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Opinião Econômica

- Publicada em 01 de Abril de 2024 às 20:00

Dúvidas do Copom

Pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia (FGV) e da Julius Baer Family Office (JBFO). É doutor em economia pela USP
Pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia (FGV) e da Julius Baer Family Office (JBFO). É doutor em economia pela USP
Há duas semanas, o Copom (Comitê de Política Monetária) reduziu a taxa básica de juros, a Selic, em 0,5 ponto percentual, de 11,25% para 10,75%.
Adicionalmente, o Copom, no seu comunicado após a decisão, escreveu que "os membros do Comitê, unanimemente, anteveem redução de mesma magnitude na próxima reunião e avaliam que esse é o ritmo apropriado para manter a política monetária contracionista necessária para o processo desinflacionário".
No comunicado da reunião anterior, lia-se: próximas reuniões, no plural. O Copom sinalizou que na próxima reunião, nos dias 7 e 8 de maio, reduzirá a taxa Selic para 10,25% e, pode, na reunião seguinte, reduzir o ritmo de queda de 0,5 para 0,25 ponto percentual.
Três fatores determinarão o ritmo da política monetária: 1) a evolução do processo inflacionário nos EUA e o possível ciclo de queda dos juros por lá; 2) o desempenho das contas públicas ao longo do ano e a resposta do Executivo a ele; 3) o comportamento da inflação de serviços.
Nos EUA, após sete leituras muito positivas, a inflação em janeiro e fevereiro veio um pouco salgada. Nada que preocupe, mas o suficiente para ser um banho de água fria no clima de "já ganhamos a batalha contra a inflação", que vigorou nos mercados em dezembro, quando Wall Street chegou a sinalizar sete cortes da taxa básica americana em 2024. Hoje o mercado acompanha a sinalização do banco central americano, de três cortes de 0,25 ponto percentual ao longo do ano.
No front fiscal, a dúvida maior é o grau de revisão da meta de primário que será feita provavelmente em maio. Se a revisão for muito intensa, por exemplo de uma meta de 0% do PIB para um déficit primário de 1%, o novo objetivo será atingido. Com o atingimento da meta, nenhum dos gatilhos e mecanismo autocorretivos previstos no novo arcabouço fiscal será acionado. A dinâmica da dívida pública sofrerá nova piora.
Finalmente, a inflação de serviços, excluindo o item muito volátil das passagens aéreas, rodou nos últimos três meses a mais de 6% ao ano. É fato que os aumentos dos serviços se concentram no início do ano. No entanto, quando olhamos em 12 meses, serviços rodam ainda a 5% ao ano.
Contribui para a preocupação com a inflação de serviços o mercado de trabalho muito apertado, com salários reais rodando a 4% ao ano, bem acima da produtividade.
Há sinais de que há alguma desaceleração na inflação de serviços e nos salários reais. A ver.
Por ora, a inflação aparenta fechar o ano em 3,5%, mas com uma configuração desfavorável: bens industriais, em razão da desinflação chinesa, rodando a 1%; alimentos a 3% (a inflação de hortifrutigranjeiros do início do ano deve reverter no outono); e serviços a 4,5%.
Não podemos descartar que a inflação se eleve em 2025. Nesse caso, após a taxa Selic atingir um mínimo ainda em 2024 de 9% a 9,5%, o Banco Central será forçado a iniciar novo ciclo de alta de juros em algum momento no segundo semestre de 2025.
A questão é que não vivemos um equilíbrio macroeconômico. A dívida pública em dezembro de 2026 será uns 10% a 12% do PIB maior do que em dezembro de 2022. Não está claro como arrumaremos as contas públicas. Os três pontos de atenção do Copom também serão importantes para determinar a dinâmica da dívida pública.