Corrigir texto

Se você encontrou algum erro nesta notícia, por favor preencha o formulário abaixo e clique em enviar. Este formulário destina-se somente à comunicação de erros.

Opinião Econômica

Opinião Econômica

- Publicada em 28 de Maio de 2023 às 20:07

Lula deve se concentrar mais com o Brasil

Rodrigo Zaidan
Rodrigo Zaidan
Presidentes têm egos grandes. Até aí nada demais. O problema é quando o ego interfere na condução do país. Lula parece estar caindo nessa armadilha. Parece estar querendo um protagonismo internacional em vez de tentar tirar o país da armadilha da renda média.
A única influência possível do Brasil viria pelo fato de fazer parte do grupo dos Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul). O que começou em 2001, como um termo criado pelo economista Jim ONeill, do Goldman Sachs, para descrever um conjunto de países que deveriam ser o motor do crescimento mundial, foi institucionalizado em várias direções (o termo inicialmente era Bric, pois não continha a África do Sul, que se juntou ao grupo em 2010).
O Novo Banco do Desenvolvimento, presidido por Dilma Rousseff desde março deste ano, começou como o Banco dos Brics. Desde 2009, esses países se encontram em um evento anual importante (o próximo acontece em agosto, na África do Sul), e há várias iniciativas, muitas delas capitaneadas pela China, como centros de estudos exclusivos sobre o tema.
Mas os Brics não existem, pelo menos não de forma coesa. Hoje o grupo não é muito mais que um mecanismo para que a China (e, de alguma forma, Índia) exerça sua influência diretamente, sem passar por EUA ou OCDE.
Quando o termo foi cunhado, os Brics eram um quinto do PIB mundial, dividido em 7,5% para a China, 4,5% para a Índia, 3,5% para Brasil e Rússia, cada um, e 1% para a África do Sul. Esperava-se que o bloco fosse chegar a 40% do PIB mundial até 2030. E isso provavelmente vai acontecer, mas somente graças a China e Índia.
Hoje, a China sozinha tem o mesmo peso na economia mundial que todos os Brics em 2001. A Índia? Pouco mais de 9%. Mas Brasil e Rússia são somente 2,5% cada um, aproximadamente, enquanto a África do Sul não passa de 0,6%. Ou seja, os Brics se dividem entre as lebres e as tartarugas, sendo que, nesse caso, as tartarugas não vão vencer a corrida.
China e Índia são os países que realmente mais importam no Brics. E qualquer acordo entre "países em desenvolvimento" só existe se a China concordar. É arrogância demais alguém achar que o Brasil tem o que fazer na resolução da guerra da Rússia contra a Ucrânia.
O Brasil, nessa história, vai ser marionete dos interesses chineses. O que pode não ser de todo mal, já que estar aliado ao grande Reino do Centro tem lá seus benefícios, ainda mais no processo atual de desacoplagem entre as economias da China e do Ocidente.
Lula parece que está querendo terminar seu mandato recuperando seu posto de "O Cara", título extremamente oficial concedido por presidentes americanos a colegas que contam com aprovação unânime entre seus pares. Mas o Brasil está cheio de problemas, e Lula, como excelente articulador, deveria concentrar-se mais no país que governa do que em se mostrar para os colegas do mundo.
Quanto mais tempo passa massageando seu ego em reuniões internacionais, menor a disponibilidade para tocar as suas medidas no Congresso. Já foram sete as viagens internacionais feitas pelo presidente. Mas qualidade importa mais que quantidade.
Arregaçando as mangas para trabalhar, melhorando o País, Lula pode deixar um legado importante. As chances de entregar o Brasil melhor são muito maiores do que a de que ter papel relevante em parar a violência russa. Quer voltar a ser "O Cara"? Trabalho duro. No país. Não há atalhos.
Professor da New York University Shanghai (China) e da Fundação Dom Cabral. É doutor em economia pela UFRJ