nos EUA, a tendência para os próximos anos é de queda da taxa de fecundidade e de aumento da taxa de mortalidade, o que pode dar à imigração um protagonismo ainda maior na determinação da dinâmica populacional americana.
As projeções apontam para mais 7,7 milhões de imigrantes de 2024 a 2026, alcançando média de 1,1 milhão por ano de 2027 em diante. Na próxima década, a imigração será responsável por 70% do crescimento populacional dos EUA, período no qual mais nascimentos que mortes contribuirão com os outros 30%. A partir de 2040 espera-se que a imigração seja responsável por todo o crescimento populacional.
Os EUA são o país com o maior número de imigrantes do mundo. Além de contribuir para o crescimento populacional, os imigrantes também são capazes de gerar inovação através de suas habilidades e qualificações, amplificando a produtividade econômica na melhor correspondência entre competências e empregos.
Apesar de uma análise recente dos últimos 140 anos de discursos políticos nos EUA revelar um enquadramento mais positivo com relação à imigração, os discursos de republicanos e democratas se tornaram mais distantes recentemente. Ao que tudo indica, a polarização política parece estar por trás de um foco tão desumanizante (e pouco científico) que está sendo dada essa importante questão nas eleições deste ano.
Economista-chefe do Banco BOCOM BBM e professora da EPGE (Escola Brasileira de Economia e Finanças) da FGV